NOTÓRIA PERDA DE ESPECTADORES DA TOURADA NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS
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A história da tauromaquia está marcada por um passado turbulento, passando por picos de êxtase e fama à sua abolição, com alguma frequência nos últimos 300 anos. De facto, foi em épocas em que o país se liberalizava e em que se aproximava dos ideais de outros países europeus que as corridas de touros foram ameaçadas durante o século XIX, no início da primeira republica e nos dias de hoje.
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O iluminismo, que fixou a chegada das luzes à civilização europeia, manifestou-se em muitos países ao moldar uma nova consciência social e humana, com isto, inúmeros espectáculos que visavam o entretenimento humano com a exploração de um animal foram abolidos. Contudo, nem Portugal que na época tinha como figura pouco entusiasta das touradas o Marquês de Pombal, nem Espanha acompanharam o desenvolvimento cultural de outros países da Europa Ocidental no século XVIII.
Foi durante o liberalismo e a primeira república que a tauromaquia registou as maiores alterações, chegando mesmo a ser abolida por um período, contudo voltando sempre a ser legalizada com novas formas de fazer o espectáculo, foi assim que surgiram os forcados, como meio de substituição do matador, aquele que após o cavaleiro, entrava na praça para matar o touro, em frente ao público. “Na verdade as touradas estiveram proibidas quatro vezes ao longo da História em Portugal, mas acabaram sempre por ser reactivadas devido a interesses económicos. Não era uma actividade muito popular ao contrário do que se pensa”, afirma Sérgio Caetano.
Em 1836, Passos Manuel aboliu as touradas, porém pouco tempo depois voltaram a ser permitidas. Segundo a argumentação de quem é aficionado, isto aconteceu devido à forte pressão popular, porém os arquivos desmentem a teoria de quem argumenta sob uma visão pró-tauromáquica, demonstrando que a actividade foi retomada por pressão da Santa Casa da Misericórdia e da Casa Pia, resultado da dependência que estas organizações tinham da tauromaquia. Na realidade, as corridas de touros sobrevivem com o apoio do pilar das transformações que sofreu, “não tenho dúvidas nenhumas em como é devido a isso que a tauromaquia ainda existe”. Por exemplo, a proibição da morte do touro na arena e a censura do embolar dos seus cornos são decisões tomadas com o intuito de preservar a prática e atrair para a arena público mais sensível, visto que o espectáculo da tourada tornou-se menos violento, pelo menos aos olhos do espectador.
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Nos últimos anos, Lisboa tem sido palco de inúmeras manifestações que apelam à sensibilização e consciência social. A tauromaquia é um tema que desperta emoções não só dentro da arena, como também fora dela.
Numa das manifestações, num dia do mês de Abril em que a chuva ameaçava uma tarde que se esperava solarenga para infortúnio dos manifestantes, ouvem-se gritos e vêem-se expressões de quem percebe que na tourada o touro é um mero instrumento de diversão daqueles que assistem, vivem, e apoiam a tauromaquia; assim como o fazem para o touro, esta manifestação defende todos os direitos dos animais – “Circos ideais não têm animais!”, grita-se. Ouvem-se tambores, os passos, as buzinas, faz-se silêncio. E o barulho retoma. Do Campo Pequeno, o maior palco tauromáquico do país, até à Assembleia da Republica, passando pelo Saldanha e a estátua do Marquês de Pombal.
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Portugal e Espanha não são os únicos países em que as touradas são uma prática legal, existem mais 6 – França (no Sul), México, Colômbia, Peru, Equador e Venezuela. “Quando a época a civilização descobriu as luzes, esta manifestou-se mais em países como a Alemanha e a Inglaterra, o que fez com estas práticas mais violentas fossem abolidas”, diz Sérgio Caetano, acrescentando que os países vizinhos pertencentes à Península Ibérica estão um passo atrás em relação a muitos países no que diz respeito aos direitos dos animais.
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“Gente educada não vai à tourada!” entoa-se ao longo da Avenida da República, sob olhares de negação, assim como apoios vindos de quem está de fora da escolta policial. “Cruel, assustador, tenebroso, macabro. Não consigo conceber a ideia de alguém ter prazer em ver o animal a sofrer. Eu fui uma vez à tourada e é-me impossível compreender como é que as pessoas aplaudem o momento em que alguém espeta uma farpa no animal. Todos aplaudiam de pé. Parecia um filme de terror.” relata Cristina Piçarra, uma mulher que seguia na marcha juntamente com os seus dois cães rafeiros (...)
Já na praça, quando um jovem faz um gesto menos próprio para os manifestantes anti-tourada, num acto de provocação, a polícia age com um toque de sirene do seu veículo. Mas foi um dos poucos casos de contestação, pois de facto, existe cada vez um maior apoio popular à causa anti-tauromáquica. “Tourada é escravatura”, ouvia-se agora.
