DIAGNÓSTICO DE UM MASOQUISMO RACIAL
"Nós, homens brancos, somos responsáveis e culpados, o Outro apenas reage como vítima; nós temos de ser condenados, o Outro tem de ser compreendido; o nosso domínio é o da moral (condenação moral), enquanto o dos outros envolve a sociologia (explicação social) [...] essa postura de verdadeiro masoquismo étnico repete o racismo na sua própria forma: embora negativo, o famoso “fardo do homem branco” ainda está aí – nós, homens brancos, somos os sujeitos da História, enquanto os outros, em última análise, reagem às nossas (más) acções."
Slavoj Žižek, Psicólogo Lacaniano e Marxista.
6 Comments:
Zizek começa o seu último capítulo de "The year of dreaming dangerously" desde modo: "2011 foi o ano de sonhar perigosamente, do regresso das políticas radicais emancipatórias. Agora, um ano mais tarde, cada dia traz novas provas de quão frágil e inconsistente foi esse despertar, quando os sinais de exaustão começam a mostra-se". Em Portugal pode-se repetir a mesma análise, um ano depois, em relação à contestação geral, às greves gerais, e ao 15 de Setembro (mesmo que o PC ignore tal dia, sinal preocupante do modelo "tudo o que nós não organizamos não existe").
A questão é, infelizmente simples, parece-me. Em Outubro verificaram-se até graves gerais em Portugal, na Grécia e em Espanha no mesmo dia e manifestações de apoio em vários outros países europeus. Apesar de uma consequência positiva ou outra - a retirada da TSU depois de 15 Set.- este governo (e os outros) não cai, não 'morre', quando alguém escreve num jornal que 'está morto', nem depois de uma greve geral nem de uma manifestação. Por maior que seja o voluntarismo ou a convicção com que partidos minoritários gritem que o governo 'tem de se demitir', com que se apresentam petições ou cartas, isso não chega para ele se demitir, nem aqui nem noutros países. O número de greves gerais na Grécia já nem tem conta nos últimos anos.
São sinais legítimos e importantes de rejeição das políticas de austeridade que têm sido impostas, mas a trilogia antes sonhada e finalmente conseguida, presidente-governo- maioria, assobia para o lado ou disfarça compreensão face aos sacrifícios pedidos e prossegue no poder e no negócio que delapida o estado. Isto acontece porque a democracia formal tem regras e calendários e, sendo certo que este governo iria ter uma grande derrota eleitoral se as houvesse, o facto é que não se vislumbra um tal facto a curto prazo. A exaustão reside na impossibilidade de manter por longos períodos o mesmo grau de "pressão nas ruas". As pessoas cansam-se, desanimam, ou desistem, especialmente quanto maiores tiverem sido as expectativas criadas e defraudadas. Nos media, no seu registo próprio de 'criação de stress quotidiano global' (Sloterdijk), até nos pode parecer muitas vezes que o Governo vai cair no dia seguinte. É esta dialéctica entre as expectativas exageradas (mas, sem dúvida, desejadas) e as desilusões que se seguem (se nem sequer Relvas se demite, quanto mais cair o Governo...) que tornam difícil a continuação da contestação no mesmo plano de intensidade. A exaustão manifesta-se. Por isso, seria talvez sábio moderar as palavras de ordem, reservá-las para momentos onde elas se podem traduzir numa real possibilidade, em vez de as repetir todas as semanas. Moderar a convocatória de manifestações e greves para momentos onde elas se justifiquem plenamente e não cair no erro de pensar que se justificam todos os dias (mesmo que se justifiquem...). Mais valia neste caso convocar "uma greve geral ilimitada" até à queda do governo e está bem de ver que tal não é possível, senão em circunstâncias muito excepcionais, como nos mostra a história do passado. De tal modo que alguns filósofos neo-marxistas de hoje designam por Evento esses momentos que ocorrem em determinados momentos históricos de forma imprevisível e sem aviso prévio. Nestas circunstâncias de crise e ofensiva contra as populações, as lutas, mesmo parcelares, têm toda a razão de ser. As formas de as levar a cabo merecem algum uso da palavra táctica, que até Lenine considerava no seu tempo...
É provável que no próximo ano haja campo fértil para todas essas experiênciasa grevistas, com o avolumar da desgraça financeira que ameaça cair sobre a população...
Camarada, podias dizer-me de que livro/artigo retiraste este excerto tão elucidativo? Obrigado.
Encontrei-o só assim, solto, no Facebook...
Aliás Caturo, se censurarem o Gladius, o que farias? Criarias outro blogue chamado Gladius?
Ou Gladius ou Arx (fortificação no alto da cidade latina, equivalente
à acrópole grega), ou Briga, fortificação céltica sita em local elevado...
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