Futilidades, Cultura Pop, Super-heróis, enfim, não leiam se procuram apenas política e «assuntos sérios».
João Pereira Coutinho, na sua secção em estilo de blogue, sita na revista Maxmen, resolveu mandar umas bocas sobre a banda desenhada de super-heróis.
JPC fez uma análise que é correcta em grande parte dos casos, mas que se torna simplista e mesmo simplória quando aplicada à essência do tema.
Neste meu texto, as partes das introduções vão em itálico para facilitar o pensamento a quem se perder na leitura.
Considero, de um modo geral, que a influência cultural americana é nociva à Europa e que a sua bastardia, ultra kitsh devido à sua quase completa ausência de raizes - e, por vezes, mesmo revoltosa contra as próprias raizes milenares do seu sangue, ou não fossem os Americanos, em grande parte, descendentes de europeus repelidos pela e zangados com a Europa - deve ser sempre colocada em segundo plano quando concorrer com a europeia.
Dito isto, tenho também de dizer que há mais coisas entre as páginas da b.d. super-heroística do que alguns possam pensar.
É verdade que existe por ali muito kitsch e muita escrita de má qualidade, alguma falta de cultura por vezes. De resto, é também verdade que - falando de um modo geral e no que respeita ao aspecto intelectual - em todos os estilos há lugar para todos os degraus entre o esgoto e o pico da montanha mais sublime.
A história de super-heróis consiste pura e simplesmente numa narrativa de acção cujo herói é um indivíduo uniformizado dedicado a combater as injustiças.
Um super-herói é pois uma espécie de super-polícia ou de super-soldado.
O brilho e esplendor tantas vezes frequente nos uniformes de super-heróis, adicionado ao seu carácter de guerreiros por conta e consciência própria, só lhes dá um ar mais cavaleiresco: são, por assim dizer, uma moderna encarnação (da imagem romântica) dos cavaleiros medievais.
O que há de particularmente idiota nisto? À partida, nada.
O que impede a realização de obras de arte neste género de ficção? À partida, nada.
O facto de, em princípio, os super-heróis possuírem super-poderes (daí, o termo «super-») isto é, capacidades físicas e/ou mentais e/ou tecnológicas supra-humanas, coloca este estilo de ficção no campo da Fantasia - trata-se pois de um sub-género da Fantasia, a par da Ficção Científica (Guerras nas Estrelas), da Espada e Feitiçaria (Conan, Senhor dos Anéis), dos Contos de Fadas (Cinderela), das Viagens Fantásticas (Gulliver, Alice no País das Maravilhas), do Sobrenatural (Drácula).
Não tem pois a intenção de «parecer real», embora lhe fique bem uma certa verosimilhança, mas dentro de uma lógica na qual cabem coisas que não existem no mundo real.
A intenção é, à partida, divertir, fazer voar a imaginação, deslumbrar.
Que não se goste de tal tipo de alienação, é uma coisa, mas que se diga que os super-heróis são uma cretinice porque «aquilo não é possível», é por demais absurdo. Quem não gosta de Fantasia, não gosta, que não consuma, acabou, fora de cena quem não é de cena.
Por isso é que não percebo o que diz JPC quando afirma, depois de invocar S. Tomé, que não se pode acreditar nos super-heróis.
Mas acreditar como? Acreditar na sua existência?
Mas algum petiz normal com mais de dez anos de idade acredita que existe uma chusma de guerreiros urbanos que voam, deitam lume pelas gânfias e combatem criminosos?
Ou acreditar noutro sentido qualquer... como se alguém quisesse transformar em profetas ou em modelos de virtude certas figuras do imaginário pop como Super-homem, Homem-Aranha, Batman, Mulher Maravilha, quem sabe?...
Aliás - ainda bem que não existem super-heróis. Se existissem, não teria vontade, falando por mim, de ler as suas aventuras - prestar atenção a tais epopeias seria vagamente semelhante a acompanhar as vivências íntimas das figuras públicas nas revistas da moda - teria um certo ar de subserviência...
Ler histórias de super-heróis não serve para nada, dirão. Falar sobre os ditos, muito menos.
E ver jogos de futebol, para que serve? E ir para a televisão, de gravata, falando com tromba séria em horário nobre, sobre a magna problemática de saber se num jogo qualquer foi ou não foi penálti, para que serve isso?
Para nada - a não ser para puro divertimento. Não tem a importância da política ou da religião, mas também não é para ter. É só para divertir.
