SOBRE O QUE JÁ NO SÉCULO XIX SE DISCUTIA NA EUROPA - A REAL NATUREZA DA «CIVILIZAÇÃO» ISLÂMICA
Um dos cavalos de batalha da hoste politicamente correcta xenófila ocidental que, por isto mesmo, é islamófila até ao ponto da dimitude - porque o xenófilo politicamente correcto, imbuído de universalismo militante, tem como primeiro mandamento o amor incondicional ao Sagrado Outro, o estrangeiro, o alógeno, esta é a base da doutrina da Santa Madre Igreja Anti-Racista e Multiculturalista dos Últimos Dias do Ocidente - um destes cavalos de batalha, dizia, é a noção de que o Islão construiu em tempos uma civilização desenvolvida, sofisticada, avançada, humanista até, científica, filosófica. Não se pense que este conceito é só de «agora», das últimas décadas do século vinte e dealbar do século vinte e um, longe disso. A 29 de Março de 1883, o famoso historiador «francês», aliás, bretão, confrontava assim esse mito, discursando (texto a itálico) numa conferência dada na Sorbonne, intitulada «L´islamisme et la science» («O Islamismo e a Ciência»), conforme se lê no livro «Discours et conférences» (Paris, 1887):
«Na realidade, o Islamismo sempre perseguiu a Ciência e a Filosofia e acabou por afogá-las (...) Os liberais que defendem o Islão não o conhecem. O Islão é a união indiscernível entre o espiritual e o temporal, é o reino de um dogma, é a cadeia mais pesada que alguma vez a humanidade carregou consigo. Na primeira metade da Idade Média, o Islão tolerou a filosofia porque não pôde impedi-la, já que estava sem coesão, pouco dotado para o terror. (...) Mas quando o Islão dispôs de massas ardentemente crentes, destruiu tudo. (...) Não lhe façamos pois a honra pelo que não pôde suprimir. Fazer ao Islão a honra da Filosofia e da Ciência que não pôde aniquilar completamente seria como se fizéssemos aos teólogos [cristãos] a honra dos descobrimentos da ciência moderna. (...) Não se herda daqueles o que assassinam, não se deve creditar aos perseguidores o mérito das coisas que perseguiram. Todavia, é esse o erro que se comete por excesso de generosidade quando se atribui à influência do Islão um movimento (a ciência e a filosofia) que se produziu apesar do Islão, contra o Islão e que o Islão, felizmente, não pôde impedir. Acaso ofereceu o Islamismo a essas buscas algum socorro tutelar? Não, de maneira alguma! Este belo movimento não recebeu dos muçulmanos ortodoxos mais do que maldições.»
De notar que nesta época se usava o termo «Islamismo» sem nenhuma conotação política, pejorativa ou não. Dizia-se «Islamismo» como se dizia e diz hoje «Cristianismo», «Judaísmo», «Budismo», etc.. Actualmente associa-se ao termo «Islamismo» um significado de militância e até de distorção ou aproveitamento político, reservando-se o vocábulo «Islão» para a significação especificamente religiosa, de modo neutral e objectivo.
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