segunda-feira, junho 18, 2018

SOBRE O QUE SE PASSA EM ITÁLIA

O novo ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, prometeu cortar a ajuda aos imigrantes e deportar os que estão ilegalmente no país.
"Portas abertas da Itália para as pessoas certas e uma passagem só de ida para fora do país para aqueles que vêm para cá causar problemas e achar que iremos assisti-los", salientou Salvini na região da Lombardia, domicílio de um quarto de toda a população estrangeira de Itália. "Uma das nossas principais prioridades será a deportação".
Salvini, líder do partido nacionalista (Liga), formou um novo governo de coligação com outro partido populista, Movimento 5 Estrelas (M5S) em 1 de Junho. O programa de governo, esboçado num plano de acção de 39 páginas, promete desbaratar a imigração ilegal e deportar até 500 mil imigrantes sem documentação. "A festa acabou para os imigrantes ilegais", ressaltou Salvini num comício ocorrido em 2 de Junho em Vicenza. "Eles terão de fazer as malas, de maneira educada e civilizada, mas terão de ir embora. Refugiados que estejam a fugir da guerra são bem-vindos, os demais terão de ir embora."
A 3 de Junho Salvini esteve na Sicília, um dos principais pontos de desembarque na Europa dos imigrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo, vindos do Norte de África. Disse: "Chega de a Sicília ser o campo de refugiados da Europa. Não vou ficar impassível e não fazer nada enquanto houver desembarques atrás de desembarques de imigrantes. Necessitamos de centros de deportação. "Não há moradias e empregos suficientes para os Italianos, muito menos para metade do continente africano. Temos que usar o bom senso".
Salvini também acusou as autoridades tunisinas de enviar, deliberadamente, criminosos para Itália: "A Tunísia é um país livre e democrático que não está a exportar cavalheiros e não raramente exporta de bom grado condenados. Conversarei com o meu colega tunisino, não me parece que haja guerras, pestilência ou fome na Tunísia."
A Itália é a principal porta de entrada da Europa para os imigrantes que chegam por via marítima: 119.369 chegaram pelo mar em 2017 e 181.436 em 2016, de acordo com a Organização Internacional de Migração (OIM). Estima-se que 700 mil imigrantes chegaram à Itália nos últimos cinco anos.
A Itália tem vindo a ser o principal ponto de entrada para a Europa desde a entrada em vigor do acordo migratório UE-Turquia, assinado em Março de 2016, que desactivou a rota da Turquia para a Grécia, que já foi o ponto favorito de entrada dos imigrantes vindos da Ásia e do Médio Oriente rumo à Europa.
Em Fevereiro de 2017 a Itália assinou o acordo migratório com a Líbia, que lhe dava o direito de interceptar barcos e levar de volta os imigrantes para a Líbia. Segundo o acordo, a Itália comprometeu-se a equipar e financiar a guarda costeira da Líbia, o que resultou numa redução de 75% nas chegadas, no Verão de 2017. Desde o início de 2018, no entanto, mais de 13 mil imigrantes chegaram da Líbia. O número de chegadas deve aumentar durante o Verão à medida que o tempo for melhorando.
Nesse período, a Itália deportou somente 6.514 imigrantes em 2017 e 5.817 em 2016. O novo governo prometeu acelerar as deportações convertendo os centros de recepção de migrantes em centros de deportação. No entanto as deportações são caras e complexas.
Vale dizer que, de acordo com a lei italiana, pelo menos dois agentes devem escoltar cada deportado numa operação cuidadosamente planeada. O jornal La Repubblica pormenorizou uma recente operação de deportação de 29 tunisinos: foram escoltados num avião fretado da Bulgária por 74 agentes do governo, entre os quais se encontravam médicos, enfermeiros, polícias armados e oficiais desarmados à paisana, a um custo de US$135.000 ou seja US$4.655 por deportado.
Neste ritmo, a promessa do novo governo de deportar 500 mil imigrantes custaria aos contribuintes italianos quase US$2,3 biliões.
O governo anterior desembolsou cerca de cinco biliões de euros para custear as despesas relacionadas com a  crise migratória em 2018: 20% para resgates no mar, 15% para assistência médica e 65% para os centros de recepção de imigrantes, que actualmente abrigam cerca de 200 mil pessoas.
O novo governo salientou que quer alocar parte dos fundos destinados aos centros de recepção para pagar pelas deportações. Além dos custos financeiros, a Itália enfrenta obstáculos legais que tornam as deportações em massa praticamente inexequíveis.
O Artigo 19, Parágrafo 2, da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia reza: "Ninguém pode ser transferido, expulso ou extraditado para um país onde há sério risco de pena de morte, tortura ou outros tratamentos desumanos ou degradantes".
Na prática essa lei impede que a Itália e os demais membros da UE deportem imigrantes para a maioria dos países muçulmanos.
O novo governo também prometeu negociar mais acordos bilaterais de deportação. No momento a Itália tem acordos de deportação com apenas cinco países: Egipto, Gâmbia, Nigéria, Sudão e Tunísia. Os imigrantes não podem ser deportados sem aprovação dos países de origem.
Salvini também disse que a Itália rejeitará as mudanças propostas na Convenção de Dublin, cuja lei exige que aqueles que buscam refúgio dentro da UE o façam no primeiro país europeu ao que chegarem. A Convenção de Dublin será o tema central da reunião dos ministros do interior dos 28 Estados membros da UE em Luxemburgo em 4 de Junho.
A localização geográfica de Itália faz com que arque com desproporcional responsabilidade no tocante à imigração ilegal de África e do Médio Oriente, mas Salvini ressaltou que outros Estados membros da UE estão a resistir à implantação de mudanças que requereriam que eles dividissem o fardo: "eles querem pressionar os países do Mediterrâneo, como Itália, Chipre, Malta e Espanha, a aceitarem milhares de imigrantes por um período de dez anos".