As histórias de super-heróis são frequentemente imbecis, é certo - pudera, escritas por americanos... aliás, eles próprios o sabem, os yankes, e é por isso que, a dada altura, as editoras de super-heróis começaram a dar prioridade a autores ingleses, tais como Alan Moore.
Será que a cretinice de algum romance de cordel, de emotividade pimba, tira valor a Romeu e Julieta? Enfim, ambas são produções literárias agrupáveis no género de Histórias de Amor...
Um género de leitura não é nem brilhante nem idiota à partida. É só um imenso campo de potencialidades com as quais os autores poderão criar novos mundos - como na teogonia grega os primeiros Seres deram forma ao Universo a partir do Caos (que significa, à letra, «abertura», isto é, estado em que tudo é potencial, e não necessariamente desordem e destruição).
Na revista Maxmen, ou JPC ou alguém da redacção resolveu ilustrar as linhas do autor a respeito do tema com um desenho representando Capitão América a esmurrar Caveira Vermelha, um «nazi»... é sintomático o modo como foram buscar um dos exemplos mais kitsch da b.d. de super-heróis. Nada disso se compara com obras da qualidade de «Batman, Cavaleiro das Trevas», de Frank Miller, ou com «Watchmen» e com «A Liga dos Cavalheiros Extraordinários»(não confundir com o filme, que, não sendo mau de todo, atira no entanto para o lado da palhaçada infantilizante) do acima citado Alan Moore.
Super-heróis é coisa de Anglo-Saxões, visto que os países onde tal tipo de leitura tem mais êxito são os E.U.A. e o Reino Unido; certo escriba internético, que assina a coluna «Fool Britania» no site «Silver Bullet», pretende explicar isso, recorrendo para o efeito ao facto de os protestantes terem sido privados da rica pluralidade dos santos - segundo o autor, isso fez com que precisarem de encher a imaginação com uma diversidade de figuras, de ícones quase veneráveis. Em França e na Bélgica, a b.d. é de mais alta qualidade, mais cuidada e muito mais respeitada. Não há quase nenhum super-herói em França, na Bélgica, na Itália, países do mais refinado bom gosto.
Eles, Anglo-Saxões, em cuja(s) cultura(s) surgiram os super-heróis, é que lutam, mal ou bem, inteligente ou estupidamente, só eles, no Ocidente, é que estão dispostos a pegar em armas. Eles acham bem que se use uniforme e se faça justiça, a tempo inteiro, com o poder da força e a legitimidade da ética.
A intelectualada de excelentíssimo sentido crítico franze o focinho num sorrisinho espertó-saloio perante este tipo de mentalidade, porque, como eles bem sabem, as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, só têm é de convencer os islâmicos radicais (e os criminosos de rua também) disso mesmo, depois tudo correrá bem e o mundo será para sempre um paraíso; as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, mas se lhes metem uma bomba em casa, eles aceitam obedecer ao que os bombistas lhes mandam fazer; as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, mas se lhes mandam ir para a rua berrar, em rebanho, para que os terroristas não matem três reféns, eles obedecem prontamente, vão imediatamente para a estrada ladrar, conforme lhes manda o dono - seria de louvar se se tratasse apenas de uma questão de salvamento de vidas do seu próprio povo, mas o degradante disto é que nunca se revoltam contra quem os chantageia desse modo.
De facto, as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, só é pena é eles ficarem todos contentes com a derrota militar do Nacional-Socialismo e do Fascismo: se não se esquecessem, por momentos, de ser coerentes, diriam que nunca os aliados deviam ter feito frente bélica a Hitler e a Mussolini, mas tão somente dialogado. Cá no burgo, voltam a esquecer-se disso a respeito do 25 de Abril, que foi feito por militares de armas na mão, e não por tranquilos dialogantes que, em amena cavaqueira, tenham convencido Marcello Caetano e a Pide a abdicarem do poder.
Ou talvez pensem, sem se atreverem a dizê-lo frontalmente, que as armas só devem ser usadas quando se combate contra irmãos; quando se tem de enfrentar gente de raças estranhas, deve-se, pelo contrário, ser bonzinho e até dar a outra face se preciso for... pois... quem não os conhecer, que os compre.
Talvez eu continue este já longo artigo, se me apetecer ou se me lembrar de algo mais para dizer sobre o assunto, sabendo, claro, que quanto mais o prolongar mais desencorajo os potenciais leitores, dado que, actualmente, poucos se dispõem a ler um texto com mais de vinte linhas (se eu pudesse escrever partes do texto com corzinhas diferentes, fazia-o, caro leitor, para facilitar a leitura, mas não posso, lamento).
