DIGNO DE MENÇÃO
Não sou cristão e considero que um dos maiores males do Ocidente foi o triunfo dessa religião semita que em negros tempos se impôs por toda a Europa, deitando abaixo os altares dedicados aos verdadeiros Deuses dos Europeus.
Dito isto, apresento a minha homenagem ao filme «A Paixão de Cristo», realizado por Mel Gibson, que é, de facto, uma obra-prima cinematográfica, pela intensidade com que consegue transmitir uma sensação de sacralidade e de veracidade histórica, dada a qualidade do conjunto formado pela interpretação de todos os actores, pela fotografia, pelo argumento, pela banda sonora, pela reconstituição histórica dos edifícios e do vestuário, e, sobretudo, pela sonoridade das duas línguas mortas faladas pelas personagens da história filmada, o Latim e o Aramaico. Dificilmente se conseguirá construir, em cinema, uma cena mais forte e poderosa do que a aquela em que o Diabo tenta Jesus, no Jardim das Oliveiras: o magnetismo, o ritmo e a cadência quase hipnótica das palavras de Satanás são complementadas por um olhar malicioso e gracioso, diabólico sem ponta de kitsch; do mesmo modo, não será fácil apresentar algo de mais convincente e autêntico do que a interrogação de Pôncio Pilatos a respeito da verdade, do modo como pergunta a Cláudia como é que se consegue saber quando é que aquilo que é dito corresponde à verdade.
Pode talvez dizer-se que nenhum americano fazia um filme destes, uma vez que, de acordo com Mel Gibson, o projecto não era bem visto pelos produtores e distribuidores, descrentes em relação ao sucesso comercial de um filme falado em idiomas de há dois mil anos. Todavia, a partir de agora todo e qualquer filme histórico falado em «Americano», se já antes soava de modo artificial, a partir de agora ou tem algum trunfo poderosíssimo - que não consigo, de momento, imaginar - ou então terá o sabor de pastilha elástica já mais que mastigada e cuspida.
Digo eu isto na esperança de que se estabeleça uma moda de fazer filmes em línguas antigas... a Eneida falada em Latim, a Ilíada e a Odisseia, em Grego antigo, e, sonhando, penso ainda na gesta do rei bretão Artur toda falada em Galês antigo, ou, delirando, alguma saga das Eddas ou do Cath Mag Tuireadh faladas em Islandês e em Irlandês, respectivamente...
Voltando à filmagem da morte do judeu crucificado, só lamentei, ligeiramente, o final. A ressurreição do judeu morto devia acontecer de um modo menos simples e directo, mais composto e mais indirecto, com recurso à sugestão, a simbolismos, sinais, de que teria ressuscitado, ou ao maravilhoso imponente, por exemplo, um céu de aspecto descomunal a abrir-se e uma figura humana a subir até desaparecer por entre as nuvens... mas assim como foi filmada, é demasiado sólida e carnal para se conseguir acreditar que aconteceu mesmo. É um problema que o ateísmo cria às pessoas: uma vez metido na misturada cultural que se administra ao indivíduo, desde a infância, deixa sempre a sua marca, isto é, a descrença quase instintiva, aquela ilusória e deprimente sensação de «lucidez» materialista de quem olha para o mundo natural e diz «só há isto, nada mais existe». Porque depender de tal facto - a ressurreição da carne - para acreditar ou não no Divino, é, no mínimo, difícil.
Ainda bem que, ao contrário do que dizia o Nazareno, há outras religiões válidas, outros Deuses, outras vias para o Divino...
Dito isto, apresento a minha homenagem ao filme «A Paixão de Cristo», realizado por Mel Gibson, que é, de facto, uma obra-prima cinematográfica, pela intensidade com que consegue transmitir uma sensação de sacralidade e de veracidade histórica, dada a qualidade do conjunto formado pela interpretação de todos os actores, pela fotografia, pelo argumento, pela banda sonora, pela reconstituição histórica dos edifícios e do vestuário, e, sobretudo, pela sonoridade das duas línguas mortas faladas pelas personagens da história filmada, o Latim e o Aramaico. Dificilmente se conseguirá construir, em cinema, uma cena mais forte e poderosa do que a aquela em que o Diabo tenta Jesus, no Jardim das Oliveiras: o magnetismo, o ritmo e a cadência quase hipnótica das palavras de Satanás são complementadas por um olhar malicioso e gracioso, diabólico sem ponta de kitsch; do mesmo modo, não será fácil apresentar algo de mais convincente e autêntico do que a interrogação de Pôncio Pilatos a respeito da verdade, do modo como pergunta a Cláudia como é que se consegue saber quando é que aquilo que é dito corresponde à verdade.
Pode talvez dizer-se que nenhum americano fazia um filme destes, uma vez que, de acordo com Mel Gibson, o projecto não era bem visto pelos produtores e distribuidores, descrentes em relação ao sucesso comercial de um filme falado em idiomas de há dois mil anos. Todavia, a partir de agora todo e qualquer filme histórico falado em «Americano», se já antes soava de modo artificial, a partir de agora ou tem algum trunfo poderosíssimo - que não consigo, de momento, imaginar - ou então terá o sabor de pastilha elástica já mais que mastigada e cuspida.
Digo eu isto na esperança de que se estabeleça uma moda de fazer filmes em línguas antigas... a Eneida falada em Latim, a Ilíada e a Odisseia, em Grego antigo, e, sonhando, penso ainda na gesta do rei bretão Artur toda falada em Galês antigo, ou, delirando, alguma saga das Eddas ou do Cath Mag Tuireadh faladas em Islandês e em Irlandês, respectivamente...
Voltando à filmagem da morte do judeu crucificado, só lamentei, ligeiramente, o final. A ressurreição do judeu morto devia acontecer de um modo menos simples e directo, mais composto e mais indirecto, com recurso à sugestão, a simbolismos, sinais, de que teria ressuscitado, ou ao maravilhoso imponente, por exemplo, um céu de aspecto descomunal a abrir-se e uma figura humana a subir até desaparecer por entre as nuvens... mas assim como foi filmada, é demasiado sólida e carnal para se conseguir acreditar que aconteceu mesmo. É um problema que o ateísmo cria às pessoas: uma vez metido na misturada cultural que se administra ao indivíduo, desde a infância, deixa sempre a sua marca, isto é, a descrença quase instintiva, aquela ilusória e deprimente sensação de «lucidez» materialista de quem olha para o mundo natural e diz «só há isto, nada mais existe». Porque depender de tal facto - a ressurreição da carne - para acreditar ou não no Divino, é, no mínimo, difícil.
Ainda bem que, ao contrário do que dizia o Nazareno, há outras religiões válidas, outros Deuses, outras vias para o Divino...
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