domingo, outubro 14, 2018

SOBRE A SÍRIA DO ACTUAL REGIME LAICO

Com o fim do conflito sírio estando cada vez mais perto, como será o futuro do país e o balanço de forças da região? Analista norte-americano apresenta a sua visão e esta não é nada favorável à Casa Branca.
Após passar uma semana na Síria, Doug Bandow, ex-assessor do presidente norte-americano Ronald Reagan e colaborador da revista The National Interest, chegou à conclusão de que a política do seu país em relação à Síria foi "um fracasso desastroso".
Hoje em dia, o autor é investigador sénior no Instituto Cato, reflecte sobre o apoio significativo de que o presidente sírio Bashar Assad goza, apesar de todas as acusações contra ele, inclusive de alegadamente ser "um ditador sangrento".
"Toda essa gente viu o que a revolução impulsionada pelos EUA implicou para o Iraque e não gostou do resultado. A ocupação norte-americana não evitou as limpezas religiosas e os massacres, pois muitos dos sobreviventes fugiram para a Síria", escreve o colunista.
Além dos crentes sírios, o exército também é algo que contribui para a coesão da sociedade. Nas palavras do autor, em quase todos os edifícios do país se podem ver fotos dos soldados tombados na luta contra os extremistas, e isto converteu-se numa espécie de "identidade comum".
Para Bandow, é impossível fazer de conta que os simpatizantes de Assad não existem.
"Os EUA cometem um erro ao focar-se em Assad. Washington deveria ter-se focado na questão de 'O que é pior?' Será que o envolvimento americano teria levado a um resultado melhor? O desastre iraquiano demonstrou como os EUA conseguiram tornar a situação muito pior", opina.
O próprio autor qualifica o regime sírio como "ditadura", mas destaca umas peculiaridades importantes: "[Essa ditadura] é autoritária, não totalitária, e é secular, não religiosa. A sociedade síria surpreende-nos pela sua modernidade. Claro que há conservadores religiosos, mas os Assad, pai e filho, tal como Saddam Hussein, criaram um espaço público diverso e secular, em cujo meio a maioria dos americanos se sentiria confortável", partilha Bandow.
Aliás, observa ele, o desejo norte-americano de criar uma Síria "verdadeiramente liberal e democrática" tem sido um objectivo digno, mas nenhuma das facções armadas no país conseguiu garantir isso.
Enquanto o Exército Livre da Síria serviu para legitimar a oposição síria no cenário global, na realidade acabou sendo uma aposta débil e pouco eficaz, enquanto a sua única alternativa foram os grupos extremistas religiosos, apoiados pelas monarquias do Golfo e pela Turquia.
O governo de Assad foi a maior força na luta contra os jihadistas, relembra Bandow, e o apoio ao Exército Livre da Síria por parte dos EUA apenas enfraqueceu as forças do governo e prolongou a guerra sem ter a menor chance de assegurar a sua chegada no poder.
Além disso, os EUA têm criticado o Irão e a Rússia por apoiarem as autoridades sírias, embora tenha sido Assad quem solicitou formalmente a sua ajuda, e tenham sido os EUA que desrespeitaram a lei internacional e intervieram na Síria sem qualquer pretexto, continuaram ocupando grande parte do país soberano na esperança de conseguirem derrubar o actual governo, resume o autor.
"O regime está agora mais seguro que nunca desde 2011. A administração Trump não tem autoridade para invadir, ocupar e desmantelar uma nação estrangeira seja qual for o pretexto", enfatiza ele.
Washington não pode forçar a Rússia, o Irão e o movimento libanês Hezbollah, ou seja, todos os aliados históricos de Damasco, a deixar a Síria, diz Bandow, mas, em vez disso, deve ele próprio retirar as suas forças e ir para casa.
*
Fonte: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018101412437232-siria-assad-eua-russia-ditadura-tropas/?fbclid=IwAR2N6P5x-NUtjQHBJm0I1eKsCOMhokR99WoXHskgSKxswwgdvKyfZbKtE94

* * *

Obama deve enfiar muito mais a carapuça do que Trump... o qual disse, em debate com Hillary, que era mais prudente não auxiliar os ditos «moderados» na Síria: «não sabemos quem são essas pessoas». Acabou talvez por transigir para com o lóbi anti-sírio, mas não demasiado, suspeito... Assad continua no poder, graças à Rússia, e os EUA poderiam eventualmente fazer muito mais do que têm feito para o deitar abaixo.