JPC fez uma análise que é correcta em grande parte dos casos, mas que se torna simplista e mesmo simplória quando aplicada à essência do tema.
Neste meu texto, as partes das introduções vão em itálico para facilitar o pensamento a quem se perder na leitura.
Considero, de um modo geral, que a influência cultural americana é nociva à Europa e que a sua bastardia, ultra kitsh devido à sua quase completa ausência de raizes - e, por vezes, mesmo revoltosa contra as próprias raizes milenares do seu sangue, ou não fossem os Americanos, em grande parte, descendentes de europeus repelidos pela e zangados com a Europa - deve ser sempre colocada em segundo plano quando concorrer com a europeia.
Dito isto, tenho também de dizer que há mais coisas entre as páginas da b.d. super-heroística do que alguns possam pensar.
É verdade que existe por ali muito kitsch e muita escrita de má qualidade, alguma falta de cultura por vezes. De resto, é também verdade que - falando de um modo geral e no que respeita ao aspecto intelectual - em todos os estilos há lugar para todos os degraus entre o esgoto e o pico da montanha mais sublime.
A história de super-heróis consiste pura e simplesmente numa narrativa de acção cujo herói é um indivíduo uniformizado dedicado a combater as injustiças.
Um super-herói é pois uma espécie de super-polícia ou de super-soldado.
O brilho e esplendor tantas vezes frequente nos uniformes de super-heróis, adicionado ao seu carácter de guerreiros por conta e consciência própria, só lhes dá um ar mais cavaleiresco: são, por assim dizer, uma moderna encarnação (da imagem romântica) dos cavaleiros medievais.
O que há de particularmente idiota nisto? À partida, nada.
O que impede a realização de obras de arte neste género de ficção? À partida, nada.
O facto de, em princípio, os super-heróis possuírem super-poderes (daí, o termo «super-») isto é, capacidades físicas e/ou mentais e/ou tecnológicas supra-humanas, coloca este estilo de ficção no campo da Fantasia - trata-se pois de um sub-género da Fantasia, a par da Ficção Científica (Guerras nas Estrelas), da Espada e Feitiçaria (Conan, Senhor dos Anéis), dos Contos de Fadas (Cinderela), das Viagens Fantásticas (Gulliver, Alice no País das Maravilhas), do Sobrenatural (Drácula).
Não tem pois a intenção de «parecer real», embora lhe fique bem uma certa verosimilhança, mas dentro de uma lógica na qual cabem coisas que não existem no mundo real.
A intenção é, à partida, divertir, fazer voar a imaginação, deslumbrar.
Que não se goste de tal tipo de alienação, é uma coisa, mas que se diga que os super-heróis são uma cretinice porque «aquilo não é possível», é por demais absurdo. Quem não gosta de Fantasia, não gosta, que não consuma, acabou, fora de cena quem não é de cena.
Por isso é que não percebo o que diz JPC quando afirma, depois de invocar S. Tomé, que não se pode acreditar nos super-heróis.
Mas acreditar como? Acreditar na sua existência?
Mas algum petiz normal com mais de dez anos de idade acredita que existe uma chusma de guerreiros urbanos que voam, deitam lume pelas gânfias e combatem criminosos?
Ou acreditar noutro sentido qualquer... como se alguém quisesse transformar em profetas ou em modelos de virtude certas figuras do imaginário pop como Super-homem, Homem-Aranha, Batman, Mulher Maravilha, quem sabe?...
Aliás - ainda bem que não existem super-heróis. Se existissem, não teria vontade, falando por mim, de ler as suas aventuras - prestar atenção a tais epopeias seria vagamente semelhante a acompanhar as vivências íntimas das figuras públicas nas revistas da moda - teria um certo ar de subserviência...
Ler histórias de super-heróis não serve para nada, dirão. Falar sobre os ditos, muito menos.
E ver jogos de futebol, para que serve? E ir para a televisão, de gravata, falando com tromba séria em horário nobre, sobre a magna problemática de saber se num jogo qualquer foi ou não foi penálti, para que serve isso?
Para nada - a não ser para puro divertimento. Não tem a importância da política ou da religião, mas também não é para ter. É só para divertir.
As histórias de super-heróis são frequentemente imbecis, é certo - pudera, escritas por americanos... aliás, eles próprios o sabem, os yankes, e é por isso que, a dada altura, as editoras de super-heróis começaram a dar prioridade a autores ingleses, tais como Alan Moore.
