TOLERÂNCIA E DIVERSIDADE

A politiquice correcta avança no outro lado do Atlântico por caminhos bizarros que, ao mesmo tempo, podem albergar uma semente da luz ao fundo do túnel...
No Canadá, a Universidade de Vitória está a incluir casas-de-banho «sem sexo» (ou seja, comuns a ambos os sexos) em todos os seus novos edifícios para conforto e segurança dos estudantes transsexuais; a Simon Fraser University oferece salas aos estudantes muçulmanos para as suas orações após o pôr do Sol; a de Calgary lança uma iniciativa para averiguar se ainda há alguma minoria que não esteja a ser defendida. E as de Carleton e de Ontário Oeste têm um calendário oficial que sinaliza as datas em que os alunos de certas confissões religiosas podem ser dispensados de fazer exames - nessas datas, incluem-se dias sagrados da Wicca, espécie de neo-paganismo moderno e matriarcal, e até do Zoroastrismo, credo iraniano que tem hoje cerca de duzentos mil crentes em todo o mundo.

Adenda: a Universidade de Toronto tem no seu corpo de capelões uma sacerdotista da Wicca, e, note-se, tem também um cultor reconstrucionista, ou seja, um dos que restaura o culto aos antigos Deuses célticos de modo tão fiel às tradições antigas quanto possível e desejável.

É assim, em tempos de crise de valores e de caos.

Mas o que é a crise, e o que é o caos?

Como já aqui se disse umas quantas vezes, «crisis» é, em Grego, «mudança». Não necessariamente «desgraça» ou «decadência», mas sim «mudança».

Caos, por seu turno, é «abertura sem formas». Na cosmogonia helénica, «caos» é, não necessariamente a desordem ou a violência, mas sim um imenso abismo, ou espaço, no qual tudo está em potencial mas nada está definido.

Assim, na actual sociedade ocidental em que os valores ditos tradicionais estão pelas ruas da amargura, não se verifica uma ausência total de referências, mas sim, pelo contrário, uma multiplicação das mesmas. Há ideais para todos os gostos, num autêntico hipermercado de pensamentos e de crenças, por assim dizer. No fundo no fundo, e para lá de todas as angústias pessoais daqui derivadas, isto só faz sofrer quem se sinta mal em Liberdade, quem queira impor os seus valores a todo o mundo ou quem não tenha firmeza interior suficiente para escolher o que é melhor para si sem ficar entretanto incomodado só porque outrém escolhe outro caminho.

Ao mesmo tempo, é evidente que alguns grupos «minoritários» trabalham activamente, ou para restaurar o poder que em tempos impuseram aos demais, ou para estender o conjunto de valores dumas sociedades a outras, em gesto de imperialismo doutrinal. Mas este extraordinário momento da História é também aquele em que, no meio do caos, os legítimos herdeiros do Trono podem ressurgir no nevoeiro e retornar ao Poder, voltando assim a reger o que é seu por direito de herança.