ORGANIZAÇÃO CRISTÃ QUER PROCESSAR CAMPANHA ATEIA

No Reino Unido, uma organização cristã, a «Christian Voice» (CV), ou Voz Cristã, está a querer proceder legalmente contra uma campanha ateia que, gerada nos EUA, chegou agora a Inglaterra (e a Espanha também) - trata-se de um cartaz colocado em autocarros a dizer «Provavelmente, Deus não existe, portanto pare de se preocupar e goze a vida». Alega a CV que o anúncio falha em termos de «veracidade» e de «substanciação», pois que a seu ver não há absolutamente indício nenhum de que Deus não exista.

Em contraposição, um filósofo veio a terreno defender o ateísmo, dizendo que a base para afirmar a existência de Deus é a mesma que para acreditar que há fadas no quintal - se não se acredita nestas, não se deve acreditar Naquele.

Não gosto do ateísmo nem acho nada positivo que este se dissemine. Até concordo, neste ponto, com o ponto de vista de que a crença na inexistência de Deus não está assente sobre quaisquer provas científicas, ao contrário do que muitos dos seus apoiantes argumentam. Mas a liberdade de expressão é como o Sol, quando nasce é para todos, só assim é que a expressão que a designa tem verdadeiro sentido. E isto é coisa que sempre custou muito e pelos vistos continua a custar muito a certos militantes da Cristandade...

Quanto ao argumento aduzido pelo ateu, acima referido, é realmente sintomático de como não apenas o racionalismo esterilizante mas também a própria Cristandade engendraram o ateísmo actual, seja por agressividade materialista, num caso, ou por competição fanática, no outro. E é a respeito deste segundo caso que vale a pena recordar que o Cristianismo veio dessacralizar a visão do mundo ocidental ao negar a sacralidade pagã na Natureza, ao atacar as crenças pagãs, considerando-as absurdas e remetendo o Divino para a esfera da transcendência separada deste mundo. Ora a mesma linha de raciocínio que aplicaram ao(s) Paganismo(s) aplica-se inevitavelmente ao Cristianismo: se é absurdo crer em espíritos vivos nas florestas, é igualmente absurdo crer que um judeu foi crucificado a uma sexta-feira e ressuscitou a um domingo para valente almoçarada com os amigos mais chegados.

Mais ainda: os cristãos troçavam dos ídolos pagãos, deitando-os abaixo sem que os ídolos se vingassem. Claro que mais tarde os cristãos também viriam a fazer ídolos, que podem ser destruídos com a mesma facilidade que todos os outros...

Ou seja, e como disse o próprio Galileu, «quem mata pela espada, pela espada morre», sendo que, neste caso, a «espada» é a tentativa de ridicularização dos Deuses alheios.