UMA VERNES 13 EM MONTALEGRE COM POSSÍVEIS RAÍZES PAGÃS
A Sexta-Feira 13 de Montalegre é qualquer coisa como um outro Dia das Bruxas, semelhante ao que acontece em Cidões na Festa da Cabra e do Canhoto, com a diferença que a data, neste caso, pode aparecer em qualquer altura do ano, desde que cumpra com os dois requisitos fundamentais: ter sexta como o dia da semana e ter treze como o dia do mês.
O ano de 2015, por exemplo, foi um ano de excepção, apresentando três coincidências destas: 13 de Fevereiro, 13 de Março e 13 de Novembro. O ano de 2016 conta com apenas uma, no mês de Maio.
A superstição que liga este fenómeno do calendário ao azar pode ter muitas origens. Aquela que me fará mais sentido explicar, até pelo paralelismo que tem com aquilo que ocorre em Montalegre, assenta na mitologia nórdica e germânica.Diz-se que Freia, aquando da conversão das populações do norte da Europa ao Cristianismo, começou a ser olhada como uma bruxa e não mais como uma Divindade. Foi assim encostada a um sítio inóspito, perdido nas montanhas ou nos bosques setentrionais, e aí começou a encontrar-Se com mais onze outras bruxas e o próprio diabo, numa de planear a vingança dos actos dos quais foi vítima. Freia, as onze bruxas, e por fim o diabo, perfaziam o número 13, considerando-o assim maligno. Freia era também o equivalente nórdico da latina Deusa Vénus, à qual foi dedicado um dia da semana que, depois de uma bula papal que assim o exigia, Portugal veio posteriormente a substituir pela designação actual, Sexta-Feira – Espanha, por exemplo, e ao contrário de nós, resistiu às pressões católicas, mantendo esta designação para tal dia da semana, viernes, dia de Vénus.
Este lado mitológico encaixa bem na crença das gentes de Montalegre, capital do Barroso, que nos conta que ali bem perto, à entrada do Parque Natural do Gerês mas do lado interior, virado para Trás-os-Montes, há uma ponte onde, durante as Sextas-Feiras 13, as bruxas se reúnem para amaldiçoar as aldeias em redor. É a Ponte da Misarela, onde se acredita estar o diabo como vigia. E junto a ela, num altar natural de pedra, que apropriadamente recebeu o nome de Púlpito do Diabo, juntam-se em assembleia as bruxas numa de decidirem as suas vinganças nas terras vizinhas. Reminiscências pagãs de uma Freia galaica? Talvez.
Assim, nestas ocasiões, Montalegre transforma-se num excesso do oculto, recebendo galegos e portugueses, em maioria – as pessoas mascaram-se de fantasias que remetem para este tipo de sortilégios, o castelo é decorado com bruxas e morcegos, há espectáculo pirotécnico e uma peça teatral enquadrada no morro encimado pela fortaleza, faz-se uma gigante Queimada Galega que é oferecida a todos os que lá estão, ouvem-se gaitas de fole e caixas a tocar em restaurantes atulhados de gente, organizam-se concertos de bandas do novo folclore português, e numa de dar para o moderno, até DJs são contratados para terminarem as festas com batidas pouco contextualizadas.
Para o Padre Fontes, incansável defensor das tradições do Barroso, isto apesar de sofrer de Parkinson, já revelou que um dos objectivos da celebração das Sextas-Feiras 13 é o de contrariar quem se amedronta com este tipo de superstições, transformando-as, ao invés, numa festa – e, actualmente, numa fonte de receita para o Concelho.
É quando as Sextas-Feiras 13 saltam nos meses de Verão, que a festa mais lotada fica. Mas esqueçam isso. Estamos em terra fria. E é ao frio que melhor lá se está. Aproveite-se quando o Inverno nos abençoar com tal data, porque neste caso não há azar algum.
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Fonte: http://www.portugalnummapa.com/sexta-feira-13-de-montalegre/
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