quarta-feira, agosto 14, 2024

BATALHA DE ALJUBARROTA - VITÓRIA DA NAÇÃO SOBRE O IMPÉRIO E A ELITE TRANSNACIONAL


No dia 14 de Agosto de 1385, a batalha iniciou-se com uma carga de cavalaria francesa a toda a brida para romper as linhas portuguesas, que falhou redondamente, devido à disposição de obstáculos no terreno, à resistência da infantaria portuguesa e à actuação dos arqueiros britânicos - ingleses e, maioritariamente, galeses - aliados dos Portugueses. As forças castelhanas propriamente ditas tardaram a chegar porque, diz-se, estavam desagradadas com a arrogância do seu aliado franciú, dado que os cavaleiros franceses, sequiosos de exibir a sua supremacia, precipitaram-se impulsivamente... O historiador francês medieval Jean Froissart conta destarte o que se passou:
«Também é verdade que a batalha começou cedo demais; mas fizeram-no para adquirir maior honra e para tornar boas as palavras que tinham dito na presença do rei. Por outro lado, segundo ouvi, os Castelhanos não tiveram grande pressa em avançar, pois os franceses não estavam em boas relações com eles e disseram: "Deixem-nos começar a luta e cansem-se: encontrarão o suficiente para fazer. Estes franceses são muito presunçosos e muito vaidosos, e o nosso rei não tem nenhuma confiança perfeita a não ser neles." Em conformidade com esta resolução, os Espanhóis mantiveram-se em grande grupo, pelo menos vinte mil, na planície, e não avançaram, o que irritou muito o rei; mas não pôde evitar, pois disseram: "Meu senhor, está tudo acabado (embora ninguém tenha regressado da batalha): estes cavaleiros franceses derrotaram os seus inimigos: a honra e a vitória do dia são deles.».[8]

As forças portuguesas lideradas no terreno por D. Nuno Álvares Pereira e D. João I acabaram depois por derrotar pesadamente as tropas castelhanas de D. Juan I. Os invasores castelhanos trouxeram, além de mais de dois mil cavaleiros franceses, um certo número de combatentes italianos; do lado de Portugal, estava, como é bom de ver, um contingente de arqueiros britânicos, com o seu então temido «longbow», ou arco longo, terror dos inimigos da velha Albion.
Nesta ocasião, todo o povo se levantou pela causa nacional, tendo, na quase lendária padeira de Aljubarrota, um símbolo assaz significativo: mulher forte, guerreira, lutando ao lado dos homens, fazendo lembrar referências às antigas mulheres celtas, que alegadamente combatiam por vezes ao lado dos maridos. Coincidentemente, até o seu nome próprio, Brites, recorda a antiga celticidade.
Pode ler-se mais sobre a batalha aqui
Para saber mais sobre a efeméride, e sobre actuais actividades a seu respeito, aceder a esta página.

Perdura doravante o exemplo de uma Nação em armas que, pela sua independência, enfrentou um oponente cuja superioridade numérica ganha laivos de inverosimilhança quando se sabe que perdeu a batalha; entretanto, os Portugueses, é bom lembrar, tinham boa parte da elite do seu próprio país contra si, uma vez que o grosso da nobreza e do alto clero de Portugal estavam por Castela. 

Esta foi pois uma vitória do povo, até mesmo ao nível do aspecto técnico-militar, uma vez que parece ter-se tratado de uma das primeiras ocasiões na história medieval militar da Europa em que uma massa de combatentes a pé - em princípio de origem plebeia - conseguiu, mesmo contra números esmagadores, levar de vencida a cavalaria. 

Uma vitória que só pôde acontecer porque, quem parecia estar na iminência da derrota, insistiu em manter livre a Nação, conseguindo assim fazer história que ainda não estava feita, permitindo que brilhassem os defensores da Nacionalidade em todos os níveis sociais, do mestre de Avis que, mesmo sendo bastardo lutou pelo seu poder, e também de D. Nuno Álvares Pereira, sempre inspirado na pérola da cultura tradicional europeia que é a literatura arturiana - mais concretamente na figura de Galaaz ou Galaaz, cavaleiro do Graal, modelo pessoal do Condestável - à padeira de Aljubarrota, Brites, figura emblemática, como que telúrica, talvez ecoando a presença de antigas Deusas da Guerra Cujo sopro move a Grei.  

Avançava do lado oposto o irmão de D. Nuno Álvares Pereira - D. Pedro Álvares Pereira, que liderou tropas castelhanas contra Portugal, ou não fosse frequente no seio da nobreza a traição à Nação, que a essa nobreza interessava inequivocamente menos do que as suas linhagens e relações transfronteiriças, daí a incompatibilidade, tarde ou cedo, entre um regime autenticamente nacionalista e uma sociedade hierarquizada em que os membros da classe dirigente devem mais lealdade aos seus homólogos estrangeiros do que à sua própria Nação. A vitória de Aljubarrota não é «o nascimento» de uma Nação, que nesta altura já tinha séculos de história, mas sim uma vitória da Nacionalidade sobre os princípios tradicionais medievais de aristocracia.

 


1 Comments:

Blogger Lol said...

quem vence diu no outro lado do mundo

14 de agosto de 2024 às 14:27:00 WEST  

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