sexta-feira, março 15, 2019

MAIORIA DOS IBÉRICOS ACTUAIS DESCENDE DE POVOS DAS ESTEPES RUSSAS


O maior estudo já feito sobre a história genética dos habitantes da Península Ibérica, hoje divulgado, revela que os Ibéricos são maioritariamente descendentes de povos que migraram das estepes russas e que foram os Bascos que menos se misturaram depois.
O estudo, publicado na revista Science, foi liderado pela Harvard Medical School, dos Estados Unidos, e pelo Instituto de Biologia Evolutiva, de Barcelona, Espanha, tendo a colaboração de um total de 111 investigadores, incluindo portugueses, da Universidade do Minho, da Universidade de Coimbra e da Universidade de Lisboa.
Num comunicado, a Universidade do Minho (UM) diz que a região ibérica é agora, provavelmente, a mais bem caracterizada do mundo ao nível do ADN humano antigo. Pedro Soares, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental, da UM, foi um dos participantes no trabalho.
O estudo analisa a população da região hoje dividida entre Portugal e Espanha dos últimos 8.000 anos, incluindo o fluxo genético correspondente à chegada da agricultura, há 7.500 anos, as trocas genéticas com o norte de África, desde há 4.000 anos, e o grande fluxo migratório do início da idade do bronze, há 4.500 anos, a partir das estepes russas e ucranianas.
“O padrão destes migrantes representava na altura cerca de 40% do perfil genético da Península Ibérica e praticamente 100% das linhagens masculinas do território. Isso sugere que aqueles migrantes das estepes eram sobretudo do sexo masculino e, de algum modo, substituíram os homens locais”, explica Pedro Soares, citado no comunicado da UM.
Ou seja, a investigação provou que um grande número de homens da Europa central se deslocou para a Península Ibérica e se juntou a mulheres locais, substituindo a população masculina existente.
As equipas analisaram os genomas de 403 antigos ibéricos que viveram entre 6.000 A.C. e 1.600 D.C., 975 pessoas de fora da Península Ibérica e cerca de 2.900 habitantes actuais da península.
A investigação permitiu concluir que em 2.500 A.C., há 4.500 anos, não havia ancestrais recentes de fora da Península e que 500 anos depois os ancestrais por via paterna iam dar à Europa central e de leste.
Diz o estudo que 40% dos antepassados gerais e 100% dos ancestrais patrilineares (pais e pais dos pais) podem ser rastreados até aos grupos que tinham chegado das estepes russas e ucranianas.
Os investigadores consideram o resultado surpreendente. Não acreditam na possibilidade de os homens ibéricos terem sido exterminados ou deslocados à força, porque não há indícios de violência nesse período, e admitem como possível explicação que as mulheres ibéricas, por alguma razão, preferissem os recém-chegados.
Apesar de ao longo dos séculos a ascendência paterna ter continuado a evoluir, diz a equipa de investigadores que a maioria dos homens da Península Ibérica de hoje são descendentes por parte do pai daqueles recém-chegados da Idade do Bronze.
O estudo conclui ainda que os Bascos actuais são geneticamente semelhantes aos da Idade do Ferro, fazendo deles uma espécie de população típica dessa altura, o que faz supor que a ancestralidade e a língua bascas não foram afectadas depois da transformação operada pela chegada dos homens das estepes e permaneceram relativamente intactas, enquanto outros grupos à sua volta se misturaram de forma mais significativa ao longo do tempo.
Os investigadores identificaram ascendentes norte-africanos nas populações ibéricas datados de cerca de 2.000 anos antes de Cristo, indicando um fluxo dessa região para a Europa.
E já na era actual a ascendência norte-africana foi mais difundida na Península Ibérica, ocorrendo as influências genéticas muito antes da conquista árabe da Península durante o século VIII.
Revelando os principais eventos que moldaram as populações antigas da Península Ibérica, o estudo dá uma ideia dos movimentos e migrações do homem antigo.
E conclui também, por exemplo, que os grupos de caçadores-recolectores que viviam na Península Ibérica na altura do Mesolítico, cerca de 8.000 anos A.C., tinham uma composição genética muito diferente dos que viveram 5.500 antes de Cristo.
Tal sugere que já nessa altura havia migrações para a Península Ibérica, algo que conclui um outro estudo, também hoje divulgado na revista Current Biology.
Este estudo analisou os caçadores-recolectores e antigos agricultores que viviam na Península Ibérica entre há 13.000 e 6.000 anos.
Na última idade do gelo, que terminou há cerca de 12.000 anos, a Península Ibérica permaneceu relativamente quente, mantendo plantas e animais, funcionando como refúgio e recebendo migrantes do resto da Europa. A posição geográfica, ao lado do Mediterrâneo e do norte de África, terá também contribuído para essa mistura de Povos.

