sexta-feira, novembro 08, 2019

ALUNOS DE RELIGIÃO E MORAL EM FELGUEIRAS AMEAÇADOS DE NÃO PODEREM SEQUER ENTRAR NA IGREJA SE FALTAREM ÀS AULAS...

Os encarregados de educação dos alunos do Centro Escolar de Torrados, em Felgueiras, foram avisados, na semana passada, pela escola, de que os educandos tinham de frequentar as aulas de Educação Moral Religiosa e Católica (EMRC) sob pena de as faltas serem comunicadas à Igreja Católica e as crianças ficarem impedidas de frequentar a catequese, ir à comunhão ou mesmo entrar na igreja.
Segundo a circular enviada pelo coordenador do Centro Escolar, Arménio Rodrigues, "no acto de matrícula foi feita a escolha para a frequência da disciplina" e a comunicação das faltas (à décima o aluno reprova) será feita "mensalmente à base de dados da Igreja Católica Portuguesa". Isso pode trazer consequências, ameaçava ainda, correndo os alunos "o risco de lhes ser barrado o acesso aos vários serviços da Igreja, como por exemplo a frequência da catequese, baptizados, primeira comunhão e outras celebrações, bem como não poder entrar em qualquer igreja católica portuguesa".
O JN tentou ouvir o coordenador da escola, mas sem sucesso. Já a Direção do Agrupamento de Escolas Dr. Machado de Matos - Felgueiras limita-se a confirmar a existência do comunicado e que o assunto já está a ser esclarecido, estando agendada para hoje uma reunião com os encarregados de educação".
Ministério e diocese estranham
A escola será frequentada por 63 alunos, mas o documento só terá chegado aos 48 que se inscreveram na disciplina no início do ano.
O Ministério da Educação diz que "desconhecia este comunicado, que não tem qualquer cabimento". Também a diocese do Porto teve conhecimento pela Comunicação Social. "O que é dito não espelha nenhuma orientação da Igreja. A informação é errada e a própria legislação não o permite.
O comunicado é da responsabilidade de quem o assina e não há nenhum cruzamento de dados entre a escola e a Igreja sobre a frequência desta disciplina", garante o padre Jorge Duarte, director do gabinete de informação da diocese. "Nenhuma criança foi, é ou será impedida de frequentar a catequese ou entrar na Igreja por não ir a estas aulas", frisa.
Confrontado com este caso, o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, salienta que a disciplina de ERMC é "opcional" e que deve ser respeitada "a liberdade religiosa de cada um" e estranha ainda as ameaças feitas, afirmando que este é caso "isolado e inédito" no país.
Segundo o Ministério da Educação, "o ensino religioso tem de se orientar por processos científicos e pedagógicos, partilhados por outras disciplinas e áreas curriculares", não sendo uma situação de aprendizagem alternativa à catequese.
O mesmo documento diz que a disciplina pretende ajudar alunos cristãos a "um momento de aprofundamento da visão cristã da vida" e, aos não cristãos, proporcionar o contacto com o cristianismo como fenómeno cultural e ajudá-los a definirem-se "sem exercer qualquer acção condicionadora das suas escolhas".
*
Fonte: https://www.jn.pt/local/noticias/porto/felgueiras/alunos-em-felgueiras-coagidos-a-assistir-a-aulas-de-religiao-11483263.html

* * *

Como seria de esperar, as autoridades eclesiásticas mais à vista, as principais, não podiam comprometer-se com uma merda destas. Na Europa actual, laica e tendencialmente irreligiosa, uma atitude deste tipo é facilmente causa escândalo... só em terreolas pequenas, onde a população seja mais «temente a Deus», aliás, mais obediente à Igreja, só aí é que isto pega ou pode pegar. É como as excomunhões: na Idade Média o papado usava-as como ameaça contra quem lhe desobedecesse, porque quem ficasse fora da Igreja estava queimado - hoje, ironicamente, é dificílimo ser-se excomungado, ou desbaptizado, porque estar fora da Igreja agora só prejudica a própria Igreja que assim perde números...