A DUPLICIDADE DA TURQUIA COM A RÚSSIA E O OCIDENTE
O "acto de equilíbrio" da Turquia durante a invasão russa da Ucrânia é o resultado de duas décadas de doutrinação de uma geração de turcos pelo líder islâmico do país para torná-los "piedosos". O presidente Recep Tayyip Erdoğan pode ou não ter criado gerações piedosas, como ele declarou ser sua missão política, mas criou definitivamente uma geração anti-ocidental. Este sentimento anti-ocidental torna mais uma vez a Turquia no estranho da OTAN.
Líderes ocidentais encolheram os ombros quando, em 2016, Erdoğan disse em linguagem simples que a Turquia não precisava de se juntar à União Europeia "a todo custo" e poderia tornar-se parte de um bloco de segurança dominado pela China, pela Rússia e por países da Ásia Central. Anteriormente, em 2013, a Turquia tinha-se inscrito como "parceiro de diálogo" dizendo que partilhava "o mesmo destino" que os membros da Organização de Cooperação de Xangai - China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão - que foi formada em 2001 como bloco de segurança regional.
Os mesmos líderes ocidentais pareciam bobos quando ficaram "chocados" com a decisão turca de 2019 de comprar o sistema de mísseis terra-ar S-400 de fabricação russa. Simplesmente não perceberam que a Turquia há muito era um aliado da OTAN apenas a meia haste.
A popularidade de Erdoğan, desde que chegou ao poder em 2002, tem funcionado como instrumento de auto-envenenamento na sociedade turca, alimentando cada vez mais o sentimento anti-ocidental, particularmente o anti-americanismo. A opinião do público turco sobre a invasão russa da Ucrânia hoje é uma consequência inevitável. Uma pesquisa do German Marshall Fund of the US (GMFUS) descobriu que quase 84% dos Turcos querem que o seu país seja mediador ou permaneça neutro – 10 vezes mais do que aqueles que querem que a Turquia apoie apenas a Ucrânia. Por outras palavras, 84% dos Turcos não apoia a Ucrânia no conflito.
O pesquisador turco MetroPoll descobriu em Março que menos de metade (49,3%) dos entrevistados acha que a Turquia deveria ser membro da UE, abaixo dos 80% no início dos anos 2000. A mesma pesquisa também indicou que 48% do público turco pensa que os EUA e a OTAN são responsáveis pela situação na Ucrânia. Os tTurcos também acham que a Rússia é o terceiro parceiro mais importante do seu país.
De acordo com a pesquisa GMFUS, quase seis em cada 10 turcos (58,3%) vêem os EUA como a maior ameaça ao país, enquanto 31% disse que é a Rússia e 29% disseram que é Israel. A porcentagem de turcos que dizem que os EUA devem ajudar a resolver problemas globais é de apenas 6%.
Enquanto envia mensagens sorridentes de reconciliação ao Ocidente e aos parceiros do Ocidente no Médio Oriente, incluindo Israel, Erdoğan continua a alimentar sentimentos anti-ocidentais na Turquia. Falando na inauguração de uma madrassa (sede islâmica de aprendizado) a 15 de Abril, Erdoğan falou sobre "estes dias em que a cultura e o estilo de vida ocidentais invadiram o mundo inteiro".
Ecoando a obsessão ideológica do seu chefe, o ministro do Interior, Süleyman Soylu, disse em entrevista a 14 de Março que a guerra na Ucrânia mostra que a "ONU, a OTAN e as instituições globais estão a falir" e "a UE já não é significativa como comunidade". Soylu afirmou que o Kremlin apenas reagiu contra os esforços dos EUA para conter a Rússia "no momento em que a vulnerabilidade dos EUA e da UE atingiu um pico sob a pandemia". A guerra, no pensamento de Soylu, simboliza o fim da globalização à medida que os Estados-Nação sobem ao poder.
Quando não estão a ler jornais pró-Erdoğan, os tTurcos estão a assistir a canais de televisão pró-Erdoğan com comentaristas que culpam Washington pela guerra e a expansão da OTAN para leste. Um conhecido almirante saudou a invasão russa da Ucrânia como "um passo para acabar com a era imperialista atlanticista", e outro afirmou que Moscovo foi enganada no conflito para que pudesse ser enfraquecida nos próximos anos. Outros disseram que Moscovo não estava a massacrar pessoas e, na verdade, estava a abrir uma oportunidade para a paz ao não tomar Kiev.
Desde o início da agressão russa, algumas das acções turcas confusas que reflectem as direcções confusas do país incluem:
- a 25 de Fevereiro, a Turquia absteve-se de votar sobre a suspensão da participação da Rússia na maioria dos órgãos do Conselho da Europa em resposta à operação militar na Ucrânia. "Durante a votação em Estrasburgo, a Turquia decidiu abster-se", disse o ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavuşoğlu. "Não queremos romper o diálogo com a Rússia."
- em editorial publicado no Wall Street Journal, o ex-funcionário da CIA Paul Kolbe sugeriu que "a Turquia deveria enviar à Ucrânia os sistemas de defesa anti-mísseis S-400 fabricados na Rússia". A Turquia, no entanto, descartou a ideia de enviar os seus mísseis S-400 à Ucrânia para ajudar Kiev a resistir às tropas russas.
