sexta-feira, maio 17, 2019

NACIONALISMO NA ESTÓNIA A SUBIR

A Direita nacionalista está bem implantada nos países bálticos, mas é na Estónia que a ascensão ao poder da Extrema-Direita mais pode influenciar a dinâmica de forças não só no futuro Parlamento Europeu como no Eurogrupo.
A Estónia, que aderiu à União Europeia em 2004, ao Espaço Schengen em 2007 e ao euro em 2011, realizou em Março passado eleições legislativas que ficaram marcadas pela subida do Partido Popular Conservador da Estónia (EKRE, Extrema-Direita nacionalista), a terceiro partido mais votado, com 17,8% dos votos.
Contra todas as expectativas, o EKRE, que tem no seu manifesto o afastamento de jornalistas dos "media' públicos por "falta de isenção" e segundo a imprensa local conta nas suas fileiras com elementos com ligações a movimentos supremacistas brancos e neo-nazis, conseguiu com essa votação entrar no governo de coligação, liderado pelo Partido do Centro (Centro-Esquerda).
O primeiro-ministro, o liberal Juri Ratas, afirmara em Novembro que lhe "seria impossível cooperar com um partido que discrimina determinadas nacionalidades e raças, como o EKRE", o que foi interpretado como a recusa de qualquer coligação com a Extrema-Direita, mas, após as eleições, mudou de opinião e aceitou o EKRE no gabinete, entregando-lhe as pastas das Finanças, Interior, Ambiente, Comércio Externo e Agricultura.
Martin Helme, 43 anos, o novo ministro das Finanças que já na Joves vai sentar-se pela primeira numa reunião do Eurogrupo, defende que a Estónia deve manter-se "racialmente pura" e, na tomada de posse, no parlamento, fez com a mão o sinal dos supremacistas brancos, o mesmo feito pelo autor do atentado de Christchurch, a 15 de Março na Nova Zelândia.
Apesar de ser um pequeno país de 1,3 milhões de habitantes, localizado na fronteira leste da UE, a Estónia é importante enquanto exemplo da transição económica da era soviética e do desenvolvimento da economia digital.
Para as europeias, as sondagens preveem que o EKRE consiga eleger um eurodeputado, o qual, já anunciou o partido, vai integrar-se na aliança nacionalista que o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini que formar na assembleia europeia com a líder da Extrema-Direita francesa, Marine Le Pen, que esta Martes visitou Tallin para se reunir com representantes do EKRE e de outros partidos de Direita nacionalista da região.
Martin Helme, e o pai, Mart Helme, ministro do Interior, afirmam-se admiradores do Presidente norte-americano, Donald Trump, e da combinação de nacionalismo, conservadorismo social, eurocepticismo e democracia directa, definindo-se como anti-imigração, anti-casamento homossexual e anti-aborto.
Na vizinha Letónia, o partido populista de Direita eurocéptico KPV-LV (Quem Controla O País) integra a coligação governamental liderada pelo partido de Centro-Direita Nova Era desde as eleições de Outubro de 2018, em que obteve 14,5%.
Para as europeias, no entanto, o KPV-LV quase não consta das sondagens, ficando-se por cerca de 2% das intenções de voto, sem eleger nenhum eurodeputado.
Os oito eurodeputados da Letónia no PE deverão ser repartidos por vários partidos.
O mais bem colocado nas sondagens é o partido Unidade (Centro-Direita), cujo cabeça de lista é o ex-vice-primeiro-ministro e vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovkis, que pode eleger três eurodeputados, seguido do Partido Social-Democrata Harmonia (Centro-Esquerda), com dois potenciais eleitos, e de dois pequenos novos partidos, o Nova Aliança (Direita nacionalista) e o Movimento Para! (liberal pró-europeu).
Na Lituânia, a Direita nacionalista não está no governo mas, desde 2018, o partido Ordem e Justiça apoia no parlamento o governo de coligação da União dos Agricultores e Verdes da Lituânia (Centro-Direita) e do Partido Social-Democrata Trabalhista da Lituânia.
Fundado em 2002 e desde 2004 é o terceiro maior partido no parlamento, o Ordem e Justiça (PTT) surge nas sondagens com cerca de 7% das intenções de voto, o que lhe permite eleger um eurodeputado.
Os estudos de opinião colocam na frente os democratas-cristãos do partido União Pátria (TS-LKD, Centro-Direita) com 25% e três eurodeputados, seguidos da União dos Agricultores e Verdes da Lituânia (LVZS, Centro-Direita), com 20% e dois deputados, do Partido Social-Democrata Trabalhista da Lituânia (LSDP), com 13% e dois eurodeputados e do Movimento Liberal (LRLS), com 8% e um eurodeputado.
A Letónia vota a 25 de Maio e elege oito dos 751 deputados do Parlamento Europeu, enquanto a Estónia e a Lituânia votam a 26 de maio e elegem respectivamente 6 e 11 eurodeputados.
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Fonte: https://www.jn.pt/nacional/canal/europeias-2019/interior/extrema-direita-da-estonia-estreia-se-no-eurogrupo-e-pode-entrar-no-pe-10900119.html

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O EKRE é contra o método eleitoral d'Hondt, que entretanto também se aplica em Portugal e que serve às elites reinantes para manter os partidos pequenos longe do poder... ou seja, lá, como cá, a classe político-cultural reinante sabe que precisa de fazer batota política, inutilizando na prática os votos dos partidos pequenos em localidades menores, para assim impedir a correcta representação democrática...