A actual legislação da UE requer que os Estados Membros sejam financeiramente responsáveis pelos imigrantes que chegarem aos seus países por um período de dez anos. Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia querem que essa responsabilidade seja diminuída para oito anos, mas Itália, Chipre, Grécia, Malta e Espanha querem diminui-la para no máximo dois anos.
Enquanto isso, os órgãos de imprensa pró-UE, pró-imigração em massa e pró-multiculturalismo estão a posicionar-se de modo agressivo com o intuito de destruir o novo governo italiano.
A revista semanal alemã Der Spiegel estampou na capa um garfo com esparguete e um fiozinho balançando como se fosse uma forca: "a Itália está a destruir-se a si mesma e a arrastar a Europa consigo". A revista escreve em termos apocalípticos: "a UE deve adoptar uma posição unida em relação a Donald Trump, cujas políticas equivocadas ameaçam tanto a segurança quanto a prosperidade da Europa. Trump está a forçar a Europa a entrar numa guerra comercial e, pior do que isso, ameaça acabar com a ordem internacional do pós-guerra que permitiu aos Europeus encontrarem o seu lugar no mundo, através do comércio e das estruturas da Organização Mundial do Comércio e da segurança que encontrou na forma da OTAN.
"Mas como pode a UE travar uma guerra comercial se a Itália ameaçar mergulhar no caos? Justamente quando a UE poderia mostrar ser uma alternativa ao unilateralismo de Trump... a Europa pode enfrentar meses, se não anos de rixas sobre a possibilidade de um resgate para a Itália.... Se este país titubear, irá abalar toda a arquitectura da União Europeia.
"A crise italiana resume-se na convergência dos dois maiores desafios que a UE enfrenta: a ameaça económica à zona do euro e a erosão de valores e normas que os Europeus têm em comum. Com os populistas a governar agora a Itália, o país poderá constantemente bater de frente com Bruxelas, por exemplo, expressando a sua solidariedade em questões-chave com os populistas de Direita de França, Áustria e Finlândia ou com os governos críticos da UE da Hungria e da Polónia.
"Ou poderia tomar o partido de meios ou totais autocratas como Donald Trump e Vladimir Putin e no desenrolar dos acontecimentos desgastar a unidade europeia. Alguns entraves em potencial onde isto poderia ocorrer: o acordo nuclear com o Irão, as tarifas comerciais impostas por Trump, a extensão de sanções contra a Rússia, a política climática ou mesmo a abordagem europeia em relação à China.
"É perturbador para o continente europeu o ressurgimento do Nacionalismo na Europa, particularmente em Itália. Se a UE tinha um grande objectivo, foi o de dissuadir o próprio interesse nacional com a visão de uma comunidade trans-nacional de valores." O que irá manter a Europa unida se este fundamento for abalado? "
O New York Times escreve: "a Liga xenofóbica e o Movimento 5 Estrelas avesso à ordem antiga, reúnem intolerância e incompetência a um grau excepcional. São um execrável bando levado pela maré anti-liberal global."
E novamente: "Matteo Salvini, líder da Liga e novo vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, promete tomar duras medidas de repressão da imigração e expulsão de até 500 mil imigrantes que já se encontram em Itália. Isto poderia forçar Bruxelas a entrar com uma acção nos termos do Artigo 7 contra Itália devido ao não cumprimento dos compromissos fundamentais do Estado de Direito. E os novos líderes italianos já expressaram o seu desejo de melhorar as relações e o comércio com a Rússia e com o seu presidente Vladimir V. Putin. Isto pode significar que a União Europeia não terá condições de renovar as sanções económicas contra a Rússia decorrentes do seu comportamento no exterior, incluindo a anexação da Crimeia, a violação dos acordos de Minsk no leste da Ucrânia e a tentativa de assassinato de um ex-espião russo e sua filha na Grã-Bretanha, o que o Kremlin continua negando."
Entra em cena George Soros, um bilionário húngaro-americano comprometido com a imigração em massa para a Europa, que culpa a Rússia de interferir na eleição italiana: "Estou bastante preocupado com a proximidade do novo governo de coligação com a Rússia. Eles (parceiros da coligação) afirmaram que são a favor do cancelamento das sanções contra a Rússia... Há uma estreita relação entre Matteo Salvini e Vladimir Putin. Eu não sei se Putin financia o seu partido, mas a opinião pública italiana tem o direito de saber se Salvini está na folha de pagamento de Putin".
Após a formação do novo governo, Soros defendeu mais fronteiras abertas: "Até recentemente, a maioria dos imigrantes podia-se mudar para os países do norte da Europa, o seu verdadeiro destino. Então, tanto a França quanto a Áustria fecharam as fronteiras e os imigrantes viram-se tolhidos em Itália... Esta foi a principal razão pela qual a Liga se deu tão bem na última eleição. A UE deve mudar a regulamentação existente e pagar uma grande parcela do que é necessário para integrar e ajudar os imigrantes que estão confinados em Itália numa proporção impressionante".
Salvini respondeu: "Nunca recebemos uma lira, um euro ou um rublo da Rússia. Acho que Putin é um dos maiores estadistas e tenho vergonha do facto de que a Itália tenha convidado um especulador sem escrúpulos como o Sr. Soros para expor aqui as suas ideias."
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Soeren Kern é membro sénior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/12535/italia-migrantes-ilegais

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Salvini, perfeitamente justo e até humanitário no seu discurso, está no poder graças apenas e exclusivamente à Democracia, totalmente contra os desígnios da elite político-culturalmente reinante - mais uma vez, mais outra, mais outra ainda, se constata como a Democracia constitui aliada natural do Nacionalismo.