- embora a Turquia tenha bloqueado alguns navios russos no seu bloqueio do Mar Negro à Ucrânia, de acordo com o almirante aposentado dos EUA James Stavridis, "este é um bloqueio ilegal em todas as dimensões - sem guerra declarada, sem auto-defesa envolvida, violação ilegítima e flagrante dos direitos internacionais. Concebido para matar de fome a população e quebrar a economia. Mais um exemplo de comportamento criminoso russo." Ninguém, é claro, responsabilizou a Rússia. A Turquia, de facto, bloqueou todas as embarcações navais, incluindo os navios da OTAN, o que deve deixar a Rússia feliz - mas não os suprimentos.
- enquanto os governos ocidentais atacavam Roman Abramovich e vários outros oligarcas russos com sanções para isolar Putin e seus aliados, um segundo super-iate ligado ao bilionário russo atracou num resort turco. Uma fonte em Ancara disse à Reuters que Abramovich e outros russos ricos procuravam investir na Turquia, dadas as sanções impostas em outros lugares. "Ele quer fazer algum trabalho e pode comprar alguns activos", disse a fonte, acrescentando que o oligarca já tinha alguns activos na Turquia. Outra fonte em Ancara disse que a Turquia não está a considerar aderir às sanções e espera que russos ricos comprem activos e façam investimentos.
- Çavuşoğlu disse a 26 de Março que "os oligarcas russos são bem-vindos na Turquia". A mensagem foi tomada. A 16 de Abril, o Clio, um super-iate de propriedade do magnata russo Oleg Deripaska, chegou ao porto turco de Göcek. Deripaska, fundadora da gigante russa de alumínio Rusal, foi sancionada pelos EUA, UE e Grã-Bretanha.
- o governo de Erdoğan anunciou a criação de uma companhia aérea, a Southwind, com o objectivo de levar turistas russos a resorts e atracções na Turquia. Isto faz parte de um entendimento turco-russo de que a Rússia continua a usar o espaço aéreo turco tão livre como se nunca tivesse invadido a Ucrânia.
- O Wall Street Journal informou em manchete que "Super-iates, apartamentos à beira-mar e malas cheias de dinheiro: russos despejam dinheiro na Turquia". O artigo dizia que dezenas de milhares de russos fugiram para a Turquia com malas cheias de dinheiro, iates, jactos particulares e outros bens: "Os russos estão a comprar casas e outras propriedades na Turquia, aproveitando a lei que permite que estrangeiros se tornem cidadãos turcos se investirem pelo menos US$250000. Muitos russos conseguem contornar as sanções ocidentais transferindo o seu dinheiro de bancos russos para turcos e convertendo os seus rublos para liras turcas ou outras moedas. Todos os países membros da OTAN, com excepção da Turquia, impuseram sanções severas à Rússia, impedindo os seus cidadãos de transferir o seu dinheiro para fora do país, impedindo as companhias aéreas russas de voar para países ocidentais e confiscando os super-iates e jactos particulares dos oligarcas. Recusando-se a impor sanções à Rússia, a Turquia está a tentar reviver a sua economia falida gerando fundos desesperadamente necessários... O banco central da Turquia arrecadou cerca de US$3 biliões em apenas dois dias em meados de Março... Este dinheiro era provavelmente composto em grande parte por depósitos de russos."
É assim que a Turquia, aliada da OTAN, está a "lutar" na batalha ocidental contra a agressão russa. Em troca, o governo Biden parece estar a recompensar Erdoğan.
A administração Biden, evidentemente, a mando da Turquia, tentou matar o projecto do gasoduto EastMed, que poderia fornecer gás de Chipre e Israel, via Grécia, para a Europa.
De acordo com o membro sénior da Gatestone, Soeren Kern: "O gasoduto EastMed está em andamento há mais de uma década. O projecto Israel-Grécia-Chipre - juntamente com a Bulgária, Hungria, Macedónia do Norte, Roménia e Sérvia - há muito é visto como uma forma de diversificar o fornecimento de gás natural à Europa."
Pior ainda, o Departamento de Estado dos EUA, em carta de 17 de Março ao Congresso, disse que uma potencial venda de caças F-16 à Turquia estaria “alinhada com os interesses de segurança nacional dos EUA” e também “serviria à unidade de longo prazo da OTAN. "
A Grécia, que recentemente passou por inúmeros sobrevoos ilegais turcos, para não mencionar os últimos anos, deve estar emocionada.
A Turquia precisa de começar a agir como aliada; não como um aliado enganoso e pró-Putin.
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Burak Bekdil, um dos principais jornalistas da Turquia, foi recentemente demitido do jornal mais conhecido do país após 29 anos, por escrever no Gatestone o que está a acontecer na Turquia. É membro do Fórum do Médio Oriente.
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Fonte: https://www.gatestoneinstitute.org/18467/turkey-nato-putin-ally
2 Comments:
os turcos que tao certos euro cuckolds e ocidentais sao eunucos sem valor que preferem cultuar e dar a bunda pra trans negras que virar gente e defender a propria honra/amor proprio e do hemisferio
Não digas asneiras. Se isso fosse verdade, não estavam agora a Suécia e a Finlândia a desafiar o gigante aputinado para se juntarem à OTAN.
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