INIMIGOS DA POLÍTICA...
O último artigo de João Pereiro Coutinho, na revista Maxmen de Janeiro, demonstra, mais uma vez, a saloiice chico-espertista e demagógica que domina muitas consciências que se pretendem lúcidas: ao dizer que o homem de bom senso tem (isto é, deve ter) um natural desprezo pela política, o autor dá voz ao preconceito populista de que os políticos são corruptos à partida.
«Política» é a própria direcção, global, de qualquer comunidade humana. Considerar que isto é por princípio desprezível ou vil, é talvez um reflexo extremista do pensamento cristão que manda renunciar a este mundo, supostamente «mau» à partida, levando à consequência de natural de ver o poder neste mundo como um princípio de maldade.
Mas, na boca de João Pedro Coutinho e de muitos e muitos liberais, neo-liberais, tecnocratas e políticos que se consideram uma excepção à classe política - isto é, políticos populistas que falam mal dos «políticos» em geral, como o faz, por exemplo, Manuel Monteiro - esta depreciação da política e dos políticos, longe de parecer inspirada pelo crucificado morto há dois mil anos, tem, isso sim, um distinto ar de ser instrumento posto em cena por forças que, não pertencendo ao mundo da política, pretendem relativizá-la e desvirtuá-la até que mais não seja do que um pálido anexo da economia.
E, então, o dinheiro passa a ser considerado como coisa mais séria do que o voto; o empresário, mais sério do que o político; e, fatalmente, a empresa (privada, pois...) mais séria do que o Estado.
O Estado é uma das últimas fronteiras que defende ainda o conceito de Nação e de Pátria; e sabe-se, por outro lado, que o capital não tem pátria.
Assim, este desprezo pela política não augura nada de bom para a defesa de valores realmente políticos tais como Nação, Pátria, Liberdade.
Como dizia Evola, a economia tem de ser sempre um aspecto secundário e subordinado da política.
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