terça-feira, fevereiro 11, 2014

O APELO DA TRIBO


Vale a pena dar valente vista de olhos a este valioso artigo: http://www.newsweek.com/biologist-eo-wilson-why-humans-ants-need-tribe-64005, da autoria de B. O. Wilson, famoso autor científico e professor universitário de Biologia e considerado como o «pai da Sociobiologia». O texto, intitulado «Porque é que os humanos odeiam» e também «Porque é que os humanos, tal como as formigas, precisam da Tribo», começa assim:

«Já alguma vez pensou porque é que, na actual campanha presidencial, ouvimos tão fortemente as gaitas de foles a chamar-nos às armas? Porque é que os que de entre nós são religiosos se enfurecem diante de qualquer desafio à história de criação na qual acreditam? Ou mesmo porque é os desportos de equipa evocam tão intensa lealdade, alegria e desespero?»

Eu abriria aqui um parêntesis para salientar que só as religiões dogmáticas criam problema diante da negação das suas teorias cosmogónicas, mas isso agora é outro assunto. O que Wilson foca é o espírito da tribo, conforme diz no parágrafo seguinte:

«A resposta é que toda a gente, sem excepção, tem de ter uma tribo, uma aliança através da qual se alça ao poder e ao controlo territorial, para demonizar o inimigo, organizar avanços e erguer bandeiras.»

Traz-me à memória, assim de repente, um e-mail soubre outro assunto qualquer, que nem me lembro ao certo do que tratava, mas o título vem a propósito: sinalização, identificação, protecção.

E continua, Wilson, numa viagem às raízes do ser humano:

«E sempre foi assim. Na história antiga e na pré-história, as tribos deram conforto visceral e orgulho a partir do parentesco familiar, e uma forma de defender o grupo entusiasticamente contra grupos rivais. Deu ao povo um nome, além do seu próprio, e um sentido social num mundo caótico. Fez o ambiente ser menos desorientador e perigoso. A natureza humana não mudou. Os grupos modernos são os equivalentes psicológicos das tribos da História antiga.(...)
O impulso para se juntar está profundamente entranhado, o resultado de uma complicada evolução que levou a nossa espécie a uma condição à qual os biólogos chamam eusocialidade. "Eu", obviamente, é um prefixo que significa bom ou agradável: "eufonia" é algo que soa maravilhosamente, "eugenia" é a tentativa de melhorar a base genética. E o grupo eusocial contém múltiplas gerações cujos membros cometem actos altruístas, por vezes contra os seus próprios interesses pessoais, para beneficiar o seu grupo. A eusocialidade é um produto de uma nova maneira de entender a evolução, que mistura a tradicional e conhecida selecção individual (baseada em indivíduos a competir uns contra os outros) com selecção de grupo (baseada na competição entre grupos). A selecção individual tende a favorecer o comportamento egoísta. A selecção grupal favorece o comportamento altruísta e é responsável pela origem dos mais avançados níveis de comportamento social, alcançado por formigas, abelhas, térmitas - e humanos.
Entre os insectos eusociais, o impulso para apoiar o grupo à custa do indivíduo é largamente instintivo. Mas para esse jogo à maneira humana requereu-se uma complicada mistura de altruísmo estritamente calibrado, cooperação, competição, domínio, reciprocidade, defecção e engano. Os humanos tiveram de sentir empatia por outros, para medir as emoções dos amigos também dos inimigos, para julgar as intenções de todos eles e para planear uma estratégia para interacção social pessoal.
Como resultado, o cérebro humano tornou-se ao mesmo tempo altamente inteligente e intensamente social. Teve de construir rapidamente cenários mentais de relações pessoais, tanto a curto como a longo prazo. (...)
Hoje, o mundo social de cada humano moderno não é uma tribo apenas mas sim um sistema de tribos interligadas, entre as quais é frequentemente difícil encontrar um só padrão. As pessoas saboreiam a companhia de amigos com a mesma mentalidade, e anseiam por estar num grupo dos melhores - um regimento de combate dos Fuzileiros, talvez, uma universidade de elite, o comité executivo de uma empresa, uma seita religiosa, uma fraternidade, um clube de jardinagem - qualquer colectividade que possa ser favoravelmente comparada com outros grupos competidores da mesma categoria.
(...)
O psicólogo social Roger Brown, que assistiu ao que se passou [depois de um jogo entre equipas de futebol americano] comentou [a atitude dos adeptos]: "Eles estavam pessoalmente nas nuvens. Nessa noite cada uma das auto-estimas dos fãs sentiu-se suprema; uma identidade social fez muito por muitas identidades individuais."
Experiências conduzidas ao longo de muitos anos por psicólogos sociais revelaram o quão rápida e decisivamente as pessoas se dividem em grupos e depois discriminam a favor daquele ao qual pertencem. Mesmo quando os experimentadores criaram grupos de forma arbitrária, o preconceito rapidamente se estabeleceu. Quer os grupos jogassem por cêntimos ou estivessem divididos pelas suas preferências por algum pintor abstracto sobre outro, os participantes consideraram sempre o outro grupo como estando abaixo do seu próprio grupo. Consideraram os seus "oponentes" como mesmo apreciáveis, menos justos, menos confiáveis, menos competentes. Os preconceitos justificavam-se a si mesmos mesmo quando era dito ao sujeito que a pertença a ambos os grupos tinha sido definida arbitrariamente.
(...)
psicólogos cognitivos observaram que os recém-nascidos são mais sensíveis aos primeiros sons que ouvem, à face da sua mãe e aos sons da sua língua nativa. Mais tarde olhavam preferencialmente para pessoas que previamente tivessem falado a sua língua nativa. Similarmente, crianças da creche tendem a seleccionar os falantes da língua nativa como amigos.»

