O site de investigação considera que estamos em presença de uma reunião que pode ter efeitos concretos, dado o poder e a fortuna das pessoas envolvidas. Será muito mais do que uma reunião de ideólogos de Direita. Alguns são incrivelmente ricos. Outros têm muita influência no seio do AfD. Um deles gabou-se, no hotel, de falar em nome da direcção do AfD. É o assessor pessoal de Alice Weidel, a líder do partido.
No estudo do ECFR prevê-se que, pela primeira vez desde que há Parlamento Europeu, a Extrema-Direita possa fazer maioria com a Direita, e que sobretudo possa conquistar tantos lugares que pode comprometer as decisões europeias em matéria de clima e de política externa. Mesmo em matéria de imigração, apesar de já ter sido aprovado um pacote de medidas europeias a reboque das reivindicações dessa mesma Extrema-Direita, as medidas podem tornar-se mais radicais. Como o chamado “Plano Mestre” e “remigração” que foi abordado na reunião alemã no início destas linhas.
O novo estudo do ECFR, “A sharp right turn: A forecast for the 2024 European Parliament elections”, é sustentado por recentes sondagens de opinião dos 27 Estados-membros da UE e moldado por um modelo estatístico do desempenho dos partidos nacionais em anteriores eleições para o Parlamento Europeu, incluindo os escrutínios de 2009, 2014 e 2019.
O documento prevê uma “viragem acentuada à Direita” nas próximas eleições para o Parlamento Europeu – com o grupo Identidade e Democracia (ID) de partidos de Extrema-Direita e os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) a registarem avanços muito significativos.
O estudo revela que os partidos da Direita populista “anti-europeia” estarão no topo das sondagens em pelo menos nove Estados-membros da UE e ficarão em segundo ou terceiro lugar noutros nove países do bloco.
Os resultados mostram que os dois principais grupos políticos – o Partido Popular Europeu (PPE) e a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) – verão a sua representação diminuir ainda mais. No entanto, o PPE continuará a ser a maior bancada no próximo parlamento, manterá o poder de definição da agenda e terá uma palavra a dizer na escolha do próximo Presidente da Comissão Europeia.
Os co-autores deste estudo, Simon Hix e Kevin Cunningham, consideram que esta mudança deve servir de “alerta” para os decisores políticos, dada a possível ameaça que representa para os actuais compromissos da UE – incluindo o apoio à Ucrânia e o Acordo Verde Europeu.
“As conclusões do nosso novo estudo indicam que a composição do Parlamento Europeu se deslocará acentuadamente para a Direita nas eleições deste ano, o que poderá ter implicações significativas para a capacidade da Comissão Europeia e do Conselho de levar por diante os compromissos ambientais e de política externa, incluindo a próxima fase do Pacto Ecológico Europeu”, afirma Kevin Cunningham.
Comentando as implicações políticas destes resultados, Simon Hix, coautor e presidente da cadeira de política comparada Stein Rokkan do Instituto Universitário Europeu de Florença, recordou a situação mundial em que vivemos: “Num contexto de populismo agitado, que poderá atingir um novo pico com o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA no final deste ano, os partidos das correntes políticas dominantes têm de acordar e fazer um balanço claro das exigências dos eleitores, reconhecendo simultaneamente a necessidade de uma Europa mais interventiva e poderosa na cena mundial.”
Os partidos “populistas” anti-europeus estão em vias de emergir como os principais vencedores das próximas eleições europeias, com as projecções a mostrarem que estarão no topo das sondagens em países como a Áustria, a França e a Polónia, e que terão um forte desempenho na Alemanha, Espanha, Portugal e Suécia em Junho de 2024. O declínio previsto do apoio aos partidos centristas até agora dominantes, juntamente com um aumento dos partidos extremistas e dos partidos mais pequenos, é susceptível de colocar ameaças significativas a pilares cruciais da agenda europeia, incluindo o Pacto Ecológico Europeu, as políticas migratórias, a continuação do apoio à Ucrânia e, mesmo, o futuro do alargamento da UE.
