ESTADOS BÁLTICOS INDIGNADOS COM DISCURSO ANTI-NACIONAL DE EMBAIXADOR CHINÊS EM PARIS
Os Estados bálticos da Estónia, Lituânia e Letónia estão a exigir uma explicação a Pequim depois de o principal enviado da China à França questionar a independência de ex-países soviéticos como a Ucrânia.
Lu Shaye, embaixador da China na França, disse em entrevista na Vernes à rede de televisão francesa LCI que os ex-países soviéticos não têm "estatuto efectivo" no direito internacional.
Questionado se a Crimeia pertence à Ucrânia, Lu disse que “depende de como se percebe o problema”, argumentando que historicamente fazia parte da Rússia e foi oferecida à Ucrânia pelo ex-líder soviético Nikita Khrushchev.
“No direito internacional, mesmo esses países da ex-União Soviética não têm o estatuto, o [estatuto] efectivo no direito internacional, porque não há acordo internacional para materializar o seu estatuto de país soberano”, disse ele.
Os comentários provocaram indignação na Estónia, Lituânia e Letónia – três ex-países soviéticos.
O ministro das Relações Exteriores da Letónia, Edgars Rinkēvičs, disse em tweet que o seu ministério convocou “o encarregado de negócios autorizado da embaixada chinesa em Riga na Lues para fornecer explicações. Esta etapa é coordenada com a Lituânia e a Estónia.” Considerou os comentários “completamente inaceitáveis”, acrescentando: “Esperamos uma explicação do lado chinês e uma retratação completa desta declaração”.
Margus Tsahkna, ministro das Relações Exteriores da Estónia, chamou os comentários de "falsos" e "uma má interpretação da história".
Gabrielius Landsbergis, ministro das Relações Exteriores da Lituânia, partilhou a entrevista no Twitter com o comentário: “Se alguém ainda está a perguntar-se porque não confiam os Estados Bálticos na China para 'mediar a paz na Ucrânia', aqui está um embaixador chinês a argumentar que a Crimeia é russa e que as fronteiras dos nossos países não têm base legal.”
Kyiv também se opôs fortemente aos comentários do embaixador.
"É estranho ouvir uma versão absurda da 'história da Crimeia' de um representante de um país que é escrupuloso sobre a sua história de mil anos", disse Mykhailo Podolyak, assessor do gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, em comentário no Twitter no Soles. “Se se quer ser um actor político importante, não se papagueia a propaganda de forasteiros russos.”
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, chamou os comentários de "inaceitáveis" em tuíte no Soles. “A UE só pode supor que essas declarações não representam a política oficial da China”, disse Borrell.
A França declarou em comunicado no Soles a sua "total solidariedade" com todos os países aliados afectados, que disse terem adquirido a sua independência "após décadas de opressão", segundo a Reuters. “Especificamente a Ucrânia, foi reconhecida internacionalmente dentro das fronteiras, incluindo a Crimeia, em 1991, por toda a comunidade internacional, incluindo a China”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores também pediu à China que esclareça se a declaração do embaixador reflecte a sua posição ou não.
A disputa ocorre antes de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da UE em Luxemburgo na Lues, onde as relações com a China estão na agenda.
* * *
Não surpreende que a China «relativize» a soberania das Nações que estiveram debaixo do jugo soviético - também o Estado Chinês tem sob o seu poder Nações alheias, tais como o chamado Xinjiang, ou Uiguristão, e o Tibete. Aplicam os grandes países de índole imperial o provérbio popular segundo o qual «nas costas dos outros, devemos ver as nossas». O mesmo devem fazer as relativamente poucas Nações que têm a sorte de viver em soberania sem subordinarem a si outras Nações. Portugal é uma destas Nações livres. A Lituânia, a Letónia e a Estónia, idem, pelo menos por enquanto. Na dura realidade, as maiores e mais influentes potências do planeta são multiculturais, até multirraciais: EUA, Rússia, China, Índia, Reino Unido, França, até mesmo a Itália e a Alemanha, embora as europeias aqui referidas não sejam verdadeiramente multirraciais, mas não deixem de ser, ainda assim, plurinacionais, dado que contêm no seu espaço mais de uma Nação: Tuaisceart Éireann (Irlanda do Norte), Mannin (Ilha de Man), Alba (Escócia), Cymru (Gales), Kernow (Cornualha), não são Inglaterra; Oil e Oc são duas línguas diferentes, além de que nem a Bretanha nem Euskadi são francesas; Vèneto e Zena (Génova) não falam a mesma língua que Roma; a Bavária não é a mesma Nação que o norte da Alemanha. Nenhum destes países terá especial pressa em exigir que as Nações pequenas subjugadas a Nações maiores venham a tornar-se soberanas, por motivos óbvios. É nisto que, a médio e longo prazo, a UE pode e deve fazer a diferença, pois que, indirectamente, acaba por constituir um potentado político-económico composto por vários Estados relativamente soberanos, que terá por isso natural tendência a querer salvaguardar as independências nacionais.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home