E agora a parte que mais interessa do ponto de vista estritamente nacionalista, etnicista, racialista:

«O impulso elementar para formar e retirar profunda satisfação da pertença grupal traduz-se facilmente num nível mais alto de tribalismo. As pessoas são atreitas ao etnocentrismo. É um facto incontornável de que quando lhes dão uma escolha livre de culpa, os indivíduos preferem a companhia dos da mesma raça, nação, clã e religião. Confiam mais neles, acalmam-se mais com eles em negócios ou em eventos sociais e preferem-nos mais vezes como parceiros de matrimónio. Enfurecem-se mais rapidamente diante da evidência de que um outro grupo se comporta injustamente ou recebe recompensas imerecidas. E tornam-se hostis perante qualquer avanço doutro grupo sobre o território ou recursos do seu próprio grupo.»

Merece destaque a referência à «escolha livre de culpa», ou seja, à opção que o indivíduo consegue tomar quando não está sob o efeito do medo de ser racista...

E continua:

«Quando em experiências alguns americanos brancos e negros tiveram diante de si imagens doutra raça, as suas amígdalas, a parte cerebral do medo e da fúria, foram activadas tão rápida e subtilmente que os centros do cérebro ficaram incapazes de responder. (...) Quando, por outro lado, contextos apropriados foram acrescentados - digamos, o afro-americano que se aproximava era médico e o branco era o seu paciente - dois outros sítios do cérebro integraram-se com os centros de aprendizagem mais elevados, o giro do cíngulo e cortex preferencial dorsolateral, silenciando o impulso da amígdala. Assim diferentes partes do cérebro evoluíram por selecção grupal para crear grupidade, bem como para mediar a sua propensão básica. (...)»


Nada em excesso, como diz o oráculo de Apolo em Delfos...

É nesta tendência que radica a explicação para o sucesso político do Nacionalismo. 
E a elite reinante no Ocidente, universalista, cosmopolita por natureza, anti-racista por militância, sabe disto, de tudo isto. Sabe perfeitamente que é natural, e salutar, o indivíduo sentir-se engrandecido com as conquistas e vitórias da sua gente. Quando por exemplo alguns intelectuais ou intelectualizados peões guincham que é pateta orgulhar-se da sua raça sem ter pessoalmente feito nada de nada, ou são simplesmente ignorantes ou, mais provavelmente, sabem muito bem que é natural o indivíduo sentir-se engrandecido com a glória do seu grupo, o que acontece é que esses intelectuais ou intelectualizados não gostam que os indivíduos se sintam identificados com o grupo dos brancos em particular...

 Podem os donos dessa casta ideológico-cultural bombardear o povo com mais e mais campanhas anti-racistas, com toneladas de argumentos e conversas e debates sobre as complexidades da economia, sobre os alegados riscos disto e daquilo, sobre as supostas culpas passadas dos países - acima de tudo isso, o homem do povo valoriza a mensagem do Nós acima dos outros. Ocasional e até circunstancialmente, uma determinada maioria pode aceitar votar nos partidos que mais defendem outros pontos de vista, sobretudo quando esta maioria não tem alternativa séria ou plausível, mas assim que esta alternativa surge e se desenvolve, ou seja, assim que aparece um partido nacionalista convincente e dinâmico, a opinião dessa maioria começa lentamente a mudar. Quanto mais este partido fala directamente ao povo, mais o povo votará nesse partido, porque mais e mais fortemente virá ao de cima o primordial apelo da Estirpe. Este é o verdadeiro motivo pelo qual o anti-racistame mais arguto quer a todo o custo perseguir ou mesmo proibir a simples existência dos partidos nacionalistas, porque quer poder impingir aos povos um modelo de abolição de fronteiras e de identidades. Já um famoso livro dos anos sessenta, «O Despertar dos Mágicos», dizia, no final, que «a identidade não é o maior dos tesouros, e se pudéssemos olhar para nós ao espelho e ver-mo-nos como realmente somos, não aguentaríamos a contemplação dos monstros que aí se nos deparariam», ou uma coisa assim. Quem controla a cultura e a política, e a economia, no Ocidente, nutre intenso desprezo, quando não ódio, pela raiz étnica, primordial, que constitui obstáculo à concretização de uma união sem fronteiras. Contra tão monstruoso e frankensteiniano projecto, só os Nacionalistas se erguem, brandindo bem alto o estandarte da Estirpe, porque nenhuma mutilação do humano é solução boa seja para o que for.