ATÉ AO NÍVEL DO BEM MAIS PRECIOSO
Golfe absorve tanta água como 60% da população
O abastecimento - maioria dos campos recorre a captações subterrâneas - empresários dizem que gastos baixaram 50%.
Para regar os 31 campos de golfe actualmente existentes no Algarve é necessário um volume de água equivalente ao consumo de uma cidade com 240 mil habitantes - ou seja, cerca de 60% da população residente na região -, indica um estudo universitário. Numa fase em que se agrava a escassez de recursos e 75% do território nacional está em situação de seca extrema, os ambientalistas apontam o dedo à dependência excessiva dos empreendimentos em relação a captações subterrâneas, enquanto a associação representativa dos empresários minimiza os gastos e salienta estarem em curso medidas de poupança.
"Este ano a procura dos campos de golfe algarvios aumentou cerca de 10%, mas isso não se reflectiu nos gastos de água", acentua Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). "Aliás, conseguimos atingir cerca de 30% de redução nos consumos da população flutuante e 40 a 50% nos campos de golfe".
O dirigente associativo considera "estranho" que os olhares se centrem na factura do golfe, quando o sector agrícola é o que mais água absorve no Algarve - 73 a 75%, de acordo com variados estudos da universidade da região e de organismos oficiais. "Se compararmos a rentabilidade de um campo de golfe com a de idêntica área de regadio, não faz sequer sentido colocar o primeiro como mau da fita", sustenta Elidérico Viegas.
Argumentos que não convencem a Almargem, que salienta o facto de os empreendimentos se concentrarem no eixo Albufeira-Loulé-Faro, "precisamente onde há maior escassez de recursos hídricos e onde a precipitação é menor". A associação ambientalista contesta igualmente a fatia do bolo atribuída ao sector agrícola, considerando que muitas áreas avaliadas nos estudos oficiais estão já abandonadas e que a rega de citrinos se realiza actualmente "de forma muito mais eficiente do que nos golfes, por recorrer a sistemas de gota-a-gota".
Estações próprias
Carlos Cabrita, responsável da Almargem para a área dos recursos hídricos, lembra que só uma pequena minoria dos campos usa águas superficiais, recorrendo a protocolos com as associações de regantes. Por outro lado, apenas um recorre exclusivamente a água residuais tratadas e são poucos os que usam esse sistema como complemento, apesar de investimentos em estações próprias feitos, nalguns casos, "com financiamentos públicos".
Essa é uma das falhas detectadas num estudo sobre o golfe efectuado, no ano passado, pela Universidade do Algarve, que aponta igualmente a necessidade de serem aplicados sistemas de rega mais adequados, em alternativa ao comum - por aspersão. O documento indica soluções técnicas que poderiam reduzir os gastos de água, identificando "diferenças tecnológicas consideráveis ao nível do controlo da rega" nos campos analisados. A título de exemplo, refere que apenas quatro dispunham de estação meteorológica para ajudar no cálculo dos parâmetros de rega.
Além de considerar "crítico o facto de a origem do abastecimento" depender excessivamente da captação de águas subterrâneas, o estudo aponta outro risco a salinização do solo e consequente contaminação dos aquíferos, particularmente "vulneráveis à contaminação salina quando se situam no litoral, devido a avultadas captações aí efectuadas".
Factores identificados, de resto, na generalidade dos estudos de impacte ambiental, que apontam consequências negativas e de carácter permanente no plano da hidrogeologia e dos recursos hídricos superficiais. Até porque, da área total ocupada pelos campos em funcionamento, 71,7% está sobre sistemas aquíferos.
A somar a todos estes impactos, a Almargem acrescenta o facto de o golfe ser cada vez mais "um negócio imobiliário" e de os turistas "consumirem, em média, 440 litros de água por dia, contra os 250 da população residente". Números que "podem mesmo atingir os 880 litros, se contabilizarmos as piscinas e outras comodidades auferidas pelos turistas que praticam golfe".
Elidérico Viegas concorda que o golfe é uma indústria (que gasta, aliás, mais do dobro de água do sector industrial da região), mas no sentido economicamente positivo do termo "É uma indústria pela riqueza que gera e pelos bens que atrai".
Enquanto isso, o corte de água afecta já cem mil portugueses, e o Algarve é precisamente a zona mais prejudicada pela escassez de água.
Uma situação destas constitui mais uma achega para fazer de Portugal um país terceiro-mundista - o povo sofre já ao nível da seca e das necessidades essenciais (higiene, alimentação, combate aos fogos) para que uma elite sócio-económica possa usufruir dos luxos mais requintados e obscenamente caros (e que, para cúmulo do descaramento vergonhoso, atreve-se a aconselhar a população a poupar água: «poupem água lá nas coisinhas das vossas vidinhas para que nos possamos divertir como gente civilizada»). A elituga acha giro imitar o estilo «Britche», esquecendo ou pura e simplesmente não querendo saber que Portugal não tem a mesma humidade nem as mesmas necessidades da velha Albion.
O abastecimento - maioria dos campos recorre a captações subterrâneas - empresários dizem que gastos baixaram 50%.
