domingo, julho 06, 2014

CURDOS QUEREM REFERENDO PARA INDEPENDÊNCIA

Fonte: http://expresso.sapo.pt/curdos-querem-referendar-a-independencia=f879324
* * *
O presidente do governo regional do Curdistão, no norte do Iraque, pediu ao Parlamento na quinta-feira que autorize a realização de um referendo sobre a independência. Masoud Barzani encara a consulta popular como uma "arma poderosa" no "reforço da posição" curda.
É provável que as declarações de Barzani enfureçam o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Malilki, que luta por se manter à tona de água no meio das correntes que tentam arrastá-lo para fora do Governo.
Mesmo que a realização de um sufrágio à independência não seja novidade para os curdos - aliás, em 2005 decorreu na região uma votação não vinculativa -, os últimos acontecimentos no terreno dão-lhes mais confiança de que poderão estar reunidas as condições para a concretização do sonho de um Estado soberano no Curdistão. Segundo a "Al Jazeera", cinco milhões de curdos iraquianos expandiram o seu território em 40% nas últimas semanas.
Há uma semana, declarações do presidente daquela região semi-autónoma indicavam que as tropas curdas não vão retirar-se da cidade petrolífera de Kirkuk, no norte do Iraque. As forças curdas decidiram ocupar Kirkuk, no início de Junho, face à retirada do exército iraquiano e à ofensiva dos rebeldes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Os EUA pediram a Barzani que se mantenha ao lado do Governo iraquiano, ao que este respondeu que seria "muito difícil" imaginar um Iraque unido. A região curda tem mantido frequentes disputas com Bagdade, nomeadamente em matéria de transferências orçamentais para a região, considerados escassas pelos políticos curdos.

Bagdade sob ameaça
Entretanto, sobre a capital iraquiana pende agora a ameaça de um assalto sunita, escreve a "Reuters". A presença de células jihadistas adormecidas no interior da cidade, que estarão prontas a iniciar um plano de ataque previamente preparado, denominado "Hora Zero".
Este plano tem como objectivo dar apoio, desde o interior de Bagdade, a um ataque desencadeado a partir do exterior. As suspeitas são avançadas por peritos militares norte-americanos e iraquianos, e um deles refere a existência de 1500 membros de células adormecidas na zona oeste de Bagdade, e outros 1000 em áreas periféricas da capital. 

Jihadistas perseguem opositores
Relatos recentes dão conta de que os jihadistas do EIIL têm perseguido, metodicamente, cidadãos não-sunitas e refugiados nas cidades ocupadas por rebeldes. O EIIL exigiu a oficiais e soldados que jurem fidelidade ao califado do Estado Islâmico, unilateralmente decretado, sob ameaça de execução.
A ONU e fontes iraquianas falam em mais de 2400 mortos só no mês de Junho.
Um curdo que passou 16 dias em cativeiro, libertado depois da família pagar um resgate de 37.700 euros, explicou à BBC que, no caso dos xiitas, "se não puderem ser trocados por prisioneiros, [os rebeldes do EIIL] simplesmente cortam-lhes as cabeças".
Grupos de direitos humanos revelaram que os militantes do EIIL fazem buscas, de bairro em bairro, na cidade de Mossul, tendo como alvo não-sunitas e opositores. "Muitas pessoas estão desaparecidas em Mossul", disse um iraquiano em fuga daquela cidade. Referiu ainda que o EIIL está a "recolher informação e a compilar uma base de dados para identificar aqueles que trabalham para o Governo ou para as forças de segurança".


Um objectivo que merece especial simpatia da parte dos Europeus, visto constituírem os Curdos uma estirpe indo-europeia. Um Estado só seu, com a parte norte do Iraque - e, ideal mas quase utopicamente, o leste da Turquia, que também é curdo - poderia ser um aliado relativamente útil da Europa. O credo islâmico da maior parte da população curda parece ser, até ver, o maior obstáculo a esta hipotética aliança.