POLÉMICA SOBRE JANTAR DE RAMADÃO NO PARLAMENTO... DA DINAMARCA
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Na Dinamarca, o Partido do Povo Dinamarquês (DF, DanskeFolkeparti) poderá em princípio ter conseguido que não venha a ser realizada no parlamento nacional, Palácio Christiansborg, uma refeição a celebrar o fim do Ramadão, agendada para 22 de Agosto e organizada pelo deputado social-democrata Hüseyin Arac e pelo jornal Zaman Scandinavia.
O deputado do DF Søren Espersen opôs-se e a administração parlamentar concluiu que tal cerimónia iria infringir as regras porque os convites foram enviados por um jornal, organização privada. Só pessoas ligadas ao parlamento podem enviar convites para eventos no Christiansborg. Tal irregularidade levou o porta-voz do parlamento, Thor Pedersen, a pedir a Arac que enviasse uma nova aplicação, com informação adicional.
As novas regras governamentais do parlamento implementadas no ano passado exigem que os eventos aí realizados tenham relevância política.
Arac tinha convidado, entre outros, o turco Mevlüt Cavusoglu, que preside à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e é também deputado na Grande Assembleia Nacional da Turquia, em representação da província de Antália
. Çavuşoğlu iria proferir um discurso intitulado «A Contribuição do Zaman Scandinavia para a Vida Multicultural». Este convite foi especialmente polémico devido ao facto de Çavuşoğlu ter sido um dos fundadores do AKP, partido conservador islamista, que actualmente constitui o governo da Turquia, sob o qual dúzias de jornalistas foram presos. Acresce que na passada semana o social-democrata Lars Aslan Rasmussen acusou o turco de abusar do seu poder para pressionar os países europeus a não reconhecerem oficialmente o genocídio cometido pela Turquia contra os Arménios na segunda década do século XX.
Enquanto o objectivo da refeição islamizante estava a ser debatido, Espersen afirmou que «um jantar específico do Ramadão não mais terá permissão.»
Em contrapartida, a deputada turca Özlem Cekic, do Partido do Povo Socialista, criticou a ideia de que as novas regras possam servir para impedir o evento: «o jantar do Ramadão não vai avante apenas devido a um tecnicismo. Não há nada nas regras que impeça um jantar de Ramadão no próximo ano e eu irei ficar feliz ao receber tal refeição.»
No ano passado, o DF e o Partido Democrata-Cristão tinham tentado, sem sucesso, impedir a realização deste jantar, argumentando que liberdade religiosa não era a mesma coisa que igualdade religiosa.
ADENDA: parece que afinal o jantar de Ramadão acabou por ser aprovado, segundo o que aqui se diz:
http://www.vocfm.co.za/index.php?option=com_k2&view=item&id=909:controversy-over-ramadan-reception&Itemid=122&tmpl=component&print=1 (desconheço se esta notícia é anterior ou posterior à acima exposta).
As palavras do porta-voz do DF para a Política externa merecem todavia ser lembradas: «uma recepção de Ramadão não tem lugar no parlamento. Não posso imaginar que Erdogan (Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro turco, líder do AKP) aceitasse um jantar de Páscoa cristã no parlamento turco.»
Merecem ser lembradas sim, mas não necessariamente pelo seu valor - a observação é bastante correcta, mas peca por falta de agressividade e, sobretudo, de rigor ideológico. Porque não é por Erdogan fazer ou deixar de aceitar seja o que for que os Europeus devem aceitar isto ou aquilo. Não se trata de uma questão de reciprocidade, mas de princípio puro. Independentemente do que se passar fora da Europa, o Europeu não deve permitir que o que é seu se descaracterize - e é tudo o que interessa dizer.
Segundo Arac, durante o jantar haverá palestras «sobre a integração, sobre a importância do Ramadão para os jornalistas e sobre a situação nos países árabes.»
E assim se constata, mais uma vez, que a elite reinante está na crista da onda do processo de alienização, isto é, descaracterização, do espaço europeu - desta feita, do próprio símbolo do poder governativo de um país da Europa. É como estender a passadeira vermelha ao iminvasor e inimigo histórico da Europa.
E, como de costume, só uma força política se opõe a tal bastardização - o partido nacionalista, odiado pela elite e reflexo do sentir do verdadeiro homem comum.
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