BATALHA DE ALJUBARROTA - VITÓRIA DA NAÇÃO SOBRE O IMPÉRIO E A ELITE TRANSNACIONAL
«Também é verdade que a batalha começou cedo demais; mas fizeram-no para adquirir maior honra e para tornar boas as palavras que tinham dito na presença do rei. Por outro lado, segundo ouvi, os Castelhanos não tiveram grande pressa em avançar, pois os franceses não estavam em boas relações com eles e disseram: "Deixem-nos começar a luta e cansem-se: encontrarão o suficiente para fazer. Estes franceses são muito presunçosos e muito vaidosos, e o nosso rei não tem nenhuma confiança perfeita a não ser neles." Em conformidade com esta resolução, os Espanhóis mantiveram-se em grande grupo, pelo menos vinte mil, na planície, e não avançaram, o que irritou muito o rei; mas não pôde evitar, pois disseram: "Meu senhor, está tudo acabado (embora ninguém tenha regressado da batalha): estes cavaleiros franceses derrotaram os seus inimigos: a honra e a vitória do dia são deles.».[8]
As forças portuguesas lideradas no terreno por D. Nuno Álvares Pereira e D. João I acabaram depois por derrotar pesadamente as tropas castelhanas de D. Juan I. Os invasores castelhanos trouxeram, além de mais de dois mil cavaleiros franceses, um certo número de combatentes italianos; do lado de Portugal, estava, como é bom de ver, um contingente de arqueiros britânicos, com o seu então temido «longbow», ou arco longo, terror dos inimigos da velha Albion.
Perdura
doravante o exemplo de uma Nação em armas que, pela sua independência,
enfrentou um oponente cuja superioridade numérica ganha laivos de
inverosimilhança quando se sabe que perdeu a batalha; entretanto, os
Portugueses, é bom lembrar, tinham boa parte da elite do seu próprio país
contra si, uma vez que o grosso da nobreza e do alto clero de Portugal estavam
por Castela.
Esta foi pois
uma vitória do povo, até mesmo ao nível do aspecto técnico-militar, uma vez que
parece ter-se tratado de uma das primeiras ocasiões na história medieval
militar da Europa em que uma massa de combatentes a pé - em princípio de origem
plebeia - conseguiu, mesmo contra números esmagadores, levar de vencida a
cavalaria.
Uma vitória
que só pôde acontecer porque, quem parecia estar na iminência da derrota,
insistiu em manter livre a Nação, conseguindo assim fazer história que ainda
não estava feita, permitindo que brilhassem os defensores da Nacionalidade em
todos os níveis sociais, do mestre de Avis que, mesmo sendo bastardo lutou pelo
seu poder, e também de D. Nuno Álvares Pereira, sempre inspirado na pérola da
cultura tradicional europeia que é a literatura arturiana - mais concretamente
na figura de Galaaz ou Galaaz, cavaleiro do Graal, modelo pessoal do
Condestável - à padeira de Aljubarrota, Brites, figura emblemática, como que
telúrica, talvez ecoando a presença de antigas Deusas da Guerra Cujo sopro move
a Grei.
Avançava do
lado oposto o irmão de D. Nuno Álvares Pereira - D. Pedro Álvares Pereira, que
liderou tropas castelhanas contra Portugal, ou não fosse frequente no seio da
nobreza a traição à Nação, que a essa nobreza interessava inequivocamente menos
do que as suas linhagens e relações transfronteiriças, daí a incompatibilidade,
tarde ou cedo, entre um regime autenticamente nacionalista e uma sociedade
hierarquizada em que os membros da classe dirigente devem mais lealdade aos
seus homólogos estrangeiros do que à sua própria Nação. A vitória de
Aljubarrota não é «o nascimento» de uma Nação, que nesta altura já tinha
séculos de história, mas sim uma vitória da Nacionalidade sobre os princípios
tradicionais medievais de aristocracia.
1 Comments:
quem vence diu no outro lado do mundo
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