sexta-feira, dezembro 09, 2022

SOBRE O JOGO DUPLO DO CATAR

O recente encontro ocorrido em Doha, no Catar, entre o grupo palestino Hamas e os Talibãs do Afeganistão foi mais um exemplo do jogo duplo do Qatar em abrigar e patrocinar extremistas islâmicos e concomitantemente fazer de conta ser aliado dos EUA e de outros países do Ocidente.
O encontro que teve lugar a 26 de Outubro, contou com a presença de Ismail Haniyeh, líder do Hamas que, juntamente com outras autoridades do grupo islamista, foi-se relocando nos últimos anos da Faixa de Gaza para o Qatar.
No ano passado, Haniyeh, agora sediado em Doha, de pronto telefonou para os líderes talibãs para " felicitá-los" a respeito da "derrota da ocupação americana no Afeganistão". Haniyeh salientou que o Hamas vê a retirada dos EUA do Afeganistão como prenúncio da eliminação de "todas as forças da injustiça", em especial Israel.
Sem a menor sombra de dúvida, cada palavra emitida pelos líderes do Hamas tem que ser aprovada pelos governantes do Qatar. Se estes governantes não quisessem que os líderes do Hamas incitassem à violência contra Israel e os EUA, ter-lhes-iam dito para que ficassem de bico fechado já há muito tempo.
Em suma, os líderes do Hamas estão a usar o Qatar como plataforma para o apelo à destruição de Israel. No entanto, não parece que os governantes do Catar nem os seus aliados no Ocidente, incluindo os EUA, se incomodem com isso.
Estamos a falar daquele mesmo Catar cujos líderes afirmam que condenam quaisquer actos de terrorismo e de extremismo violento. Recentemente, Abdullah bin Ibrahim Al-Hamar, embaixador do Catar na Espanha, reiterou a "determinação do Catar em aproveitar o conhecimento moderno e todas as ferramentas possíveis para eliminar o flagelo do terrorismo e o extremismo violento que conduz ao terrorismo".
Consoante com os preceitos do jogo duplo, fica claro que as palavras do embaixador do Catar foram dirigidas ao público estrangeiro, não ao público árabe.
Na melhor das hipóteses, é preocupante que um condado que abriga a liderança de um grupo palestino que realizou milhares de ataques terroristas contra Israel esteja a falar sobre o desejo do Catar em ajudar a eliminar o terrorismo e o extremismo.
E também é preocupante que o Catar esteja a fazer contribuições financeiras ao Escritório de Contra-terrorismo das Nações Unidas com o objectivo de evitar ataques terroristas, proteger alvos vulneráveis e ajudar na recuperação de vítimas de ataques terroristas, enquanto continua a injectar milhões de dólares na Faixa de Gaza, encorajando assim o Hamas, cujos líderes e o estatuto do grupo pleiteiam a violência e pedem a destruição de Israel.
Haniyeh não é o único líder do Hamas que vive do patrocínio do Catar. Inúmeros líderes do Hamas, entre eles Khaled Mashaal, Hussam Badran, Izzat al-Risheq e Sami Khater, também foram recebidos de braços abertos para transferirem os seus escritórios e residências para o país do Golfo.
Além de hospedar os líderes do Hamas e suas respectivas famílias, o Catar tem doado milhões de dólares aos palestinos da Faixa de Gaza governada pelo Hamas. Embora a maior parte do dinheiro vá para as famílias menos favorecidas, a assistência do Catar ajuda indirectamente o Hamas a manter-se no poder. A generosidade do Catar isenta o Hamas das suas responsabilidades para com os palestinos que vivem sob o seu governo na Faixa de Gaza e permite que o grupo terrorista direccione esses recursos e esforços para a construção de túneis para atacar Israel e fabricar armas, incluindo foguetes, em preparação para a próxima guerra no intuito de destruir Israel.
Os líderes do Hamas são via de regra criticados pelos Palestinos e outros árabes por levarem uma vida abastada no Catar, enquanto conclamam o seu povo na Faixa de Gaza a continuar a jihad (guerra santa) contra Israel.
É obvio, no entanto, que o Catar borrifa-se para as necessidades do «povinho» palestino, como por exemplo o estímulo da economia e o melhoramento das condições de vida. O que interessa mesmo é abraçar os líderes do Hamas para que o Catar saia bem na fotografia diante dos árabes e muçulmanos como o principal apoiante da "resistência" palestina, eufemismo da "luta armada" contra Israel.
