Como regra geral, os Curdos têm sido menos rígidos na sua fé do que os Árabes. A identidade étnica árabe reforça o islamismo, e vice-versa. O Alcorão, afinal, foi revelado a um árabe, o profeta Maomé, e na sua língua. Cinco vezes por dia, os muçulmanos prostram-se em oração, voltados para a qibla de Meca, na Arábia. Até mesmo os muçulmanos não árabes recitam essas orações em Árabe. Pelo menos uma vez na vida, qualquer muçulmano financeiramente capaz de fazê-lo é obrigado a fazer o hajj [peregrinação] a essa cidade da Arábia. Os convertidos ao islamismo adoptam frequentemente nomes árabes. Alguns muçulmanos, especialmente no Paquistão, auto-denominam-se “Sayyid” para indicar uma descendência (inteiramente imaginária) dos Quraysh, a tribo de Maomé. O próprio Alcorão deve ser lido idealmente em Árabe. Não é de se admirar que o falecido estudioso Anwar Shaikh tenha descrito o islamismo como veículo para a supremacia árabe.
Os Curdos têm sido alvos de agressões árabes há muito tempo. O episódio mais recente foi a Operação Anfal, lançada por Saddam Hussein contra os Curdos em 1986. Por três anos, os combatentes árabes de Saddam mataram curdos no norte do Iraque, esvaziando aldeias inteiras para que pudessem ser submetidas à arabização, com o governo movendo sistematicamente árabes para as antigas moradias curdas. As tropas de Saddam cometeram todos os tipos de crimes de guerra, incluindo o uso de gás venenoso, que foi usado para matar 5000 curdos em Halabja. Até ao final da Operação Anfal, 182000 curdos foram mortos. Como o islamismo sempre foi identificado com os Árabes, e os Árabes cometeram tantas atrocidades contra os Curdos, não é surpreendente que o domínio do islamismo sobre alguns curdos tenha enfraquecido gradualmente após a Operação Anfal.
As atrocidades cometidas pelo ISIL no Iraque e na Síria contra todos aqueles que eles consideravam infiéis, que também incluíam muçulmanos xiitas e até sunitas insuficientemente observantes, tiveram o efeito de diminuir a devoção ao islamismo não apenas entre aqueles que o ISIL atormentou, mas também entre aqueles que testemunharam os crimes que ele cometeu contra outros. Isto levou alguns a não apenas questionar a sua fé, mas a abandoná-la completamente. A grande maioria desses apóstatas são pessoas que, razoavelmente, mantiveram a sua apostasia para si mesmas, não desejando arriscar a justiça vigilante nas mãos de algum fanático muçulmano determinado a aplicar uma punição adequada – ou seja, islâmica.
Mas alguns, na relativa segurança do Curdistão, têm-se mostrado dispostos a declarar publicamente a sua nova fé. Ou seja, ousaram registar-se na associação Yasna, que promove o Zoroastrismo.
Que o governo regional curdo esteja disposto a reconhecer o Zoroastrismo como uma das religiões “oficiais”, juntamente com as três religiões abraâmicas, desde 2015, é um bom presságio. Mas o governo central em Bagdad, comandado por árabes menos tolerantes que os Curdos, não seguiu o exemplo. Como consequência, aqueles que se consideram zoroastristas e se registam livremente como tais no Curdistão, são forçados a permanecer registados como muçulmanos com aquele implacável governo central em Bagdad.
A ênfase do Zoroastrismo no respeito pela natureza apela ao ambientalismo dos jovens muçulmanos no Curdistão iraquiano. E tendo testemunhado, ou ouvido histórias sobre, ou eles próprios suportado, perseguição étnica, incluindo assassinato em massa, do exército árabe de Saddam, ou testemunhado a perseguição religiosa, incluindo assassinato em massa de yazidis, cristãos e até mesmo muçulmanos xiitas, pelos fanáticos do Estado Islâmico, eles acham atraente a ênfase do Zoroastrismo na coexistência pacífica.
Até agora não houve relatos de convertidos ao Zoroastrismo que tenham sido agredidos fisicamente no Curdistão, um testemunho da tolerância curda.
Se 15000 curdos se dispuseram a registar-se como apóstatas zoroastrianos do islamismo, sem sofrer nenhuma consequência, isto é um sinal bem-vindo de uma tolerância crescente no Curdistão iraquiano. Mas ainda mais importante é o crescimento do Zoroastrismo na porta ao lado, no Irão, onde a intolerância fanática do Estado impede qualquer admissão pública de apóstatas, mas pesquisas anónimas sugerem que houve um grande afastamento do islamismo – uma reacção ao governo monstruoso dos mulás – especialmente entre os jovens, e o Zoroastrismo será provavelmente a primeira escolha do apóstata iraniano. Afinal, esta era a fé presente no Irão por dois mil anos antes de os Árabes chegarem, trazendo o "presente" do islamismo. O islamismo já perdeu o seu domínio sobre tantos iranianos que, assim que a República Islâmica finalmente entrar em colapso, partilho a visão de alguns informantes iranianos de que centenas de milhares de iranianos, talvez até mais, abraçarão o Zoroastrismo como a antiga e futura religião nacional iraniana. Eles já estão fartos – quase 1400 anos – do “presente dos Árabes”. Para muitos iranianos descontentes, os Árabes podem ficar com ele.
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Fonte: https://www.jihadwatch.org/2024/07/zoroastrianism-makes-a-comeback-in-iraqi-kurdistan* * *
Para mais informação, aceder a
esta página:
https://gladio.blogspot.com/2022/01/sobre-o-retorno-de-curdos-religiao.html
Seja por rebeldia contra um
sistema político-religioso opressivo, seja pelo que for, o que é facto é que há
neste fenómeno a tendência para a renovação do estado natural, normal e
primordial das coisas - os Curdos, pertencentes ao ramo irânico da família
indo-europeia, estão simplesmente a regressar à religião de muitos dos seus
ancestrais, dado que o Zoroastrismo é um credo que também tem origem no ramo
irânico da família indo-europeia, e era, há milhares de anos, a religião
nacional dos Povos Irânicos do actual Irão.
Trata-se aqui de mais um testemunho de que, quando o Povo está vivo, pode
sempre retornar à sua sagrada herança da qual possa ter sido afastado à força
noutros tempos.
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