quarta-feira, novembro 29, 2006

CRESCIMENTO DA DIREITA ANTI-IMIGRACIONISTA E ANTI-ISLÂMICA NA HOLANDA

E do partido dos defensores dos animais também, como é realmente próprio dum país civilizado.

O partido democrata-cristão (CDA) venceu as eleições gerais desta quarta-feira na Holanda mas terá dificuldades para formar um Governo, devido à queda de seus aliados liberais (VVD) e do avanço dos partidos dos dois extremos do arco político: os anti-muçulmanos e os socialistas de esquerda.
Com o apuramento de 98% dos votos, o partido do actual primeiro-ministro, Jan Peter Balkenende, obteve 41 cadeiras, três a menos que em 2003, num Parlamento de 150 deputados.
"O eleitorado premiou a nossa política", disse Balkenende, ao receber os resultados.
Os trabalhistas (Pvda) perderam 10 cadeiras e passaram de 42 a 32. Para o líder trabalhista, Wouter Bos, foi um desempenho "decepcionante".
Grande parte do eleitorado trabalhista passou para o ex-maoísta SP (Partido Socialista), maior vitorioso da eleição, que passou de 9 para 26 deputados.
O SP, partido mais à esquerda no Parlamento, agora é o terceiro maior do país, ultrapassando os liberais de direita (VVD). Filho de uma família católica humilde, o seu líder, Jan Marijninsen, entrou no Parlamento em 1989, quando a linha partidária ainda era antimonarquista e contra a Otan.
Desde então, o SP, cujo líder freqüentemente ressalta orgulhoso sua época de trabalhador em diferentes fábricas, suavizou os seus pontos. Mesmo assim, continua sendo o mais esquerdista da Holanda.
O eleitorado abandonou os dois partidos que em 2003 formaram Governo com Balkenende. Os liberais do VVD perderam seis das 28 cadeiras que tinham; os democratas-liberais do D66 ficaram somente com três, metade das conquistadas em 2003.
Na Holanda cresceu também o número de eleitores que apoiam as ideias da direita extrema anti-islâmica. Prova disso são as nove cadeiras conseguidas pelo Partido para a Liberdade (PvdV) que estreou nas eleições liderado pelo deputado Geert Wilders, ameaçado de morte pelo islamismo radical.
Wilders é apontado por alguns analistas como o herdeiro das ideias de Pim Fortuyn, político assassinado em 2002. Ele herdou os votos do partido de Fortuyn (LPF) que perdeu as oito cadeiras.
Outro novo partido, que se concentra na proteção dos animais (PvdD), também conseguiu representação parlamentar, com duas cadeiras. Pela sua ideologia social, poderá desempenhar um papel na formação do Governo.
Assim, a Holanda vai enfrentar um difícil e provavelmente longo processo de formação de Governo. Os cristãos da Christen Unie (CU), o Partido para a Liberdade (PvdV) e até o Partido para os Animais poderão ser decisivos.
Uma possível coalizão seria um Governo de centro-direita. Mas os democratas-cristãos do CDA e os liberais do VVD somariam 62 cadeiras. O total é insuficiente para formar a maioria, que precisa de 76 deputados.
A coalizão precisaria da ajuda dos cristãos da Christen Unie (CU), que passou de três para seis deputados, e até do partido de extrema direita PvdV.
No entanto, o líder da CU, André Rouvoet, reafirmou hoje que se recusa a colaborar com um Governo formado pelos liberais do VVD. Ele rejeita as posturas contra os imigrantes da direita.
Rouvoet insinuou que a Holanda pode formar uma coalizão "cristã e social", aliando-se ao CDA e aos trabalhistas do Pvda. Os três partidos somariam 79 cadeiras, uma maioria ampla.
A incógnita é se os trabalhistas poderiam chegar a um acordo com os democratas-cristãos. Eles exigiriam um perdão geral para dezenas de milhares de imigrantes ilegais que vivem há anos no país. A ministra de Imigração, Rita Verdonk, uma liberal, decidiu expulsar todos eles da Holanda.
Uma terceira possibilidade seria uma aliança entre os partidos de esquerda (SP, Pvda e GroenLinks). Mas os três precisariam dos cristãos do CU e até do Partido para os Animais para obter maioria.
"Não podemos negar ao SP a possibilidade de participar do Governo", disse Bos, num debate pela TV após a apuração.
Os partidos políticos começarão amanhã o processo de negociação, liderado pelo democrata-cristão e ex-primeiro-ministro Jan Peter Balkenende, como dirigente do partido mais votado.
Os cidadãos holandeses preferem um gabinete de direita formado por CDA e VVD (42%) a um socialista formado por Pvda, SP e GroenLinks (37%), segundo uma sondagem da televisão pública, "NOS".
Só 11% dos consultados simpatizaram com uma "grande coalizão" entre CDA e Pvda, como aconteceu na Alemanha com os dois partidos mais votados.