«O FEITICEIRO DE OZ» EM 2013
Um filme catita, este, de enredo um bocado simples, passagens um pouco mais primárias do que se desejaria, mas ainda assim um divertimento jeitoso, em termos estéticos e até culturais. Em termos culturais, até de algum modo étnicos, porque dá uma certa continuidade ao espírito mitológico céltico, sem contradição com o facto de o autor original da obra, o norte-americano L. Frank Baum, citar entre as suas influências os contos germânicos dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Wonderful_Wizard_of_Oz#Sources_of_images_and_ideas), não posso deixar de observar a «celticidade» da coisa, visível no pormenor da parecença conceptual da «Cidade Esmeralda» de Oz com a «Torre de Cristal» dos Fomor da mitologia irlandesa, mas sobretudo, creio, no tema viagem da personagem principal por mundos fantásticos além dos limites conhecidos. É um arquétipo bem patente nas variadas narrativas irlandesas e galesas sobre heróis que encontram reinos maravilhosos anteriormente desconhecidos pelos comuns mortais, como na ida ao reino de Arawn (Deus dos Mortos galês) por parte de Pwyll Pen Annwn, senhor do reino galês de Dyfed, odisseias que se realizam sobretudo, mas não só, através das águas, do mar ocidental ou de um rio, como na saga do irlandês Maeldun, por exemplo, e dos igualmente irlandeses Ossian, Bran, e mais uns quantos, isto em tempos arcaicos e medievais, o que depois deriva, na época moderna, na aventura de Gulliver, obra da autoria do igualmente irlandês Jonathan Swift... E, um século depois, na Inglaterra mais vizinha de Gales, surge a narrativa aparentemente infantil de Alice no País das Maravilhas, da qual «O Feiticeiro de Oz» parece derivar mais directamente.
De notar que, tal como em «Alice», o primeiro filme da história de Oz tinha por personagem principal uma menina que através do sonho ou de alguma passagem secreta chega a um mundo fantástico onde as regras são outras mas que acaba por ter vários paralelismos, políticos e sociais, com este. Nesse aspecto, e só nesse, «O Feiticeiro de Oz» mais recente, estreado em Portugal há poucas semanas, constitui um elo da corrente, talvez de conteúdo particular algo medíocre, mas ainda assim aprazível, para quem busque divertimento simples e inconsequente. Independentemente do tema céltico em si da viagem para outro(s) mundo(s), observa-se ainda, por coincidência ou influência das modas (dos filmes e séries a glorificar as bruxas, dirigidos sobretudo a um público juvenil), a presença de um outro tema céltico, o das três feiticeiras, eco humano, evemerista talvez, das Deusas célticas que Se dividem em três ou têm três facetas, como o caso da irlandesa Morrigan, que é também Badb Catha e Macha, por exemplo.
Que nenhum actor não branco desempenhe qualquer dos papéis das personagens mais destacadas é também agradável de ver e permite que o produto, na sua generalidade, se torne mais simpático.
2 Comments:
Você poderia falar sobre este feriado de pascoa cristã-judaica?
Se ele possui algum relacionamento com alguma data pagã que foi camuflada pela data cristã.
Sim, é também de origem pagã:
http://gladio.blogspot.pt/2011/04/pascoa-megalesia-ostara.html
http://gladio.blogspot.pt/2012/04/pascoa-lusitana-por-nabia-jupiter-lida.html
http://gladio.blogspot.pt/2012/04/ostara-deusa-germanica-da-primavera.html
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