terça-feira, junho 26, 2007

EM MEMÓRIA DE JULIANO, UM DOS GRANDES VULTOS DO OCIDENTE

Quer Lhe chamasse Hélios, Apolo ou Mitra, o Sol era para Juliano a teofania por excelência, a manifestação do Deus que tinha como seu guia de eleição.

Cíbele, a «Mãe dos Deuses» à Qual Juliano consagrou um hino.


No dia 26 de Junho de 363 d.c., morreu em combate, contra os Persas, o imperador Juliano, cognominado, pelos cristãos, de «Apóstata» e, pelos pagãos, de «Grande».

Juliano, nascido em Alexandria (norte do Egipto) mas de ascendência ilírica (da Ilíria, povo indo-europeu ou ariano que será, eventualmente, antepassado dos modernos Albaneses), foi educado em duas grandes vias ontológicas: dum lado, a cultura clássica greco-romana; do outro, o Cristianismo. Cedo mostrou preferência pela primeira, recusando cada vez mais, à medida que crescia, os ensinamentos da religião invasora, isto é, a de Jesus, ao qual ele chamava «Galileu».

Leu os grandes filósofos pagãos, entre os quais Platão, e os neoplatónicos também, tais como Celso, Jâmblico, Porfírio. Devido ao facto de que o Cristianismo tinha sido imposto e o Paganismo era já então perseguido, Juliano teve de esconder a sua veneração pelos Deuses antigos, até chegar a ser de facto imperador, em 361.

A partir daí, e tendo o apoio do seu exército - além de filósofo, era grande estratega militar e cobriu-se de glória na campanhas bélicas que dirigiu, nomeadamente na Germânia - Juliano iniciou a restauração da religião pagã, renovando templos pagãos em ruínas que tinham sido saqueados por cristãos, realizando cerimónias religiosas por toda a parte, o que muito desagradou aos seguidores do crucificado. Diz-se que o dardo que causou a morte de Juliano em combate não foi arremessado pelo inimigo (persa), mas sim por um dos seus próprios soldados cristãos, no meio da refrega. Em sendo verdadeira esta hipótese, confirma-se, por completo, a justeza das palavras de John Locke: todas as religiões devem ser toleradas, excepto aquelas que, pela sua própria natureza (por criarem um Estado dentro do Estado), ponham em causa a salvaguarda da Pátria.

Um dos principais argumentos de Juliano contra o Cristianismo, baseava-se, em traços gerais, no seguinte: porque é que os Greco-Romanos devem aceitar em exclusivo um Deus dos Judeus e que um dos seus profetas - Jesus - diz ser de todos os homens? Porquê abandonar os Deuses que foram realmente honrados pelos antepassados da Grécia e de Roma e honrar apenas uma Divindade do deserto semita?

Depois de ferido pelo dardo, falou, enquanto morria, com os seus homens, discursando sobre a morte e sobre o medo, afirmando, como Sócrates, que não havia motivo para temer o óbito. A respeito desta última cena da sua vida, disseram os cristãos que as suas últimas palavras teriam sido «Venceste, Galileu!», mas nunca foi historicamente provado que o imperador pagão tenha mesmo dito isso.

Sem prejuízo do culto que prestava à generalidade dos Deuses, Juliano tinha especial veneração pelo Sol Invictus (Sol Invencível), por Zeus (Deus do Céu, do Raio e da Justiça, arquetipicamente indo-europeu ou ariano), por Apolo, por Mitra (antigo Deus ariano da luz e dos contratos) e pela Mãe dos Deuses. Conhecem-se actualmente pelo menos duas orações compostas por Juliano em honra dos Deuses. Sabe-se também que se iniciou em várias religiões da época, entre as quais o Mitraísmo, que poderia ser hoje a religião dominante no Ocidente, isto no dizer do historiador Renan.

Dizia ele «Fazer por zelo tudo o que está ao seu alcance, é, na verdade, uma prova de piedade», sendo a piedade aqui entendida, não no sentido cristão, que é «compaixão», mas sim no significado original do termo, isto é, pagão, pois que Pietas é o dever religioso para com os Deuses e para com a Pátria.

É de reter esta sua declaração sumária e concisa sobre o modo como encarava o Divino:
«A primeira coisa que devemos pregar é a reverência para com os Deuses. É apropriado que efectuemos o nosso serviço aos Deuses como se Eles estivessem presentes ao pé de nós e nos estivessem a ver, e mesmo que não sejam vistos por nós pudessem dirigir o seu olhar, mais poderoso do que qualquer luz, tão fundo como os nossos pensamentos mais escondidos.»

Quem quiser saber mais, pode ir cultivar-se no site da The Julian Society.


Poderiam ser destes os vitrais dominantes por todo o Ocidente, se Juliano não tivesse morrido antes do tempo...

3 Comments:

Blogger Oestreminis said...

Pouco tempo depois chega Teodósio e com ele a humilhação completa do poder imperial ao Bispo de Roma. Sic transit gloria mundi :/

Gosto de Juliano... creio que foi um último raio de luz que estav em última análise condenado a fracassar, dada a forma como já estava organizado o jogo de poder em seu redor.

26 de junho de 2007 às 23:52:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Recomendo (apreciei deveras), a leitura da narrativa histórica de Benoist-Méchin:
IMPERADOR JULIANO
O FILHO DO SOL
(Edições Ésquilo)

Deixo apenas um -minúsculo- excerto:
"Juliano convocou ao palácio todos os bispos cristãos - católicos ou arianos - para lhes pedir que pusessem um termo às suas perpétuas dissenções e praticassem entre si esse espírito de tolerância que reclamavam aos outros e que, pela sua parte, desejava ver chegar a todos. (...)"

27 de junho de 2007 às 03:04:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Não gosto da mensagem que transmite, mas reconheço a esse livro um grande valor informativo.

Da minha parte, recomendo vivamente o «Juliano» de Gore Vidal, trabalho verdadeiramente magistral, historicamente honesto e de rigor informativo aceitável, tendo em conta que se trata de ficção histórica.

Mas melhor, bem melhor, é ler o «Contra os Galileus», obra escrita pelo próprio Juliano e da qual há (pelo menos) uma tradução em Castelhano.

27 de junho de 2007 às 12:06:00 WEST  

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