ÉDITO DE TOLERÂNCIA DE JULIANO, MARCO DO OCIDENTE

Juliano o Apóstata

A quatro de Fevereiro de 362 foi em Roma promulgado um édito a garantir a liberdade religiosa: todas as religiões passaram a ser consideradas iguais perante a lei, devendo o Império Romano retornar à sua diversidade religiosa, quando o Estado não impunha qualquer religião às suas províncias. O que tinha destruído esta tolerância tinha sido a imposição do credo cristão como religião única do Império. O autor do édito não podia ser outro que não o imperador Flávio Cláudio Juliano Augusto, mais conhecido como Juliano o Apóstata, soberano pagão e filósofo que renunciou ao Cristianismo e retornou ao culto dos Deuses clássicos.

Neste documento, Juliano autorizou o retorno dos bispos cristãos que tinham sido exilados por éditos da Igreja. Tal atitude tem sido vista como uma tentativa cínica de acicatar o ódio entre as diferentes seitas dos adoradores do Judeu Morto - conforme cita Amiano Marcelino (22.5.4), Juliano dizia que «nenhuma besta selvagem é tão inimiga da humanidade como os cristãos são inimigos uns dos outros»... os banhos de sangue que encharcaram a Europa no milénio seguinte só lhe deram razão... 

Mais importante do que isso, o édito decretou também a reabertura dos templos pagãos e a restituição de propriedades dos templos pagãos quer tinham sido roubadas por cristãos. Juliano consagrou-se assim como um dos grandes líderes da História do Ocidente, porventura, em certa medida, o líder-modelo, no que toca ao relacionamento entre as religiões, por um lado, e entre a Religião e o Estado por outro. Depois da sua morte, em 363, o seu trabalho foi deitado por terra, o Império voltou a ser cristão e retornou, obviamente, à intolerância totalitária, a qual cresceu até criar a chamada Idade das Trevas na Europa. Costuma por isso dizer-se que Juliano remou contra a maré. O que a História mostra, objectivamente, é que afinal esta intolerância que Juliano combateu acabou por cair em todo o Ocidente, e por todo o Ocidente os Estados retornaram, a pouco e pouco, à diversidade religiosa dos antigos Romanos, mutatis mutandis. E, cereja no topo do bolo, cristalino corolário do retorno da Europa a si própria, despontam também, um pouco por todo o continente, mais particularmente no leste, a restauração dos cultos aos antigos Deuses nacionais que tinham sido proibidos, sob pena de morte, pela Cristandade. Nalguns casos surgem até novos templos pagãos, como se tem visto na Rússia, na Grécia e agora também na Islândia. Não deve esquecer-se também o caso, aqui noticiado, de um antigo templo de Apolo na Grécia que receberia, por acção de arqueólogos, partes suas que tinham sido usurpadas para a construção de uma igreja nas proximidades...

Resta continuar sempre que possível e como possível a obra de Juliano.