A presença dos líderes do Hamas no Catar não surpreende os que estão por dentro da história do país do Golfo de financiar a Irmandade Muçulmana, da qual o Hamas é uma ramificação.
Por décadas a fio, o Catar abraçou calorosamente o já falecido Sheikh Yusuf al-Qaradawi, um estudioso egípcio que chefiou a organização islâmica radical União Internacional dos Estudiosos Muçulmanos. Por meio desta organização, ele concentrou e coordenou a actividade de estudiosos islâmicos radicais ao redor do mundo, muitos dos quais integrantes da Irmandade Muçulmana. Segundo um relatório do Centro de Informações de Inteligência e Terrorismo Meir Amit, "Qaradawi é mais conhecido como peça-chave na formação do conceito de jihad violenta, foi ele que deu sinal verde para que fossem realizados ataques terroristas, incluindo atentados suicidas contra cidadãos israelitas, forças dos EUA no Iraque e também contra alguns regimes árabes... Por conta da postura de Qaradawi em relação à jihad violenta, ele foi proibido de entrar em vários países. Em 1999, foi proibido de entrar nos EUA. Em 2009, foi proibido de entrar na Grã-Bretanha por ter apoiado atentados suicidas em Israel. Entre os anos de 2013 e 2018, foi colocado na lista de procurados da Interpol a pedido da polícia egípcia."
Apesar do apoio público de Qaradawi ao terrorismo e ao discurso incendiário, os catarenses continuaram a dar cobertura a ele e a muitos dos seus seguidores, bem como aos líderes do Hamas, transformando assim o emirado em centro de disseminação da jihad e do terrorismo global.
Os catarenses são donos da rede de TV Al-Jazeera, cujo canal árabe há muito é considerado uma plataforma da Irmandade Muçulmana e um veículo do indefensável. Durante a Guerra do Iraque, "foram transmitidas imagens horripilantes de soldados ocidentais mortos. Atentados suicidas foram retratados como 'operações paradisíacas' pelos apresentadores do canal e actividades terroristas foram apresentadas como actos de 'resistência'". Qaradawi "transmitia sermões para 60 milhões de telespectadores e dizia que o Holocausto era um 'castigo divino', que ele fazia votos para que ele fosse repetido."
De um lado a Al Jazeera demanda "liberdade de imprensa", de acordo com Akhtam Suliman, ex-correspondente da rede em Berlim, de outro, "é uma rede integralmente estatal, cujas 'reportagens estão rigorosamente alinhadas com a política externa do Catar'".
O Xeque Hamad bin Jassim, ex-primeiro-ministro do Catar, teria, segundo consta, confirmado que a Al-Jazeera é controlada pela Irmandade Muçulmana. O canal árabe da Al-Jazeera também é conhecido pelo seu tom raivoso anti-Israel e anti-EUA, bem como o incitamento contra vários chefes de Estado e regimes árabes que há muito são considerados tradicionais e leais aliados dos Estados Unidos no mundo árabe.
Foi esse papel destrutivo que em 2017 levou quatro países árabes, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egipto, a romperem relações diplomáticas com o Catar. Os quatro países também proibiram a entrada de cidadãos do Catar nos seus países e fecharam todas as fronteiras com o Catar. Segundo a oficial Agência de Imprensa Saudita, o reino rompeu relações com o Catar "para proteger a segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo". Os sauditas acusaram o Catar de "abraçar vários grupos terroristas e sectários cujo objectivo é o de desestabilizar a região, entre eles encontram-se os grupos Irmandade Muçulmana, Daesh (ISIL) e Al-Qaeda, que promovem constantemente a literatura e os planos desses grupos por meio dos seus média, apoiam as actividades de grupos terroristas apoiados pelo Irão na província de Qatif na Arábia Saudita e no Bahrein, o contínuo financiamento, adopção e abrigo de extremistas que procuram minar a estabilidade e a unidade em casa e no exterior, além de usar os média para alimentar o conflito interno."
No mesmo ano, os quatro países árabes colocaram 59 indivíduos e 12 organizações sediadas ou financiadas pelo Catar numa lista de terroristas. Na lista constava Yusuf al-Qaradawi.