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Por entre inúmeros gritos, estórias, cartazes, animais e pessoas, a chegada à escadaria da Assembleia da República, quando o dia já terminava, onde a PSP impedia a passagem aos degraus, o sentimento que se propagava entre os manifestantes era de companheirismo e de quem cumpriu mais um dia na luta por aquilo que acreditava.
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Para Francisco Guerreiro, Coordenador de Comunicação Nacional do Partido das Pessoas Animais e Natureza, a abolição das touradas terá de passar por uma fase que permita que as instituições e pessoas defensoras da tauromaquia sejam confrontadas com a realidade: deixar as touradas seguirem as leis de procura e oferta do mercado. “Ao impedir o apoio do Estado sobre a tauromaquia e os auxílios públicos, deixamos a tauromaquia à mercê das leis do mercado, e isso ditará o futuro da prática. Tal como é o funcionamento natural de quase tudo hoje em dia” afirma , acrescentando: “Nós temos dados em como a aderência às touradas tem vindo a decair significativamente”.
Toda a tauromaquia é construída de percepções ilusórias da sua realidade, porém são os subsídios, auxílios públicos e fundos europeus desviados para a actividade que, na opinião de Sérgio Caetano mantêm a actividade viva: “O dinheiro europeu atribuído para a criação de gado não é controlado, de forma a distinguir entre o que vai para a criação de gado para o consumo humano e o que se dirige para o entretenimento”. Para o mesmo, sem estes apoios a actividade não conseguiria manter-se.
A União Europeia só em Novembro de 2015 é que se registou uma acção política contra os financiamentos. Em 2015 o Parlamento Europeu aprovou o fim aos subsídios tauromáquicos através do plano da Política Agrária Comum. Ainda não se conhece realmente a repercussão desta decisão. Até à data, ao não atentar a este fenómeno, a União Europeia contradizia a sua própria norma, pois financiava, directa ou indirectamente, uma actividade que não respeita os direitos dos animais.
Não é só através dos fundos internacionais que a actividade sobrevive. Francisco Guerreiro dá como exemplo o financiamento indirecto a partes interessadas da tauromaquia portuguesa que são apoiadas por entidades com responsabilidade governamental, como os municípios, que apoiam com a construção de arenas, financiamento de tertúlias, ou até casos aparentemente mais singulares: “Conhecemos um caso em que um município comprou todos os exemplares de um livro biográfico de um toureiro e distribui-os entre a população.”
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Os espectáculos tauromáquicos têm registado uma queda sistemática de audiências, apesar de tal não ser admitido pelos aficionados e os mesmos procurarem contornar a informação, os dados assim o provam. Para Francisco Guerreiro as touradas reflectem a mudança de opinião dos portugueses em relação à actividade e aos direitos do animais, “Os espectáculos são menores, mais concentrados, dá-se a ilusão de que são muito preenchidos através de estratégias de comunicação e do apoio de alguns média”, afirma, sublinhando ainda que muitos dos bilhetes são oferecidos de modo a evitar uma lotação pior do que a esperada.
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Na praça, o touro não tem tempo para respirar, é rodeado de bandarilheiros que com a capa atraem-no para as zonas mais propícias para a lide do cavaleiro. É submetido a uma pressão imensa, dor e agressão digna de uma arena romana. Só que na praça de touro as feras são os humanos. Se o touro cai, ouve aplausos, se se esquiva do arpão é a desilusão do público que espera ansiosamente por mais arte do cavaleiro.
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Artigo na íntegra: http://pedromnunes.com/2016/05/02/bullfight-is-bullshit/
É um bom artigo, na generalidade, mas a parte em que diz que os Ingleses e outros do norte são mais respeitadores dos direitos dos animais merece um fortíssimo ponto e vírgula... a tourada, com toda a sua abjecção, quase parece nobre em comparação com a caça à raposa, em que uma destas criaturas é posta a fugir à frente de cães de caça e jovens a cavalo armados de tacos... já foi proibida, esta obscenidade, mas na prática ainda acontece muito, em grandes espaços privados...
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É um bom artigo, na generalidade, mas a parte em que diz que os Ingleses e outros do norte são mais respeitadores dos direitos dos animais merece um fortíssimo ponto e vírgula... a tourada, com toda a sua abjecção, quase parece nobre em comparação com a caça à raposa, em que uma destas criaturas é posta a fugir à frente de cães de caça e jovens a cavalo armados de tacos... já foi proibida, esta obscenidade, mas na prática ainda acontece muito, em grandes espaços privados...
2 Comments:
POIS RAPOSA COMO BOLA SÓ MESMO COISA DAQUELES CELTIBEROS DECAIDOS PELAS ROTAS ROMANAS COM BARBAROS GERMANICOS
Celtiberos o caralho, que os «Celtiberos» Hispânia não têm isso assim, pelo que menos que se note muito, embora a matança do porco também seja cruel. A caça à raposa, contudo, é outro nível.
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