SOBRE A MORTE DO DITADOR LÍBIO MUAMAR CADÁFI

Cadáfi esticou finalmente o pernil, como já se esperava. Morre assim alguém que de há uns anos para cá me tinha andado a parecer uma espécie de aliado secreto do Ocidente, a fazer uns quantos números de circo com longínqua aparência de favor subtil, como por exemplo o de anunciar a islamização da Europa num estilo que parecia provocatório para levar a alguma reacção ocidental, também o de apontar o perigo que a entrada da Turquia na UE iria significar para os Europeus, além da espalhafatosa cena de conversão ao Islão de jovens europeias numa visita do líbio a Itália. Talvez não fosse por acaso que o seu filho tivesse o «nazi» Jörg Haider como amigo pessoal, e que o governo de Cadáfi tenha negociado com o governo direitista de Berlusconi um acordo que impedia toneladas de norte-africanos e negros de chegarem às costas italianas...

A Líbia está finalmente entregue aos «rebeldes», termo com que os grandes mé(r)dia se costumam referir aos fundamentalistas islâmicos, num laconismo que fede a eufemismo desonesto. Como se pode ler por exemplo aqui http://www.minutodigital.com/2011/09/13/mustafa-abdel-jalil-libia-se-convertira-en-un-estado-regido-por-la-ley-islamica/, este país norte-africano está a menos de um passo de ser governado pela charia ou lei islâmica, cujos «defensores» e promotores são usualmente ferozes inimigos de tudo o que não é muçulmano, sobretudo se além de não ser muçulmano também não for nem cristão nem judaico. São, por isso, inimigos viscerais do Ocidente, odiando acima de tudo a liberdade cultivada pelos Ocidentais. Esta gente está quase a controlar o norte de África, particularmente na Líbia e, também, no Egipto, o que lhes dará especial influência sobre as rotas energéticas que alimentam a Europa - a mesma Europa, repita-se, que odeiam de morte.

O mais aberrante nesta história é que quem ofereceu de bandeja a vitória aos islamistas líbios foi... precisamente o Ocidente, ou aliás, corrija-se bem corrigido, a elite que controla o Ocidente, em especial os EUA, que, tal como acontece há décadas, notoriamente no Afeganistão e nas Balcãs, têm estado constantemente ao lado dos islamistas. Este é mais um desses casos, e talvez mais flagrante que qualquer outro, dado que a Força Aérea líbia foi completamente varrida pelas armas da OTAN, a qual em vez de ser uma aliança do Atlântico Norte, como diz o seu nome, é nada mais que a América e os amigos. Se isto é uma estratégia para cativar a simpatia do Islão mais aguerrido ou se tem a ver com algum lóbi petrodolorífero, obediente ao lóbi saudita, que é islâmico, isso talvez se venha um dia destes a saber ao certo.

As causas permanecem portanto ignotas do grande público - mas os efeitos não tardam a fazer-se sentir.