MUÇULMANA SERÁ PRIMEIRA-MINISTRA DA ROMÉNIA?
A campanha do Partido Social Democrata (PSD) romeno foi em grande parte baseada na promoção dos valores cristãos ortodoxos. Mas isso não impediu a formação, vencedora das eleições de dia 11, aliada entretanto aos liberais da ALDE, de propor uma muçulmana para primeira-ministra. Se o seu nome for aceite pelo presidente Klaus Iohannis - que já a adiou para depois do Natal - e pelo Parlamento, Sevil Shhaideh, de 52 anos, será não só a primeira mulher à frente do governo romeno, mas o primeiro muçulmano a chefiar um executivo de um país da União Europeia.
Parte da minúscula minoria muçulmana na Roménia - 0,3% dos 21,5 milhões de habitantes, enquanto os ortodoxos são 86% e os católicos 4,5% -, Shhaideh fez a maior parte da carreira em Constanta, uma cidade portuária do mar Negro, onde vivem muitos dos tártaros - grupo étnico de língua turca a que a economista pertence.
Casada com um empresário sírio, a candidata a primeira-ministra revela ainda na declaração de rendimentos de 2015, segundo o Financial Times, que é dona de três prédios na Síria - um em Latáquia e dois em Damasco.
Pouco conhecida em Bucareste, apesar de ter sido secretária de Estado do Desenvolvimento e mais tarde ter assumido essa pasta, a economista surge como uma tecnocrata, muito próxima do líder do PSD, Liviu Dragnea. Condenado a dois anos de pena suspensa em Abril por fraude eleitoral no referendo de 2012 sobre a destituição do então presidente Traian Basescu, Dragne aceitou não ser o candidato a primeiro-ministro para facilitar o processo. Mas o seu discurso de apresentação de Shhaideh deixou claro que tenciona continuar a ser o homem que move os cordelinhos do poder na Roménia. "Se confirmada, ela será primeira-ministra, mas a responsabilidade política fica em primeiro lugar comigo", garantiu. "As pessoas estavam à espera de alguém controlado por Dragnea, mas alguém da elite do partido, não uma quase desconhecida", admitiu ao The New York Times Sergiu Miscoiu, professor de Ciência Política na Universidade de Cluj.
A relação de proximidade entre Shhaideh e Dragnea é conhecida. O líder do PSD foi padrinho de casamento da sua antiga colaboradora no Ministério do Desenvolvimento.
Acusado de ortodoxismo e nacionalismo durante a campanha, ao escolher a muçulmana Shhaideh para candidata a primeira-ministra, o PSD está a tentar afastar-se das críticas. Para Miscoiu, é como se a formação estivesse a dizer aos críticos: "Olhem o que fizemos, e agora, já gostam?" E Paul Ivan, ex-diplomata romeno e analista do European Policy Center em Bruxelas, não tem dúvidas de que "há claramente uma parte do eleitorado que não vai gostar. Não vão gostar que os dois cargos políticos mais importantes na Roménia sejam ocupados por membros de minorias étnicas e religiosas". O presidente Iohannis é descendente de alemães e protestante.
Acusada de falta de autoridade sobre o partido e de falta de experiência política, se for confirmada, Shhaideh pouco deverá alterar na política romena. Nem mesmo em relação às quotas de refugiados, na sua maioria oriundos do Médio Oriente e do Norte de África, a que Bucareste se opõe. "Ironicamente, o facto de ser muçulmana vai impedi-la de ser demasiado ousada em áreas como os refugiados, porque seria fácil diabolizá-la e dizer: "Claro que dizes isso, és muçulmana!", explica o analista Radu Magdin.
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Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://www.dn.pt/mundo/interior/romenia-vai-ser-primeiro-pais-da-ue-a-ter-uma-chefe-de-governo-muculmana-5567544.html
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Típico procedimento da «Direita» pertencente à elite reinante, igual em todo o Ocidente - usa uma retórica conservadora, até nacionalista, para ganhar votos, e depois vai «cosmopolitando» a cena, neste caso esverdeando-a suavemente, isto é, dando-lhe uma corzita muçulmana...
Poderá dizer-se que a minoria tártara é relativamente estacionária na medida em que o seu poder e número se mostram estabilizados e diminutos, à semelhança de outras minorias muçulmanas em solo euro-asiático, nomeadamente nas imediações ou dependências da Rússia. Ainda assim, esta eleição de uma muçulmana como líder de um país europeu não deixa de constituir um sinal de força para o mundo islâmico e um sinal de ameaça ou pelo menos alerta, sempre justificada, no Ocidente.
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