sexta-feira, novembro 11, 2005

DIA DE «SÃO» MARTINHO - CRISTIANIZAÇÃO DE UMA DATA PAGÃ CONSAGRADA AO DEUS DA GUERRA?


Estatueta de Marte encontrada nos Pirinéus, trajado à maneira romana mas contendo na sua indumentária elementos presumivelmente celto-hispânicos, tais como o elmo com três cornos e o touro representado no escudo a meio do corpo.

Suspeito que a festividade do dia de São Martinho possa ter uma raiz pagã.

Na lenda de «São Martinho», um cavaleiro romano chamado Martinho (por coincidência, «Martinho» deriva de Marte, Deus da Guerra) dá o seu manto (ou partilha-o, cortando-o pela metade, segundo outra versão da história) a um pobre, enregelado num dia de frio. Pouco depois, o Sol começa a brilhar.

Ora neste cenário, tem-se uma figura bélica, armada de lança, que, ao despir uma peça de roupa, fica exposta e provoca o surgimento de luz e calor ( Sol).

Isto faz pensar num Deus bélico luminoso, lembrando a fúria guerreira do típico herói celta (a ferg), como o irlandês Cuchulain, que, em edstado de ira marcial, parece emitir bolas de fogo a partir do crânio, motivo pelo qual tem de ser mergulhado em tinas de água fria após a batalha para não se tornar nocivo ao seu próprio povo.

Na Celtibéria, o autor Macróbio escreveu, no século IV d.c., que o povo dos Accitani prestava culto a Neton, uma espécie de Marte (isto é, um Deus da Guerra, porque os Gregos e os Romanos, para se referirem ao significado e função de uma Divindade estrangeira, equacionavam-Na com um Deus grego/romano, como quem diz «Aquele é o Marte deles») ornado de raios (isto é, que emitia um brilho intenso).

No campo da Arqueologia, encontraram-se pelo menos quatro inscrições dedicadas a esta Deidade, uma em Cáceres (Netoni), outra em Conímbriga (Netus), outra em Binéfar(Neito) e a quarta em Botorrita (Neitin).
Na Irlanda céltica, há um Deus da Guerra denominado, precisamente, Net ou Neit (aparece com as duas grafias).

Não creio que a semelhança do nome e da função seja mera coincidência - o hispânico Neton e o irlandês Net devem realmente ser O mesmo.

Recorde-se também o ritual de batalha de certo tipo de guerreiros celtas (na Gália, os Gaesatae) que iam nus para o combate, armados apenas de dardos, com o intuito de atemorizar o inimigo. Ora estes guerreiros combatiam nus por causa do calor que supostamente emanava dos seus corpos em batalha.

Entre os Germanos, também existia este tipo de combatentes, nus no campo de batalha, consagrados a Odin, Deus do Furor e do Êxtase Guerreiro.


E, ao acabar de escrever esta parte, fiz uma pesquisa no yahoo e constatei que as minhas divagações não estavam muito longe da verdade (é como eu digo, a divagar se vai ao longe), ora veja-se aqui (procurar «St. Martin») e neste sítio também, onde se verifica mais uma coincidência entre o mito de Martinho e o culto de Marte - o ganso como símbolo.

Com isto, fiquei a saber que o «santo» era daqueles que andava a destruir templos pagãos. Bate certo com o que se conhece da evangelização pelo crucificado: intolerância e usurpação.

6 Comments:

Blogger Suevo said...

Caro Caturo

Como tu defendes a identidade nacional pos-1143 não devias falar em paganismo ,afinal de contas a nação portuguesa sempre foi catolica desde a sua fundação! Como bom nacionalista portugues devias ser catolico :D

Tenho a certeza que tu percebeste muito bem onde eu quiz chegar :)

Saudações!

12 de novembro de 2005 às 00:25:00 WET  
Blogger Caturo said...

