terça-feira, setembro 02, 2008

PRENÚNCIO DE ALIANÇA TURCO-IRANIANA

A visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad à Turquia teve aparentemente pouca importância do ponto de vista da política factual, mas pode ter sido decisiva, ou pelo menos altamente significativa, no cimentar das relações dos dois países muçulmanos.

De notar que, ao convidar e receber amigavelmente o líder do Irão, Recep Tayyip Erdogan marcou uma posição claramente contraditória para com o Ocidente, o que mostra bem que a Ásia Menor está agora mais longe da Europa do que muitos fazem querer e já não pode ser considerado como um sólido membro da OTAN, já para não falar das suas pretensões de integração na União Europeia.

O regime de Ancara permitiu a Ahmadinejad que orasse na Mesquita Azul, símbolo do poder otomano; à saída, o dirigente da República dos Aiatolas foi saudado pela presença duma multidão, por ele encorajada, que bradava «Morte a Israel! Morte à América!»

Longe vão os tempos em que a Turquia dificilmente receberia um representante dum regime islamista anti-ocidental... o laicismo morre pela mão do partido que exerce agora o poder na pátria turca, a ponto de, muito simbolicamente, ter permitido que Ahmadinejad se recusasse a prestar homenagem ao mausoléu do laicista Kemal Attaturk, pai da Turquia laica, o que constitui uma notória violação do protocolo duma visita oficial. Tudo isto contrasta fortemente com o que há pouco mais de dez anos se verificou: quando em 1996 o então presidente iraniano Hashemi Rafsanjani se recusou a ir ao mausoléu de Attaturk, desprezando a condição laicista da Turquia como sendo produto duma cultura pró-ocidental, levantou-se uma condenação pública contra o Irão. Quando o embaixador iraniano sugeriu, poucos meses depois, que a Turquia devia seguir a lei da charia, foi forçado a abandonar o país.

Desta vez, porém o AKP, partido do governo turco, toma uma atitude diferente e, contornando as questões do protocolo, afirma que se trata aqui duma simples visita de «trabalho».

Observa-se por outro lado uma aproximação do Irão à Turquia, da qual é episódio marcante o bombardeamento que as forças armadas iranianas lançaram sobre território curdo do norte do Iraque, atacando assim o principal e mais imediato inimigo externo do Estado turco.

Também no seio do Povo turco se verifica esta crescente proximidade de ambas as partes. Em sondagem recente, na qual se questionava o homem comum sobre o que deveria fazer a Turquia em caso de ataque norte-americano ao Irão, só quatro por cento dos inquiridos disseram que os Ianques deveriam ser apoiados; sessenta e três por cento optaram pela neutralidade e trinta e três por cento manifestou a sua vontade de que a Turquia apoiasse o regime iraniano.

Mas quase que apostaria que ainda assim há quem queira por força enfiar a Ásia Menor na Europa...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://www.dailymail.co.uk/news/worldnews/article-1048939/TV-reporters-showing-Talibans-humanity-says-BBC-presenter.html

2 de setembro de 2008 às 18:53:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Pois, é preciso mostrar que os inimigos, por piores que sejam, por mais que fomentem o assassínio em massa de inocentes e espanquem mulheres por dá cá aquela palha, no fundo são humanos e tal...

A seguir, vão fazer um programa sobre a «humanidade» dos «nazis»... pois vão, é já a seguir...

( Claro que por outro lado não poderiam focar a «humanidade» dos anti-racistas militantes, que esses nem sequer são humanos...)

2 de setembro de 2008 às 18:57:00 WEST  

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