sexta-feira, janeiro 08, 2010

«O CAMINHO DE MERLIM»


Acabei de ler o segundo e último volume desta valiosa obra, da autoria de Jean-Louis Fetjaine, já considerado por alguns como o Tolkien do século XXI.
Basicamente, trata-se do seguinte:
Século VI.
As terras da Bretanha são assoladas por guerras e discórdias religiosas. Os exércitos bretões tentam unir-se para combater os invasores saxónicos, pictos e gaélicos.
Apanhado nesta tormenta de violências, acusado de feitiçaria e banido pelos homens, Merlim só pensa numa coisa: descobrir o segredo da sua ascendência. Convencido de pertencer ao povo dos elfos, dirige-se para a grande floresta de Broceliande. Acompanhado pelo monge Blaise, atravessa o mar e chega à Pequena-Bretanha. Mas, muito depressa, é surpreendido pelo seu passado humano…
No reino dos Escotos do Dal Riada, nasceu o príncipe Artur. A rainha Guendoloena, convencida de que a vida do filho corria perigo, envia o seu servo pedir a ajuda do seu verdadeiro pai… Merlim.
(...)

É uma escrita sólida, dinâmica, sem narrações excessivamente pormenorizadas e fastidiosas, permitindo concentrar livremente a atenção no essencial: a coexistência e interpenetração do prosaico, histórico, por um lado, com o chamado maravilhoso «sobrenatural», do outro, bem à maneira céltica. Ao mesmo tempo, representa com verosimilhança a vivência político-religiosa da lenta e calculista infiltração cristã entre os povos pagãos europeus, aquilo com que o padralhame jogou, o modo como configurou alianças e afogou os lídimos representantes da espiritualidade indígena.
O autor evidencia erudição e conhecimento do contexto histórico, sempre fundamentais para redigir ficção histórica em condições, mas consegue forjar um enredo ao nível humano, pessoal, particular, que em tudo complementam a parte factual do historicamente sucedido, sem todavia ficar a servir de mero suporte teatral a algum tipo de documentário. Os dois volumes de «O Caminho de Merlim» compõem pois um épico histórico mas no âmbito do Fantástico, do feérico, conseguindo manter o equilíbrio entre os «dois mundos», o que é sempre difícil, eventualmente menos fácil do que pura e simplesmente criar um mundo alternativo, como o fizeram Tolkien e Robert Erwin Howard, entre outros. À pura recreação do leitor soma-se uma faceta particularmente inspiradora, como o são sempre os mitos da ancestralidade. E o mito no qual se inscreve esta saga, a temática arturiana, alastrou do mundo celta a todo o Ocidente, constituindo assim um dos emblemas mitológicos da civilização europeia e uma das suas fontes de inspiração mais profícuas, sobretudo para os povos da orla atlântica europeia e seus descendentes.
Uma boa leitura de Inverno, portanto, recomendável a todo e qualquer apreciador das raizes da Europa.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

BELAS E ARIAS GRAVURAS - CHEGA ATÉ A DAR UM CERTO ALIVIO E CONFORTO OLHAR PRA ELAS E NÃO VER NENHUMA INFILTRAÇÃO DO ESGOTO SIMIEZADOR FUNDAMENTALISTA CRISTÃO 2.0..!!

8 de janeiro de 2010 às 07:23:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Obrigado pela recomendação Caturo. Já agora, conheces estes livros?

http://www.saidadeemergencia.com/index.php?page=ThemePages.ThemePageView&theme_page_id=34&SSID=imsl34kffugo700j13smogt3n7

Nas versões portuguesas vão ser um total de 14 edições (ainda só estão escirtas 8). É passada num mundo inventado (à maneira de Tolkien) mas muito aproximado de uma realidade Europeia - uma ilha Pagã em guerra com a infiltração de uma religião universal lá pelo meio. Recomendo vivamente. O problema é que nos deixa colados às páginas e só largamos isto passado um bom ano.

8 de janeiro de 2010 às 14:58:00 WET  
Blogger Caturo said...

Já os vi muitas vezes, têm excelentes capas e belos títulos, mas nunca tive tempo de ler nenhum, e não me tinha apercebido que havia ali um confronto religioso. Assim que puder, talvez lhe dê uma vista de olhos... Obrigado.

8 de janeiro de 2010 às 23:09:00 WET  

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