Será que a cretinice de algum romance de cordel, de emotividade pimba, tira valor a Romeu e Julieta? Enfim, ambas são produções literárias agrupáveis no género de Histórias de Amor...
Um género de leitura não é nem brilhante nem idiota à partida. É só um imenso campo de potencialidades com as quais os autores poderão criar novos mundos - como na teogonia grega os primeiros Seres deram forma ao Universo a partir do Caos (que significa, à letra, «abertura», isto é, estado em que tudo é potencial, e não necessariamente desordem e destruição).
Na revista Maxmen, ou JPC ou alguém da redacção resolveu ilustrar as linhas do autor a respeito do tema com um desenho representando Capitão América a esmurrar Caveira Vermelha, um «nazi»... é sintomático o modo como foram buscar um dos exemplos mais kitsch da b.d. de super-heróis. Nada disso se compara com obras da qualidade de «Batman, Cavaleiro das Trevas», de Frank Miller, ou com «Watchmen» e com «A Liga dos Cavalheiros Extraordinários»(não confundir com o filme, que, não sendo mau de todo, atira no entanto para o lado da palhaçada infantilizante) do acima citado Alan Moore.
Super-heróis é coisa de Anglo-Saxões, visto que os países onde tal tipo de leitura tem mais êxito são os E.U.A. e o Reino Unido; certo escriba internético, que assina a coluna «Fool Britania» no site «Silver Bullet», pretende explicar isso, recorrendo para o efeito ao facto de os protestantes terem sido privados da rica pluralidade dos santos - segundo o autor, isso fez com que precisarem de encher a imaginação com uma diversidade de figuras, de ícones quase veneráveis. Em França e na Bélgica, a b.d. é de mais alta qualidade, mais cuidada e muito mais respeitada. Não há quase nenhum super-herói em França, na Bélgica, na Itália, países do mais refinado bom gosto.
Eles, Anglo-Saxões, em cuja(s) cultura(s) surgiram os super-heróis, é que lutam, mal ou bem, inteligente ou estupidamente, só eles, no Ocidente, é que estão dispostos a pegar em armas. Eles acham bem que se use uniforme e se faça justiça, a tempo inteiro, com o poder da força e a legitimidade da ética.
A intelectualada de excelentíssimo sentido crítico franze o focinho num sorrisinho espertó-saloio perante este tipo de mentalidade, porque, como eles bem sabem, as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, só têm é de convencer os islâmicos radicais (e os criminosos de rua também) disso mesmo, depois tudo correrá bem e o mundo será para sempre um paraíso; as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, mas se lhes metem uma bomba em casa, eles aceitam obedecer ao que os bombistas lhes mandam fazer; as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, mas se lhes mandam ir para a rua berrar, em rebanho, para que os terroristas não matem três reféns, eles obedecem prontamente, vão imediatamente para a estrada ladrar, conforme lhes manda o dono - seria de louvar se se tratasse apenas de uma questão de salvamento de vidas do seu próprio povo, mas o degradante disto é que nunca se revoltam contra quem os chantageia desse modo.
De facto, as coisas não se resolvem à bordoada, pois não, só é pena é eles ficarem todos contentes com a derrota militar do Nacional-Socialismo e do Fascismo: se não se esquecessem, por momentos, de ser coerentes, diriam que nunca os aliados deviam ter feito frente bélica a Hitler e a Mussolini, mas tão somente dialogado. Cá no burgo, voltam a esquecer-se disso a respeito do 25 de Abril, que foi feito por militares de armas na mão, e não por tranquilos dialogantes que, em amena cavaqueira, tenham convencido Marcello Caetano e a Pide a abdicarem do poder.
Ou talvez pensem, sem se atreverem a dizê-lo frontalmente, que as armas só devem ser usadas quando se combate contra irmãos; quando se tem de enfrentar gente de raças estranhas, deve-se, pelo contrário, ser bonzinho e até dar a outra face se preciso for... pois... quem não os conhecer, que os compre.
Talvez eu continue este já longo artigo, se me apetecer ou se me lembrar de algo mais para dizer sobre o assunto, sabendo, claro, que quanto mais o prolongar mais desencorajo os potenciais leitores, dado que, actualmente, poucos se dispõem a ler um texto com mais de vinte linhas (se eu pudesse escrever partes do texto com corzinhas diferentes, fazia-o, caro leitor, para facilitar a leitura, mas não posso, lamento).
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