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Fonte: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/ibericos-descendem-na-maioria-de-povos-das-estepes-russas-revela-estudo-genetico?fbclid=IwAR3kCmG0U6F9CWLfPbDWXh2FFiytGQwFxyhlkWq4z4jRom2Y0mhDgvL7hCk
Agradecimentos a quem também aqui trouxe esta notícia.

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Falta dizer que estes Povos oriundos das estepes russas são muito provavelmente os Indo-Europeus, ou «Arianos», como em tempos se lhes chamou na historiografia europeia...
Confirma-se a notícia que já tinha sido dada aqui há tempos sobre isto - confirma-se, assim, a correspondência, grosso modo, entre genética e linguística: com a óbvia excepção dos Bascos, os actuais Hispânicos são essencialmente indo-europeus, tanto pela língua como pelo sangue. 

3 Comments:

Blogger Helena Vilaarinho said...

coisa estranha, os homens locais foram substituídos por homens da Europa central, mas sem guerras. o que seria? pilas maiores? e quando digo homens é mesmo homens, as mulheres continuaram a ser as locais. Sim de facto acredito que a substituição genética e total aglutinação se deve ao tamanho da pila das estepes :)

Agora a sério, não vá a malta do gladius não ter um sentido de humor refinado. Li o resumo esta manhã ao peq alm. necessita de mais investigação, sem duvida, para esclarecer como isto aconteceu, mas parece bastante solido que aconteceu de facto.

No Público
https://www.publico.pt/2019/03/14/ciencia/noticia/habitantes-peninsula-iberica-ultimos-8000-anos-genetica-danos-novas-pistas-1865348?fbclid=IwAR36396kFgsxiPZTTBoVCO41EauSVRX4HAvxVyvX6izLcb170MZqGJvdz-U

No DA
https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/homens-das-estepes-e-novos-misterios-a-peninsula-iberica-a-luz-da-genetica-10680408.html?fbclid=IwAR3DMnvkXA-TsTgLDSR5BLZ5ib7CHEX3Z-pzQ7PPPMrOm7HgZf5IUwKVw1c

"Na prática, podem ter sucedido muitas coisas como já sublinhava Rui Martiniano, a propósito dos seus próprios dados. "A substituição completa das linhagens anteriores no cromossoma Y, indica que esses homens do leste tiveram mais sucesso reprodutivo do que os homens do Neolítico que já cá estavam", disse o investigador, sublinhando que "é difícil" ir além desta interpretação."

403 amostras..... é "bué"

CNN
https://edition.cnn.com/2019/03/14/world/ancient-dna-iberia-study-scn/index.html?fbclid=IwAR2r_6koZ09l_Vf8K1V-on1nFQybrRDHzUKIjOfZnRfghcSLPVBC3sueXH4

We assembled genome-wide data from 271 ancient Iberians, of whom 176 are from the largely unsampled period after 2000 BCE, thereby providing a high-resolution time transect of the Iberian Peninsula. We document high genetic substructure between northwestern and southeastern hunter-gatherers before the spread of farming. We reveal sporadic contacts between Iberia and North Africa by ~2500 BCE and, by ~2000 BCE, the replacement of 40% of Iberia’s ancestry and nearly 100% of its Y-chromosomes by people with Steppe ancestry. We show that, in the Iron Age, Steppe ancestry had spread not only into Indo-European–speaking regions but also into non-Indo-European–speaking ones, and we reveal that present-day Basques are best described as a typical Iron Age population without the admixture events that later affected the rest of Iberia. Additionally, we document how, beginning at least in the Roman period, the ancestry of the peninsula was transformed by gene flow from North Africa and the eastern Mediterranean.

16 de março de 2019 às 13:06:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Vou deixar aqui algumas notas em relação ao mesmo e um percurso histórico do que se sabe,com este estudo e com alguns antigos.