Faz um tempão que o Catar aloja a maior base aérea dos EUA no Médio Oriente; no entanto, o Catar não dispõe a base por amor aos Americanos e sim como estratagema para desviar a atenção do apoio que dá à Irmandade Muçulmana e a outros grupos extremistas. O Catar pode até ter convencido alguns americanos de que está a fazer um favor aos EUA ao permitir a presença da base aérea dos EUA no seu território. Deve ser uma mão na roda exportar o terrorismo e ao mesmo tempo usufruir da protecção militar dos EUA no seu próprio solo.
Vale lembrar que a presença da base militar no seu solo não impediu o Catar de prosseguir com a retórica anti-Israel e anti-EUA e encorajar a jihad global e o extremismo. "O incitamento contra os EUA na Al-Jazeera ao longo dos anos não se limitou a inúmeros exemplos de desinformação ou discurso de incitamento ao ódio, mas sim chamamentos ao terrorismo em território americano", de acordo com um relatório do Middle East Media Research Institute (MEMRI).
"Quando a Al-Jazeera deu total cobertura a um discurso ocorrido em 2009 do proeminente académico e político islamista do Kuwait, Dr. Abdullah Al-Nafisi... ele não só teceu críticas à política externa dos EUA... como também promoveu a ideia de conduzir actos terroristas dentro dos EUA, seja por meio do uso do anthrax ou por meio de ataques a usinas nucleares."
Foi a Al-Jazeera que projectou o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, a líder árabe e muçulmano. Em Julho de 2001, um apresentador da Al-Jazeera elogiou-o, qualificando-o como "esbelto Bin Laden que fez a maior potência da história (Estados Unidos) tremer ao som do seu nome".
A Al-Jazeera forneceu uma plataforma a clérigos islamistas que incitam a violência contra judeus e americanos. "Conquistaremos o mundo", ressaltou Ahmad Al-Baghdadi, um dos clérigos, "para que 'não haja outro Deus a não ser Alá e para que Maomé o Profeta de Alá' seja triunfante sobre as cúpulas de Moscovo, Washington e Paris... vamos aniquilar a América."
Em Julho de 2021, o Departamento de Estado dos EUA lançou uma investigação sobre a alegação de apoio do Catar à Guarda Revolucionária do Irão.
Antecedendo a Copa do Mundo de Futebol em Doha, os catarenses não mediram esforços para embelezar a imagem na opinião pública mundial e ocultar o seu papel, de longa data, de abrigar terroristas e encorajar o terrorismo e o extremismo.
Por conta do Campeonato do Mundo em Doha, o Catar está a fazer bonito diante do Ocidente, o que faz parte da cartada de continuar a enganar os Americanos e outros, fazendo-os acreditar que os catarenses estão a contribuir para a segurança e a estabilidade do Médio Oriente.
Acontece que o Catar não é amigo dos Estados Unidos nem dos seus aliados árabes. Na realidade, o endosso do Catar à jihad global continua a ser uma fonte de intensa preocupação para muitos árabes, que estão-se a perguntar quando é que os EUA vão acordar e enxergar o modo como os Catarenses têm usado a sua riqueza para subverter os Estados Unidos, inundando-o de presentes, incluindo contribuições financeiras para universidades e think-tanks dos EUA.
Enquanto o Catar continuar a financiar e a alojar a liderança do Hamas e, enquanto o Catar continuar a usar a Al-Jazeera para encorajar a jihad e o extremismo, o único jogo que o emirado está a jogar, além do Campeonato do Mundo, é o jogo bem-sucedido de aldrabar aos Americanos.
-
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém.
*
Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/19187/catar-jogo-duplo

* * *

Seja o governo catarense um coito de islamistas ou simplesmente de ocidentalizados mais ou menos moderados com necessidade de dar uma no cravo outra na ferradura de modo a ficar bem com ambos os lados do confronto, do que não restam dúvidas é que, em qualquer dos casos, o poder dos «radicais» é bem claro e mortalmente inimigo do Ocidente.

1 Comments:

Blogger lol said...

Na copa tinha muitas bandeiras palestinas nas torcidas arabes

14 de dezembro de 2022 às 00:59:00 WET  

Enviar um comentário

<< Home