Caro JAPMG, estás enganado.
A verdade é precisamente o oposto do que disseste.
Eu defendo a identidade nacional desde sempre, isto é, desde que ela se começa a formar, o que, quanto a mim, acontece pelo menos desde a fusão entre indígenas e Romanos, senão mesmo antes, já que, possivelmente, a nossa identidade mais profunda tem mais a ver com Lusitanos, Galaicos, Celtici, Túrdulos, Cónios (numa expressão, indígenas pré-romanos) do que com o Lácio (mas isto é outra discussão).

Ora, nessa época de fusão, a (nota bem)

estirpe da faixa ocidental ibérica

era pagã.

Não há, ao contrário do que pensas, uma diferença radical entre Lusitânia e Galiza. Pelo contrário - já Estrabão dizia, na sua obra «Geographia», que os Galaicos e os Lusitanos eram em tudo «nações irmãs».
Todos os linguistas e historiadores confirmam esta proximidade, desde os tempos pré-romanos, havendo mesmo quem diga que a diferença linguística entre Lusitanos e Galaicos era meramente dialectal.

E, já que falaste em Paganismo, toma nota que algumas das Divindades mais importantes do noroeste ibérico eram adoradas tanto por Lusitanos como por Galaicos, mas não eram adoradas muito além desse âmbito do noroeste. Refiro-me a Reva, a Nabia, a Cosus e a Band, sendo que esta última tem especial significado uma vez que seria uma Deidade especificamente nacional, protectora da comunidade.

Saudações Portugalaicas;)

12 de novembro de 2005 às 14:40:00 WET  
Blogger Suevo said...

Caro Caturo

As diferenças existem, mas não vale a pena falar da cultura castreja por exemplo porque tu decerto estás informado sobre isso.
Em relação aos deuses que referiste,desses quatro, tres deles seguiram o caminho norte/sul ou seja passaram dos galaicos para os lusitanos, refiro-me a Bandue,Cosus e Nabia, já Reva creio ser mesmo originario dos territorios de Emerita Augusta.
E disse Bandue porque creio que era assim que lhe chamavam a norte do Douro, pelos menos é o que está escrito numas imagens que tenho aqui.

Portugaliza? Isso ja sao influencias do Pedro Caçorino, queres meter os Galegos à força na CPLP ;)

[]

13 de novembro de 2005 às 01:06:00 WET  
Blogger Caturo said...

A referência à cultura castreja também não está má, sobretudo porque a Lusitânia pode, em certa medida, ser incluída nessa cultura... olha que mesmo perto de Lisboa, há o castro de Leceia...;)

Sobre as Divindades que referi, não sei se passaram dos Galaicos para os Lusitanos ou dos Lusitanos para os Galaicos, ou se, mais provavelmente, chegaram ao Ocidente ibérico ao mesmo tempo que os antepassados comuns dos Lusitanos e dos Galaicos.

Quanto a Reva, era adorado/a precisamente nas zonas mais montanhosas da Calaécia e da Lusitânia, particularmente na serra do Larouco. Também se encontraram inscrições em Sua honra na zona da Beira Baixa (coração da Lusitânia).


A respeito de Band, aparece escrito com várias grafias, sendo uma delas Bandua, outra é Bandue, ainda outra é Bandis, etc..

No que toca ao caso da Portugaliza, não quero de modo algum meter a Galiza na CPLP - pelo contrário: quero é reunir Galaicos e Portugueses num Estado mais forte, maior, menos susceptível de se ligar aos países lusófonos não europeus.

13 de novembro de 2005 às 03:41:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

O castro de Leceia não tem nada a ver com cultura castreja (designação já em desuso pela arqueologia), pois a sua ocupação decorreu apenas entre o neolítico e o calcolítico final (campaniforme). A questão é que desde sempre tudo o que é povoado fortificado no cimo de um monte é chamado de "castro", e não apenas os povoados da idade do ferro. É também por isto que tal designação de "Cultura Castreja" caíu em desuso, continuando, no entanto, a ser utilizada por uns tantos "fósseis directores"...

14 de novembro de 2005 às 20:16:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

«Band, aparece escrito com várias grafias, sendo uma delas Bandua, outra é Bandue, ainda outra é Bandis»

Daí que se chamem band a um grupo: "band of brothers" ou aos "bandits".

14 de novembro de 2005 às 20:26:00 WET  

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