quarta-feira, outubro 04, 2017

«VIKINGS»


«Vikings» é uma série televisiva relativamente boa que já vai na quarta temporada - o canal AMC transmite hoje à noite mais um episódio da mais recente, mas também está a transmitir a primeira. Embora a princípio tivesse as suas passagens um tanto ou quanto comercialóides, tem vindo a melhorar substancialmente, brilhando pela verosimilhança das suas reconstituições linguísticas e religiosas. Ver o que seria um antigo ritual nórdico, falado na reconstituição do seu idioma, não é luxo de todos os dias. Em vários episódios podem também ouvir-se reconstruções do Anglo-Saxão e, ainda, da língua falada pelos Francos no final do primeiro milénio, já latinizada mas ainda com forte influência germânica, antepassada directa da língua dos Franceses mas soando incomparavelmente melhor do que o Francês actual, digo eu... Veja-se e oiça-se esta reconstrução do idioma dos Francos romanizados, por um lado, e do antigo Nórdico, por outro, é uma cena em que a filha do rei franco Carlos o Simples, princesa Gisla, é obrigada a consumar o casamento com o víquingue dinamarquês Rolo, recente aliado dos Francos, líder a quem foi oferecida a região que ficaria conhecida como Normandia (de «Nord mand», «Homens do Norte»):

Claro está que um verdadeiro víquingue não poderia aprender facilmente a falar o idioma franciú, nem sequer na sua forma antiga:
 

Vikings, co-produção euro-canadiana, narra a gesta do líder dinamarquês Ragnar Lodbrok e seus familiares e homens de armas nas suas incursões para ocidente, nomeadamente na Grã-Bretanha e também no norte de França, entre sangue e lâminas de machados e espadas, jogadas políticas e traições, rituais e confrontos religiosos entre os leais aos Deuses da sua herança religiosa, pagãos, e os portadores da nova religião oriunda do leste e do sul, o culto do Crucificado. Há quem critique a alegada carência de algum rigor histórico, nomeadamente no que se refere à questão da autoridade dos reis escandinavos, que na realidade seria muito mais democrática do que o autoritarismo mostrado no ecrã; pessoalmente, acho no mínimo estranho - embora admita que possa estar enganado - que numa determinada cena de sacrifício ao Deus Odin o sacrificado seja decapitado em vez de enforcado, o fulano até está com uma corda ao pescoço e eu aí ainda tenho esperança de que a reconstituição seja jeitosa, mas não, a seguir tiram-lhe o laço e cortam-lhe a cabeça à machadada, quando o enforcamento é que era, tanto quanto sei, a forma de sacrifício dedicada a esta Deidade, cujo epíteto Hangagud, ou «Deus dos Enforcados», não deixa dúvidas...
No todo é, todavia, bastante positiva e recomendável, revelando-se até agora como uma pérola livre do multiculturalismo bacoco de quem se lembrasse de pôr ali algum víquingue mouro ou negro... Uma maravilha, até ver...