1- Peninsula ibérica habitada por tribos pré históricas do paleolítico como toda a Europa ocidental, associados à Magdalenian Culture

https://en.wikipedia.org/wiki/Magdalenian

2- Aparecem os Villabrunans (os clássicos hunter gatherers), em toda a Europa ocidental que se juntam aos magdalenians na peninsula ibérica quando o gelo derreteu.

3- Invasões no neolítico (há 8000-7000 anos) povoam toda a Europa, trazem a agricultura e expandem a agricultura. Entram na Europa pela Anatólia e possivelmente também pelo norte de africa.

https://en.wikipedia.org/wiki/File:Neolithic_expansion.svg

povoam toda a Europa, são parte essencial daquilo que são os espanhois, portugueses, franceses, ingleses, alemães, italianos, e todos os europeus modernos. Hoje em dia os habitantes da Sardenha são os mais próximos e "puros" agricultores do neolítico, eram caucasianos com fortes componentes do mediterrânico.

4- Vindos das estepes, Há 4500 anos os chamados indo-europeus (que são a fonte das nossas línguas), na idade do bronze, invadem toda a Europa ocidental, substituem uma boa parte dos nativos pela via masculina, que há altura seriam parte neolítico, parte hunter gatherers, e ficam com as mulheres destes. Esta migração foi a que provavelmente deu origem aos lusitanos, ou então o fruto da assimilação destes com os vindos na idade do ferro.

5- Na idade do ferro nova vaga vinda da Europa central atinge a península ibérica, são os chamados celtas na maioria da identificações, hallstatt ou la téne, celtizam todo o ocidente da península ibérica, geram os celtiberos, as tribos que dão origem aos portugueses são sobretudo isto, sejam os lusitanos, ou galaicos. Os celticos no alentejo seriam mesmo os mais próximos dos celtas da Europa central. Já os bascos não são afectados por esta vaga.

6- A partir da idade do ferro existe alguma influência, sobretudo no levante ibérico, daquilo que seriam os gregos e os italianos, também classificados neste estudo de Aegean

https://en.wikipedia.org/wiki/Iron_Age_Europe
https://en.wikipedia.org/wiki/Aegean_civilization

16 de março de 2019 às 23:01:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

(continuação)

7- Chegada dos romanos, mudanças na língua e tudo aquilo que se sabe.
8- Visigodos e Suevos depois, e depois os Mouros.
9- Reconquista

O que já se sabia também e que este estudo também mostrou parcialmente, é que os pequenos elementos norte africanos (que são caucasianos e baixos 2%, 7%) presentes nas populações ibéricas, já estavam presentes nas populações ibéricas pré invasão muçulmana, os ibéricos antigos nalguns casos até tinham mais desses elementos que os modernos. A origem é provavelmente neolítica.

Z988314 --> I6543, Camino de las Yeseras Madrid ES, 2479–1945 BCE, C_Iberian_CA, non Beaker - 15402 SNPs, 46.37% Iberian, 34% West_Med, 2.38% North African

Z768646 --> I0839, Torres Novas Portugal, 2457-2206 BCE, Bell-Beaker - 9815 SNPs, Western Neolithic Farmer 6% Central_Euro, 4.38% North African.

Z514341 --> I0261, Barcelona ES, 2850–2250 BCE, Bell-Beaker - 7594 SNPs, 56% Iberian 5.25% North African.


Portanto o que nos disseram muitas vezes da influencia dos mouros afinal não foi bem assim, já que estes nem tiveram um impacto nos ibéricos.
Agora resta saber se esses elementos são sequer norte africanos, ou se são na realidade ibéricos, porque há quem diga que são ibéricos, já que os ibérios do neolítico também povoaram o norte de africa, então partilham alelos genéticos que são difíceis de distinguir.

As fontes de amostragem deste estudo (2019) são sobretudo da região da catalunha e do sul de Espanha seria interessante retirarem do norte da península ibérica, de castela, das asturias, da galiza e de portugal.

Hoje em dia, todos os europeus são parte agricultores do neolítico, parte vagas vindas das estepes (os chamados indo-europeus) e parte hunter gatherers.

https://i.pinimg.com/originals/cb/f7/49/cbf749c9e56c777ebb30fd670b5c3f0d.png

Os espanhois e portugueses são, em resumo, o que aconteceu na pré história. Nos últimos 2000-3000 anos poucos mudaram. Celt-iberos, acho que continua a ser a melhor descrição.

http://farm9.staticflickr.com/8445/7888154404_fbbbe00962_o.png

16 de março de 2019 às 23:02:00 WET  

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