SOBRE A ESCANDALEIRA EM TORNO DE UMA CENA DOS JOGOS OLÍMPICOS

Consta que a encenação da cerimónia da abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 que causou escândalo por parecer uma debochada representação do quadro «A Última Ceia» (1495-1498) do italiano Leonardo da Vinci era, na verdade, uma representação de um outro quadro, «A Festa dos Deuses» (1635-1640), do holandês Jan van Bijlert (ver mais acima, no topo, como convém aos Deuses).

Eu, pessoalmente, nem reparei nisso, dado que não prestei grande atenção ao evento; só posteriormente vi dele uma foto e, nela, a primeira imagem que identifiquei foi a de Baco pintado de azul. Estranhei a cor, nunca li em lado nenhum que Baco, Diónisos ou sequer a Sua versão romana, Líber Pater, estivesse sequer remotamente associado a essa tonalidade do espectro luminoso; é certo que as «Metamorfoses» de Ovídio descrevem determinadas Entidades divinas como azuladas, mas Estas são aquáticas e Baco nada tem a ver com as águas, só com os vinhos; entretanto, agora de repente recordo que Homero diz que o mar tem a cor do vinho, uma passagem muito discutida do seu trabalho, se calhar é disso... fora isso, só me ocorre a equivalência que alguns estabelecem entre Baco e o indiano Crichna, o Qual é sempre representado em azul...

Seguidamente, olhei para as figuras atrás de Baco na imagem e só notei que a orgulhosa gorda central tem na cabeça um halo que eu só tinha visto na cabeça de uma representação de Sucellus, importante Deus gaulês...

Sucellus representado em estátua de bronze do século I-II d.c.; Sucellus, Cujo nome significaria «O Bom Batedor, ou O Que Bate Bem, Eficientemente», seria porventura Entidade protectora, talvez de carácter ctónico ou subterrâneo, representado noutras estátuas com um martelo de cabo longo (como o que possivelmente terá feito parte desta estátua, originalmente) e uma vasilha, o que O torna muito semelhante ao irlandês Dagda, grande Deus da Sabedoria.

Mais tarde, vim a saber que no espectáculo também se inclui pelo menos mais uma referência céltica, Sequana, Deusa do rio Sena, que aparece montada num cavalo prateado; a cena com a Lua Cheia ao alto é nada menos que magnífica, a fazer lembrar que, também na Gália, Épona, Deusa dos Cavalos, tem por vezes associado a si, pelo menos em fontes modernas, o Plenilúnio; é entretanto certo que, no folclore português do Algarve, onde viveram gentes célticas, a chamada «Velha da Égua Branca» aparece nas noites de Lua Cheia...

A esmagadora maioria da população mundial nem prestou atenção a nada disto até virem os activistas da sacristia e da mesquita gritar que estavam ofendidos pela interpretação proibida da mensagem do seu senhor J.C., aproveitando para lembrar ao pessoal a única interpretação autorizada desta mensagem, que é muito simples: quando o Nazareno disse que veio para os pecadores, evidentemente que não era mesmo, mesmo, mesmo, para todos, todos, todos os pecadores, era só para alguns, como por exemplo, um bom pai de família, honesto e trabalhador, que uma vez por outra não resiste a dar os seus pirafos às meretrizes, ou à vizinha do lado, ou, para dar outro exemplo, uma boa mãe de família que sempre foi contra o aborto! mas pode ter tido necessidade de fazer um desmanchozito para evitar algum escândalo, ou então tem o hábito de se dar à maledicência com as amigas; essa léria de Jesus ser mesmo, mesmo, mesmo para todos os pecadores, não era pois para ser entendida literalmente e de certeza que não incluía a tropa gay, como se lê em Mateus 26:773: «Em verdade vos digo que se levais nos entre-folhos não herdareis o Reino dos Céus». O pessoal do abecedário LGBTQ+DASX ainda não percebeu que não tem lugar na Cristandade, mas algum dele insiste em querer ter, mas não pode, e boa parte da culpa disso é do papa que está sempre com falinhas mansas nesse campo, ou porque acredita mesmo no universalismo (do qual a inclusão "woke" é descendente laica) ou porque não quer perder, ou quer ganhar, uma parte liberal do eleitorado, isto é, do rebanho disponível.

Independentemente disso, eu também acho que, se a intenção dos encenadores foi fazer alusão ao referido quadro de da Vinci, então foi um erro, não tinham nada que meter ali cenas cristãs. A historieta de que o Ocidente é a cultura judaico-cristã constitui cada vez mais uma converseta da treta. Uma coisa é a carga judaico-cristã - outra, bem diferente, é o Ocidente. Água e azeite não se misturam, por mais que se queira forçar a mistura, acabou-se. Os Jogos Olímpicos pertencem à herança clássica grega, que é pagã. Aliás, interessa nunca esquecer que foi precisamente a Cristandade que proibiu as celebração das Olimpíadas, há cerca de 1600 anos atrás, mais concretamente em 391 d.c., precisamente por a considerar pagã...