segunda-feira, julho 15, 2013

SUPREMO SACERDOTE PAGÃO DA LITUÂNIA RECEBE DISTINÇÃO DE PRESIDENTE DO SEU PAÍS

Na Lituânia, a presidente do país, Dalia Grybauskaitė, atribuiu no dia 6 de Julho a Ordem do Grande Duque Gediminas, uma das mais altas distinções lituanas, a Jonas Trinkunas, supremo sacerdote da religião nacional, denominada Romuva.
Romuva é o nome que se dá ao actual culto pagão aos Deuses bálticos, tais como Perkunas, Laima e Saule, entre outros.
A presidente Grybauskaitė louvou publicamente Trinkunas pelo seu envolvimento na resistência contra o regime soviético, que oprimiu a Lituânia por mais de quarenta anos, e o seu trabalho na preservação e promoção da religião e da literatura tradicionais lituanas.
Como alguns saberão, a Lituânia foi o último país europeu a tornar-se oficialmente cristão, e sobretudo por motivos políticos. Tal cristianização não se completou antes do século XV. Na prática, o culto pagão permaneceu activo por mais algum tempo, mesmo depois de o Catolicismo se ter tornado dominante. Muito do campesinato, embora fosse nominalmente católico, continuou todavia a ser fiel a antigas práticas pagãs, tal como de resto aconteceu em toda a Europa, Portugal incluído. Surgiu posteriormente, no século XVIII, um movimento de revitalização folclórica, que muito auxiliou, nos centros urbanos, uma consciencialização das raízes pagãs.
Trinkunas mergulhou desde cedo na sua herança do folclore nacional lituano. Quando concluiu os seus estudos universitários, por volta dos inícios da década de sessenta, publicou uma série de artigos e uma dissertação sobre a religião lituana, pré-cristã. Tornou-se depois professor de literatura e culturas antigas da Universidade de Vilnius e nesse período fundou uma organização folclórica que realizava eventos de música e dança tradicionais. Começou seguidamente a efectuar visitas ao campo, para aprender directamente com os camponeses a respeito das tradições pagãs que tivessem sobrevivido.
As suas actividades acabaram por despertar as atenções das autoridades soviéticas, que temiam poder a revitalização etno-religiosa lituana fomentar os sentimentos nacionalistas dos Lituanos e conduzir a actos de sedição. Trinkunas foi por isso interrogado pelo KGB, deixou de poder dar aulas na universidade ou em qualquer outro lado; teve de, durante muitos anos, trabalhar noutras coisas, para alimentar a família. A sua organização folclórica foi proibida e só clandestinamente continuou a envolver-se em práticas religiosas.
Com a era de relativa tolerância inaugurada pela gasnost e pela perestroika, no final dos anos oitenta, Trinkunas pôde retornar às suas actividades públicas, incluindo a Romuva. Desde que em 1990 a Lituânia alcançou a independência da União Soviética (a primeira das repúblicas soviéticas a fazê-lo), a Romuva disseminou-se paulatinamente e conquistou uma forte presença na cultura lituana, embora ainda não tenha ganho o estatuto oficial de religião tradicional.
A honra que agora é oficialmente concedida ao supremo sacerdote, ou krivi, da Lituânia, constitui sem dúvida um marco no desenvolvimento do Neo-Paganismo a nível europeu e mundial.


2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito bom. Mas acho que a figura de um Supremo Sacerdote pagão é muito mais uma adaptação moderna do que algo que corresponda a uma real vivência pagã.

16 de julho de 2013 às 18:41:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Nem por isso. Na Roma pagã, por exemplo, existia a figura do Pontifex Maximus, ou Sumo Pontífice.

16 de julho de 2013 às 18:58:00 WEST  

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