sexta-feira, novembro 26, 2004

A ESSÊNCIA NACIONAL



O Dr. António Cruz Rodrigues, do blogue Aliança Nacional, critica-me por atacar o Cristianismo, quando, na verdade, tudo o que tenho feito no Gladius a respeito do tema, tem consistido em afirmar que a religião do judeu crucificado não pode ser dada como elemento inseparável da Portugalidade – e explico sempre porquê: a Nação é uma questão de herança, de nascimento, enquanto a religião cristã é uma matéria de escolha pessoal, individual, motivo pelo qual não se pode partir do princípio de que toda uma Nação, composta de indivíduos com personalidades e tendências naturalmente diferentes, pode à partida ser considerada como inerententemente cristã.
Apesar de certos hábitos históricos estrategicamente disseminados pelos arautos da cruz bíblica, a luminosidade da lógica deixa exposto que atribuir índole cristã a uma Nação, seria o mesmo que dizer que determinada família é indefectivelmente social-democrata e que, por isso, todos os seus recém-nascidos devem ser inscritos no PSD.

Contra isto, nunca vi um único argumento de peso.
Só acusações de que ataco o Cristianismo.
Mas como?
Considera-se que ataco o Cristianismo só porque o ponho no seu devido lugar?
Considera-se que ataco o Cristianismo só porque não lhe reconheço o direito a qualquer espécie de trono a não ser aquele que os seus fiéis, individualmente, lhe quiserem dar, sem com isso vincularem as suas nações e famílias?
Considera-se que ataco o Cristianismo só porque deixo clara a separação entre Cristianismo e Nacionalismo, sem que o segundo tenha de estar subjugado ao primeiro?

ACR confia no poder que a Igreja tem ainda sobre o Povo Português. Felizmente, tal influência estrangeira está a decair...

Afirma depois que as Nações «se constroem ao longo do tempo com variadas gentes», fazendo eco dos que negam a existência de uma essência nacional, que defina a origem do Povo. Contra isso, mantenho o que tenho dito: uma Nação define-se à partida pela raça e pela etnia que a constitui na sua raiz.
Efectivamente, do mesmo modo que Portugal não seria Portugal se um dia o seu idioma deixasse de ser o Português e passasse a ser, por exemplo, o Kimbundo, ou o Inglês, também Portugal não seria Portugal se o seu povo deixasse de ser branco europeu e passasse a ser mulato ou negro.
O Português recebeu influências a nível lexical do Inglês, é certo; mas é ainda Português e não Inglês.
Análoga observação se pode fazer a respeito da raça do País: a população nacional recebeu influências não europeias, mas não ao ponto de deixar de ser branca europeia.

Isto é claro e cristalino como água e não vi nunca, em momento algum, fosse quem fosse a contestá-lo com argumentos credíveis.

Assim, a Nação é de facto uma essência que vem da origem, imutável na sua definição e, em perdendo-se essa essência, perde-se, automática e inequivocamente, a Nação.

ACR remete para o que escreveu o Corcunda no dia 18 deste mês. Pretende ACR que o Corcunda «desmontou de modo perfeitamente arrasador» o Nacionalismo que defendo, chamando-lhe «Vimaranense».
Pois bem, nesse caso eu remeto para as respostas que dei ao Corcunda, na página deste, precisamente a esse artigo, ponto por ponto, desmontando no essencial a sua crítica ao meu Nacionalismo.

Acresce que, dessa vez, o Corcunda não respondeu à pergunta que lhe fiz e que agora repito, desta feita à atenção de ACR:
«Considera porventura que um português não cristão é menos português por isso?...»

Mas o que se afigura deveras curioso é o modo como ACR e o Corcunda pretendem usar dois pesos e duas medidas na definição da Nação.
Assim, para eles, a Nação pode mudar de raça e de etnia, ao longo dos tempos, porque isto é assim mesmo, é histórico.
Mas não pode mudar de religião...
Por esse andar, ACR e Corcunda poderiam (teoricamente sem qualquer impedimento) estabelecer-se em Cabo Verde e erigir aí um sistema nacionalista à sua maneira e chamar-lhe «regime nacionalista português» - aí, teriam:
- o Catolicismo,
- um idioma semelhante ao Português,
- uma gente que ali vive devido tão somente ao Império Português.

Se ao meu Nacionalismo quiserem chamar «Vimaranense», com muito mais razão se chamará à sua doutrina de Nacionalismo Cabo-Verdeano.


Pelo caminho, fica mais uma acusação, a de que há da nossa parte um elitismo social e político quando falo do carpinteiro morto e crucificado. Mas onde vê ACR o elitismo social? Não é verdade que JC foi carpinteiro? Será um desprestígio para o auto-proclamado filho de Deus o ser carpinteiro?
Bem se vê, neste caso, de que lado está o elitismo social...

Pretende ACR que com as ideias que defendo, não será «politicamente consequente» querer mobilizar adeptos para o Nacionalismo.
Enfim, o que é facto é que cresce o número de Nacionalistas etnicistas, isto é, verdadeiros Nacionalistas, numa Frente Nacional que segue em marcha cada vez mais acelerada. Pelos vistos, há mesmo consequências políticas...

Termina com uma alusão ao «passado do activismo político» que preconizo, mas não especifica ao que se refere.
De qualquer modo, ara quê falar em passados políticos, neste caso, quando o passado do activismo político por ACR defendido mais não tem feito, desde a derrota política em Abril de 1974, do que reunir saudosistas em encontros e jantares?




2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Brilhante Caturo!Confesso que lhe admiro a paciência para discutir certas coisas com determinados blogues,mas sendo assim esta resposta está perfeita.

Eu sou cristão e subscrevo na totalidade os seus argumentos.O grande problema é que alguns,felizmente poucos,acham que a missão de Portugal no mundo é evangelizar,disseminar o catolicismo,como se o interesse supremo da pátria fosse o de servir o Vaticano.

27 de novembro de 2004 às 17:51:00 WET  
Blogger Caturo said...

Saúdo-o, camarada, pela sua lucidez e por ter percebido que eu não pretendo de modo algum marginalizar os portugueses cristãos, como ACR tenta fazer crer, antes pelo contrário.

Saudações Nacionais e Desfraldemos a Invicta Bandeira à Luz Viva do Nosso Céu, como diz o Hino Nacional, seja Quem for que Lá esteja em Cima.

29 de novembro de 2004 às 02:26:00 WET  

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