Para regar os 31 campos de golfe actualmente existentes no Algarve é necessário um volume de água equivalente ao consumo de uma cidade com 240 mil habitantes - ou seja, cerca de 60% da população residente na região -, indica um estudo universitário. Numa fase em que se agrava a escassez de recursos e 75% do território nacional está em situação de seca extrema, os ambientalistas apontam o dedo à dependência excessiva dos empreendimentos em relação a captações subterrâneas, enquanto a associação representativa dos empresários minimiza os gastos e salienta estarem em curso medidas de poupança.
"Este ano a procura dos campos de golfe algarvios aumentou cerca de 10%, mas isso não se reflectiu nos gastos de água", acentua Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). "Aliás, conseguimos atingir cerca de 30% de redução nos consumos da população flutuante e 40 a 50% nos campos de golfe".
O dirigente associativo considera "estranho" que os olhares se centrem na factura do golfe, quando o sector agrícola é o que mais água absorve no Algarve - 73 a 75%, de acordo com variados estudos da universidade da região e de organismos oficiais. "Se compararmos a rentabilidade de um campo de golfe com a de idêntica área de regadio, não faz sequer sentido colocar o primeiro como mau da fita", sustenta Elidérico Viegas.
Argumentos que não convencem a Almargem, que salienta o facto de os empreendimentos se concentrarem no eixo Albufeira-Loulé-Faro, "precisamente onde há maior escassez de recursos hídricos e onde a precipitação é menor". A associação ambientalista contesta igualmente a fatia do bolo atribuída ao sector agrícola, considerando que muitas áreas avaliadas nos estudos oficiais estão já abandonadas e que a rega de citrinos se realiza actualmente "de forma muito mais eficiente do que nos golfes, por recorrer a sistemas de gota-a-gota".
Estações próprias
Carlos Cabrita, responsável da Almargem para a área dos recursos hídricos, lembra que só uma pequena minoria dos campos usa águas superficiais, recorrendo a protocolos com as associações de regantes. Por outro lado, apenas um recorre exclusivamente a água residuais tratadas e são poucos os que usam esse sistema como complemento, apesar de investimentos em estações próprias feitos, nalguns casos, "com financiamentos públicos".
Essa é uma das falhas detectadas num estudo sobre o golfe efectuado, no ano passado, pela Universidade do Algarve, que aponta igualmente a necessidade de serem aplicados sistemas de rega mais adequados, em alternativa ao comum - por aspersão. O documento indica soluções técnicas que poderiam reduzir os gastos de água, identificando "diferenças tecnológicas consideráveis ao nível do controlo da rega" nos campos analisados. A título de exemplo, refere que apenas quatro dispunham de estação meteorológica para ajudar no cálculo dos parâmetros de rega.
Além de considerar "crítico o facto de a origem do abastecimento" depender excessivamente da captação de águas subterrâneas, o estudo aponta outro risco a salinização do solo e consequente contaminação dos aquíferos, particularmente "vulneráveis à contaminação salina quando se situam no litoral, devido a avultadas captações aí efectuadas".
Factores identificados, de resto, na generalidade dos estudos de impacte ambiental, que apontam consequências negativas e de carácter permanente no plano da hidrogeologia e dos recursos hídricos superficiais. Até porque, da área total ocupada pelos campos em funcionamento, 71,7% está sobre sistemas aquíferos.
A somar a todos estes impactos, a Almargem acrescenta o facto de o golfe ser cada vez mais "um negócio imobiliário" e de os turistas "consumirem, em média, 440 litros de água por dia, contra os 250 da população residente". Números que "podem mesmo atingir os 880 litros, se contabilizarmos as piscinas e outras comodidades auferidas pelos turistas que praticam golfe".
Elidérico Viegas concorda que o golfe é uma indústria (que gasta, aliás, mais do dobro de água do sector industrial da região), mas no sentido economicamente positivo do termo "É uma indústria pela riqueza que gera e pelos bens que atrai".
Enquanto isso, o corte de água afecta já cem mil portugueses, e o Algarve é precisamente a zona mais prejudicada pela escassez de água.
Uma situação destas constitui mais uma achega para fazer de Portugal um país terceiro-mundista - o povo sofre já ao nível da seca e das necessidades essenciais (higiene, alimentação, combate aos fogos) para que uma elite sócio-económica possa usufruir dos luxos mais requintados e obscenamente caros (e que, para cúmulo do descaramento vergonhoso, atreve-se a aconselhar a população a poupar água: «poupem água lá nas coisinhas das vossas vidinhas para que nos possamos divertir como gente civilizada»). A elituga acha giro imitar o estilo «Britche», esquecendo ou pura e simplesmente não querendo saber que Portugal não tem a mesma humidade nem as mesmas necessidades da velha Albion.
2 Comments:
No outro dia também vinha na Grande Reportagem uma notícia sobre a falta de água numa aldeia transmontana. O curioso é que, enquanto a população só tinha água umas horas por dia (ou com recurso a auto-tanques, já não me lembro), um sr. deputado que tem lá casa não dispensava a rega do jardim e a piscina bem cheia. Tudo a bem das populações, naturalmente.
Se calhar, o iluminado que disse isso a esta hora já é comendador ou algo do género.
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