terça-feira, maio 05, 2009

CONTOS, MITOS E LENDAS DA BEIRA, CORAÇÃO DA ANTIGA LUSITÂNIA... - I

Não haverá muitas coisas melhores para uma noite tranquila do que ler pérolas da herança ancestral devidamente guardadas pelo sortilégio das letras, pérolas que o caro leitor Sérgio Esteves aqui trouxe, pelo que me merece os devidos agradecimentos - trata-se, segundo as suas próprias palavras, de «notável trabalho de recolha etnográfica, realizado na Beira Baixa, distrito de Castelo Branco, por uma empenhada e entusiástica equipa, com o fito de preservar o nosso património cultural nacional.»
Creio que a introdução à obra merece particular atenção pela riqueza do seu conteúdo pró-identitário (salientei a grosso algumas partes que me pareceram mais expressivas). Posteriormente, ficará aqui um dos contos guardados e divulgados pelos autores. Boas leituras...
«"Contos, Mitos e Lendas da Beira" é um contributo muito válido no sentido da valorização da nossa identidade, expressando-se esta pelo sentimento de pertença que cada um de nós desenvolve em relação à comunidade de origem. Comunidade pressupõe um grupo integrado de pessoas que compartilham um território, assumem laços de parentesco, desenvolvem laços de convívio, repartem tarefas produtivas e funções sociais, visando satisfazer interesses comuns e defender valores colectivos. Assim as pessoas associadas por laços de intimidade e de convívio pessoal partilham uma herança cultural e histórica e assumem o sentimento de participarem de um destino comum. Esta dimensão comunitária era bem evidente aos agregados populacionais da nossa região, tanto maior, quanto o seu isolamento. Hoje, no mundo aberto resta-nos o sentimento de pertença que pode ser realinhamento no imenso rio da sabedoria popular, em que mergulham as raízes da nossa identidade cultural. A identidade cultural está intimamente ligada à noção de património, entendida como memória colectiva, fruto de tradições que sedimentaram o percurso criativo de sucessivas gerações. O homem, pelo seu cada vez mais longo ciclo de vida, que lhe permite o convívio intergeracional, pode partilhar cada vez mais na magia e nos rituais das tradições e valores históricos, através dos quais a identidade cultural é representada e transmitida de geração em geração. Registando o património que é imaginário colectivo transmitido por tradição oral, estão a salvar-se e a disponibilizar-se fontes autênticas, cheias de magia, ingenuidade, tarefa que a Associação Cultural Outrém e o Professor José Carlos Duarte Moura, em boa hora metem ombros, merecendo todo o aplauso e sinceros parabéns. O homem, cada pessoa, é um ser eminentemente social, e cultural, em que o fio condutor e estabilizador de identidade, toma parte integrante da memória colectiva e lhe permite ser, no presente elemento dinâmico que renova a pertença, encarando o futuro à luz fecunda do passado.
INTRODUÇÃO
Este trabalho, pretende ser antes de mais, um modo de preservar uma parte significativa do património cultural da Beira, que transmitindo-se através da tradição oral, corre actualmente sérios riscos de se perder. A Literatura popular, assume-se assim como um dos elementos, difusores de valores com índole diversificada, que transmitindo-se de geração em geração através da tradição oral, arrastada todo um conjunto de ideias conscientes ou inconscientes, assumidamente representativas, de um determinado grupo. Quem não recorda com saudade os tempos em que os meios de comunicação social não estavam tão disseminados, e as histórias contadas à Igreja? É sem dúvida urgente preservar a Literatura Popular que está em risco de se perder. No seu conteúdo, encontramos valores de épocas, de sentimentos; modos de agir e de pensar. Enfim o sentido e o peso, que modelam o comportamento de um“povo” ao longo dos tempos. Pretende-se ainda com este trabalho, levantar um pouco o véu relativamente à Literatura popular da Beira, e de algum modo formular hipóteses quanto à sua função nas comunidades. O papel educacional que parece ter tido e as diversas nuances que apresenta de localidade para localidade. Que este trabalho seja um modo de preservação e de investigação e consequentemente, conduza a uma exploração mais profunda deste tema, o que sem dúvida, irá facultar um melhor conhecimento da nossa identidade cultural.
A FADA DO CABEÇO DE CARVÃO
Dizem alguns que se alguém desse sete voltas e meia ao Cabeço do Carvão, da meia-noite à uma hora da madrugada, sem olhar para trás, abrir-se-ia uma porta do Palácio Colossal, com divisões sem fim. E quem entrasse teria de levar um longocalabro a cingi-lo à cintura. Uma das pontas teria de ficar no exterior, porque se não fosse assim, como´são muitas as divisões ninguém daria com a porta de saída e ficaria encantado no lugar da Moura. Está lá uma Moura elegante, graciosa, coberta de esmeraldas, safiras e rubis, que passeia com o visitante mas não lhe fornece informações para tudo o que viu. A Moura encantada presenteia sempre quem a visita. De uma vez disse a um ganhão, despedindo-se dele à porta: “Toma uma bolsa de passas de figo muito boas”. Quando a porta se fechou atrás de si ele disse: “Ainda bem que tenho ali na cabaça uma pinga de aguardente e se as passas prestaram, com este frio de Dezembro será muito bom.” Quando foi para comer as passas estas transformaram-se em moedas de ouro.Tentou outra vez e então reparou que quando ia para trincar as passas estas se transformaram em moedas de ouro. Pouco depois viu-se com um saco cheio de moedas de ouro. Regressou a Alcains e o ganhão que era pobre tornou-se rico.
Recolha efectuada em Alcains – Concelho de Castelo Branco.»

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A INVASÃO DOS ALIENS AO MENOS FEZ VC´S VALORIZAREM O PORTUGAL DE VERDADE; POR QUE ANTES VC´S O MENOSPREZAVAM - ALIÁS SERÁ MESMO QUE JÁ COMEÇAM A DAR ALGUM VALOR REAL OU É APENAS UMA ARMA NACIONALISTA/PRETEXTO PARA DAR BASE AS VOSSAS AMBIÇÕES REAIS??

6 de maio de 2009 às 21:48:00 WEST  

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