Diana em anel de oiro datado de 225 a.c., encontrado no Egipto
Na Religião Romana, os dias 13 e 15 de Agosto são assinalados pela Nemorália, celebração em honra de Diana no lago Nemi, em Itália.
Na Cristandade, 15 de Agosto é dedicado à celebração de Nossa Senhora da Assunção, introduzida pelo bispo Cirilo de Alexandria no século V. A assunção de Maria foi a alegada subida de Maria, mãe de Jesus, ao céu, segundo alguns depois de morrer e, segundo outros, antes de morrer fisicamente.
Actualmente, é feriado nacional na maioria senão em todos os países católicos, incluindo Portugal, bem como em áreas católicas/ortodoxas da Alemanha, da Suíça, da Eslovénia, da Croácia, da República do Norte da Macedónia, da Bósnia-Herzegóvina e da Roménia. O dia também é celebrado na Rússia, na Bulgária e na Chéquia.
Nalgumas versões da narrativa da assunção, esta parece ter tido lugar em Éfeso, na chamada «Casa da Virgem Maria». Mais tarde, no século V, foi também em Éfeso que a Virgem Maria ficou definitivamente consagrada como Theotokos, ou «Portadora de Deus», por ter dado Jesus à luz...
Ora Éfeso era nem mais nem menos que a cidade onde se situava o mais famoso templo pagão da Antiguidade, uma das chamadas Sete Maravilhas do Mundo Antigo, que era o templo de Ártemis, conhecido portanto como Artemision. Ártemis, Deusa lunar da Floresta e da Caça, tinha aí uma feição notoriamente maternal e fertilizante, sendo ao mesmo tempo denominada como Virgem, note-se. A grega Ártemis é equivalente à latina Diana
Por ser considerada como «Portadora de Deus», a Virgem Maria tem na teologia cristã o título de Rainha do Céu.
Rainha do Céu é designação muito arcaica na história da Religião. Foi atribuída à mais antiga Deusa conhecida na história, Inana, da Suméria, e, posteriormente, à Sua equivalente semita ocidental, Astarte.
O Antigo Testamento condena expressamente o culto à Rainha do Céu, praticado sobretudo pelas mulheres; a Bíblia censura asperamente este culto como estrangeiro, que provoca a ira de Jeová (o «Deus ciumento» que Se diz único), como se lê em Jeremias 7:18, 44:15-19 e 44:25, passagens nas quais se descreve a adoração desta Deusa com incenso, bebidas e bolos.
Diana, ou Ártemis, é a única Deusa pagã Cujo nome se lê no Novo Testamento, mais concretamente em Actos 19, que merece especial atenção:
²¹ E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e pela Acaia, dizendo: Depois de ter ali estado, importa-me ver também Roma.
²² E, enviando à Macedónia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia.
²³ E, naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho.
²⁴ Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices,
²⁵ Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade;
²⁶ E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são Deuses os que se fazem com as mãos.
²⁷ E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande Deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade Daquela que toda a Ásia e o mundo veneram.
²⁸ E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos Efésios.
²⁹ E encheu-se de confusão toda a cidade e, unânimes, correram ao teatro, arrebatando Gaio e Aristarco, macedónios, companheiros de Paulo na viagem.
³⁰ E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, não lho permitiram os discípulos.
³¹ E também alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro.
³² Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado.
³³ Então tiraram Alexandre dentre a multidão, impelindo-o os Judeus para diante; e Alexandre, acenando com a mão, queria dar razão disto ao povo.
³⁴ Mas quando conheceram que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos Efésios.
³⁵ Então o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Homens efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos Efésios é a guardadora do templo da grande Deusa Diana, e da imagem que desceu de Júpiter?
³⁶ Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente;
³⁷ Porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa Deusa.
³⁸ Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há pro-cônsules; que se acusem uns aos outros;
³⁹ E, se de alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítima assembleia.
⁴⁰ Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso.
Ora pelos vistos a multidão tinha bem razão em precaver-se contra os alógenos que ali traziam culto alógeno universalista. Com efeito, os Actos de João do século II incluem um conto apócrifo da destruição do templo: o apóstolo João orou publicamente no Templo de Ártemis, exorcizando os seus demónios e «de repente o altar de Ártemis partiu-se em muitos pedaços ... e metade do templo caiu», convertendo instantaneamente os Efésios, que choraram, oraram ou fugiram. Mais tarde, Cirilo de Alexandria viria a atribuir a destruição do templo ao arcebispo de Constantinopla, João Crisóstomo, referindo-se a ele como «o destruidor dos demónios e o destruidor do templo de Diana». Um arcebispo de Constantinopla posterior, Proclo, observou os feitos de João, dizendo «Em Éfeso, ele saqueou a arte de Midas»... Em suma, vários cristãos regozijaram-se de tal modo com a destruição do templo que até o reivindicaram orgulhosamente, cada qual à sua maneira...
O festival de Ártemis de Éfeso foi amplamente promovido na Antiguidade pagã, incluindo a época da dominação romana. Realizavam-se aí jogos, concursos e peças de teatro em nome da Deusa; Plínio o Antigo descreve a Sua procissão como uma magnífica atracção de multidões, tendo esta sido representada numa das pinturas de Apeles, que retratava a imagem da Deusa transportada pelas ruas e rodeada de donzelas.
É ainda de registar que, na Cristandade católica, o 13 de Agosto é dedicado a Hipólito de Roma, alegado mártir do século III; por coincidência, Hipólito era, antes disso, o nome de uma personagem mitológica que prestava culto a Ártemis.
Historiadores como CM Green, James Frazer e outros notaram paralelos entre esses dias de festa e especularam que a Igreja Católica primitiva pode ter adaptado não apenas as datas, mas também o simbolismo da Nemorália. É possível que, como originalmente celebrada, a Nemorália celebrasse uma descida de Diana ao submundo em busca de Hipólito ou Virbius, seguida pela Sua ascensão como Rainha do Céu e da lua cheia no terceiro dia. Celebrações semelhantes foram reconhecidas no mundo antigo envolvendo Deméter e Ísis, com as Quais Diana era frequentemente identificada...
Podem ler-se aqui mais informações sobre a Nemorália e o culto de Diana no Ocidente, incluindo Portugal: https://gladio.blogspot.com/2025/08/diana-nossa-senhora-da-assuncao.html
1 Comments:
https://freeimage.host/i/FbJK2x1
Enviar um comentário
<< Home