O Chega pode passar a AD
Em Portugal as principais alterações, dadas pelo estudo, são a subida da Extrema-Direita, podendo eleger quatro euro-deputados, e a perda de três euro-deputados no grupo da Esquerda, que na anterior eleição tinham eleito dois do BE e dois da CDU.
O grupo da Esquerda tem um desempenho desigual, subindo significativamente na Irlanda e Alemanha, e descendo em Portugal, por exemplo. No entanto, fica por saber se se passará assim, porque ainda não é claro em que grupo europeu se vai incorporar o novo partido de Esquerda alemão anti-imigrante e a coligação espanhola Sumar.
Sobre a subida da Extrema-Direita em Portugal, Almeida Ribeiro, director da empresa de sondagens Aximage caracteriza, para o DN, as regras que têm mapeado a política portuguesa: “O eleitorado português está dividido em em dois hemisférios: Esquerda e Direita. E dentro da Direita está a ocorrer um fenómeno de transferência de pessoas e votantes para as novas formações políticas. E verdadeiramente a única novidade é o Chega – no estilo, na linguagem, nos temas e fixou-se naquilo que as pessoas querem ouvir e não naquilo que os líderes querem dizer. Esta é uma característica clássica destes partidos populistas e de Extrema-Direita. É uma das coisas que explica a atracção que eles exercem sobre o eleitorado jovem: são novidade, dizem as coisas de uma forma não habitual , hostil e provocatória.”
Para Almeida Ribeiro, as nossas sociedades reconfiguram-se e estilhaçaram-se. “As sociedades contemporâneas modernas fragmentaram-se e tribalizaram-se. Isso tem muito que ver devido a não serem tão homogéneas e aos próprios dispositivos de comunicação e as redes sociais.”
Os conflitos sociais deixaram muitas vezes de serem expressão das desigualdades económicas, defende o director da Aximage. “Hoje os fenómenos ligados à pobreza e às desigualdade estão mais associados aos subúrbios , à imigração e a franjas de população que não constituem o grosso do eleitorado. Por isso é que eu não associo o crescimento da Extrema-Direita a questões económicas, como tradicionalmente se pensava, em países industrializados que tinham uma classe operária forte e partidos que representavam esses sectores. As sociedades alteraram-se.”
Uma das bandeiras da Extrema-Direita populista é o perigo da imigração, mas se formos a ver as estatísticas são menos de 7% os emigrantes fora da Europa na União Europeia. Sobre isso, Almeida Ribeiro alerta que há pesos diferentes e superiores em outros países e afirma que, mais que sobre factos, a Extrema-Direita concentra-se no medo que projeta: “Enquanto os partidos políticos de protesto tradicional exploravam as questões relacionadas com a exploração, os partidos populistas de Extrema-Direita exploram o medo. Todo o discurso deles é para provocar medo e emoções e transformar isso em voto. Isso é um dos segredos da sua atractividade”.
Para o director da Aximage ainda não se atingiu o limite do crescimento do Chega em Portugal: “É possível um cenário em que o Chega ultrapassa a AD. Há sempre um cisne negro à espera. Os sinais estão à vista, não só o número de votos, mas da transferência de pessoas dos partidos tradicionais de Direita para o Chega”.
Os resultados das próximas eleições no Parlamento Europeu podem servir de precursor para outras eleições nos Estados-Membros, incluindo na Áustria, Alemanha e França.
Na Áustria, qualquer aumento de apoio ao FPÖ pode prolongar-se até às eleições nacionais, previstas para Outubro de 2024, enquanto o desempenho da AfD alemã, nas europeias, pode dar mais força à Extrema-Direita germânica para as eleições parlamentares em 2025. Entretanto, a França encontra-se num momento crucial. No meio de uma taxa de desaprovação de 70% do Governo de Emmanuel Macron e de um apoio crescente ao partido de Direita radical de Marine Le Pen, o Presidente francês remodelou recentemente o seu Executivo, marcando uma mudança pronunciada para a Direita, adoptando medidas restritivas para a imigração. Estas medidas , juntamente com os resultados das eleições europeias de Junho, poderão marcar o tom das eleições presidenciais do país em 2027.
