PRIMEIRO-MINISTRO TUGA DIZ QUE É MAL PAGO
Questionado sobre se se considera bem pago, Pedro Passos Coelho foi claro na resposta: "Não". "Não creio que em Portugal os políticos que desempenham funções sejam bem pagos. Mas consideraria absolutamente inoportuno abrir-se essa discussão numa altura em que todo o país está a fazer sacrifícios e vive, de facto, com restrições muito grandes", acrescentou o primeiro-minsitro.
Escusando-se a responder se ganha "o suficiente para pagar as suas despesas", o primeiro-ministro defendeu ainda que, apesar de mal pagos, os políticos portugueses são "pagos ao nível daquilo que o país se pode permitir pagar nesta altura."
O título que a revista «Visão» dá à notícia é de uma ironia perfeita: «Passos Coelho mal pago mas não piegas». De facto, o senhor porta-se como um exemplo de estoicismo por de mais respeitável, ele até diz que não se queixa nem se quer queixar, e assim dá o exemplo aos demais portugueses - cambada que ganha quinhentos euros por mês ou menos, caso esteja desempregada, e tem de partilhar a casa com mais não sei quantos familiares e amigos, ponham os olhos no vosso timoneiro que ganha só escassos milhares de euros mas não anda por aí a lamentar-se como vocês...
A obscena ideia de que em Portugal os políticos são mal pagos vem de há muito e reina sobretudo nas classes superiores, a saber, a alta e a média-alta. É ideia de gente que acha naturalíssimo haver políticos a ganhar vários milhares de euros, e a terem brutais reformas por inteiro depois de terem estado meros oito anos consecutivos na Assembleia da República, num país onde o ordenado mínimo nem chega aos quinhentos euros. Gente que, coincidentemente ou não, costuma apreciar especialmente o Brasil e outros países do terceiro-mundo, onde lhes sabe bem ir passar umas férias de Natal porque chegam a preferir o calor intenso, as palmeiras e a mulataria ao frio e às decorações natalícias europeias... É gente que, em todos os aspectos, até nos mais ínfimos e aparentemente pouco importantes, tem um gostinho especial pelo terceiro-mundo lusófono e, em assim sendo, não vê mal nenhum nas gritantes discrepâncias sócio-económicas a que assiste diariamente. É no seio dessa gentinha que se produz o grosso da classe política dominante nos principais partidos, pelo que não é de admirar que um primeiro-ministro tenha o ofensivo topete, depois de ter admoestado os Portugueses por se queixarem, de vir dizer que é mal pago, mas com a «ressalva», máscara ridícula, de que disse aquilo só por dizer, porque veio a propósito e tal, mas não se estava a queixar...
E o povo é sereno e deixa que estas e outras passem sem se revoltar. Acto contínuo, a elite abusa, e abusa, dá ideia de querer esticar a corda só por divertimento, só para ver até onde vai a paciência do povinho... traz tristemente à memória o que dizia o rei D. Carlos I sobre Portugal: «um país de bananas governado por sacanas». É um lado mau deste país, Mas não há mal que sempre dure e até a paciência do mais santo tem limites. Um dia pode ser que a coisa corra mal a quem agora manda. Nessa altura ver-se-á quem é que é piegas.
4 Comments:
«um país de bananas governado por sacanas»
Nem sempre o português foi banana.
Na crise de 1383-1385 por exemplo o povo teve um papel activo e revelou possuir iniciativa e uma preocupação com a integridade nacional.
O português moderno não é da mesma fibra do antigo, agora porquê é que eu não sei...
«Nem sempre o português foi banana.
Na crise de 1383-1385 por exemplo o povo teve um papel activo e revelou possuir iniciativa e uma preocupação com a integridade nacional.»
Exactamente. Mas houve gente a dirigir o movimento.
«O português moderno não é da mesma fibra do antigo, agora porquê é que eu não sei...»
Até ver. Mas tudo muda.
«Exactamente. Mas houve gente a dirigir o movimento.»
Quando não há iniciativa e vontade popular não há líderes que valham.
"PRIMEIRO-MINISTRO TUGA DIZ QUE É MAL PAGO"
fdp!
Enviar um comentário
<< Home