Tópicos de uma grande mudança política
Viragem política: As eleições para o Parlamento Europeu de 2024 assistirão a uma grande viragem à Direita em muitos países, com os partidos populistas da Direita radical a ganharem votos e eleitos em toda a UE, e partidos de Centro-Esquerda e verdes a perder votos e euro-deputados.
Geografia da mudança: É provável que os populistas anti-europeus estejam no topo das sondagens em nove Estados-membros (Áustria, Bélgica, República Checa, França, Hungria, Itália, Países Baixos, Polónia e Eslováquia) e em segundo ou terceiro lugar em outros nove países (Bulgária, Estónia, Finlândia, Alemanha, Letónia, Portugal, Roménia, Espanha e Suécia).
O fim do Centrão: De acordo com o estudo, quase metade dos lugares serão ocupados por deputados fora da “super coligação” dos três grupos centristas.
Maioria de Direita: Uma coligação populista de Direita, composta por democratas-cristãos, conservadores e deputados da Direita radical dominará o novo Parlamento Europeu. A Direita populista somada ao Partido Popular Europeu, da Direita clássica, poderá obter, pela primeira vez, uma maioria de lugares.
Mudança dramática de políticas: Esta “viragem à Direita” terá consequências significativas para as políticas a nível europeu, o que afetará as escolhas de política externa que a UE pode fazer, em especial questões ambientais, em que a nova maioria se oporá a uma ação ambiciosa de Bruxelas para fazer face às alterações climáticas. São também certas alterações mais radicais na política de imigração.
Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: https://www.dn.pt/222809687/extrema-direita-ja-nao-quer-sair-da-uniao-europeia-basta-conquista-la/
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É especialmente auspicioso que a presença nacionalista no parlamento europeu já tenha servido para que ali se aprovassem medidas contra a iminvasão - o que comprova o que tenho dito desde há anos, praticamente sozinho neste país: a Democracia leva água ao moinho do Nacionalismo. Tanto é isto verdade que um dos analistas chega ao ponto de dizer que, neste âmbito, «os políticos dizem o que o povo quer ouvir e não o que os políticos querem dizer», isto é oiro, absolutamente oiro: isto reforça a evidência do que digo, para ajudar a perceber o poder que o Nacionalismo alcança, que até faz a classe política ter de prescindir da merda dos seus valores e discursos que agradam à sua laia das elites para começar a dizer o que realmente agrada ao povo.
É também bom sinal que tenha já aparecido um partido de Esquerda alemão que também é contrário à imigração - significa porventura que a anti-imigração está a extrapolar a sua tradicional circunscrição nos sectores mais radicais da Direita, tornando-se cada vez mais «mainstream».
Quanto à retórica intelectualista sobre a motivação da votação «fascista», a do «medo», tem piada que, recentemente, um antropólogo norte-americano veio dizer que o que realmente motiva a Ultra-Direita não é o medo e sim o ódio... No que respeita medos, pois medos há muitos - e aquele que aqui bem salta à vista é o medo, o medinho, o cagaço puro, o medíssimo, que as elites sentem nas tripas assim que aparece no horizonte uma formação política nacionalista, e este pavor é justificado pelo facto, bem conhecido e mal disfarçado pelas elites, de que o Nacionalismo é, de facto, a tendência política com mais potencial de crescimento no seio das classes populares, pois que o Nacionalismo mais não é do que o tribalismo em forma sistematizada e regular, o apelo da estirpe, da raça, do sangue, a ser trabalhado para se transformar num cristal de brilho e dureza inigualáveis...
No que respeita ao título, pois aí tenho de dizer que também já ando a dizer isso há anos: a UE em si significa apenas a união dos Europeus em posição relativamente igualitária, o que só pode ser bom, sobretudo para os países mais pequenos, e a Portugal em particular já foi de algum modo útil, pois que o pacote de medidas anti-imigração que foi aprovado no parlamento europeu não passaria no parlamento tuga (português é outra coisa), que ainda está longe de ser maioritariamente nacionalista; os Europeus precisam inequivocamente de estar unidos diante dos poderios imperiais do resto do planeta, nomeadamente o da China, nenhuma potência da Europa Ocidental pode isoladamente enfrentá-los; o resto é estrutura que se pode esvaziar em matéria de valores, até certo ponto, para a preencher com outros valores...