EUROVISÃO DA CANÇÃO
Foi assaz porreira a final do Festival da Eurovisão da Canção realizada no passado sábado em Atenas. O espectáculo inicial, com referência ao panteão grego e o cenário do palco estavam excelentes, dignos de tão famoso e significativo evento.
Nos últimos quinze anos, a importância do Festival da Eurovisão tem decrescido bastante, o que é pena, porquanto constitui uma oportunidade rara para fortalecer os laços culturais e até fraternais entre os Europeus. Não me lembro de que alguma vez houvesse chatice ou sequer rivalidade hostil (que se soubesse, pelo menos) entre os países concorrentes, o que faz com que este concurso seja mais útil do que por exemplo os campeonatos de futebol (europeus ou mundiais).
Quanto ao aspecto cultural em concreto, tenho para mim que a música é um veículo privilegiado da alma dum Povo. Assim, quanto mais os Europeus se habituassem a ouvir e a apreciar música étnica europeia, mais fortalecida seria a sua identidade.
Pois o que é a civilização senão o invólucro da identidade e ao mesmo tempo uma natural emanação da mesma?
A cultura está para a identidade como a armadura, ou a indumentária, estão para o indivíduo. Em condições ideais, emana da natural vontade do sujeito; em situações anormais, é-lhe imposta.
Mas, do mesmo modo que o indivíduo normal e sadio acaba por conseguir ver-se livre do traje de que não gosta, também um Povo, enquanto estiver vivo, consegue, a pouco e pouco, livrar-se do que historicamente se lhe tiver agarrado ao corpo civilizacional.
Geralmente, a maior parte das músicas concorrentes caracteriza-se por um estilo pop mais ou menos internacional, mas característico, por vezes com laivos de folclore (sobretudo as que vêm do sudeste europeu), mas demasiadas vezes cantado em Inglês, para infelicidade da rica diversidade europeia.
Todavia, vale sempre a pena assistir ao festival, pois que os oásis de etnicidade compensam bem a pobreza cosmopolitista maioritária. E, de resto, mesmo o pop reinante não é dos piores - serve para se ver em casa, ao jantar, ou no intervalo dalguma leitura proveitosa, sem ter de pagar um chavo, bem entendido.
Ironicamente, os únicos dois países que, pela sua posição geográfica e etnicidade, não deveriam participar - Israel e Turquia - costumavam ser aqueles que mais vezes levavam sonoridades étnicas interpretadas na sua língua nacional.
Este ano, todavia, Israel averbou merecida derrota, obtendo uma das suas pontuações mais baixas de sempre, ao apresentar um colectivo multirracial a interpretar um gospel... também merecida foi a derrota do Reino Unido, cujo representante deu voz e triste figura à sua musiqueta rap.
Desgraçadamente, os representantes dos países de leste parecem apreciar demasiadas vezes a salganhada a envolver o rap ou outro estilo negróide. Deve ser essa a face mais «progressista» e americanizada de sociedades saídas há pouco da miséria e do obscurantismo comunista e anti-ocidental. O desespero da pobreza tapadinha levou à colonização via MTV (o deprimente caso da canção moldova é disso um exemplo especialmente degradante).
Até a Lituânia e a Letónia, que têm tão vivas e ricas tradições musicais folclóricas, como bem o demonstra o grupo SkyForger...
A Alemanha, por seu turno, destacou-se pela bizarria de eleger como sua representante uma cançoneta «country» interpretada por teutónicos trajados à caubói.
Não obstante, a colheita «folk» deste ano não foi das piores. Salientou-se em particular a Noruega, com a excelente «Alvedansen» (Dança dos Elfos), música ligeira com clara influência folclórica, até no tema da letra, cantada por quasi-etéreas nórdicas, trajadas de branco, em feérico alvor, como «fadas» da remota e lendária Última Thule (ou Hiperbórea, para os Gregos). Merecia, sem dúvida, o primeiro lugar.
Também muitíssimo boa foi a representação da Croácia, igualmente folclórica e cantada no idioma nacional.
A meio da votação, ficou-se a saber que a canção da Sérvia-Montenegro tinha sido impedida de participar por motivos políticos, dado que um dos lados do país (ou Sérvia ou Montenegro) não aceitava ser representado pela música do outro lado...
No final, ganhou a Finlândia com um hardrock quase metálico, marcado por uma melodia festivaleira bastante agradável e uns brados à Udo Dirkschneider bem colocados. Os artistas, banda de nome Lordi, com fama de serem satânicos (o que originou o protesto da igreja luterana lá da terra - mas o vocalista diz que até faz parte duma igreja), apareceram em palco com vestimentas de ogres bélicos, brandindo o arcaico e mítico machado duplo (bipene ou labris), num estilo épico-lendário, na linha de ficção fantasiosa conhecida como «espada & feitiçaria»(Senhor dos Anéis, Conan, Kull, etc.). A margem com que os hard-roqueiros finlandeses ganharam deu-me especial gozo pelo modo como indignou o locutor Eládio Clímaco, que não deixava de manifestar o seu mau gosto soft-kitsch, a dizer que não compreendia, e que não podia ser, mas como é que podia ser uma coisa daquelas, ainda se fosse a da Rússia a ganhar (que por acaso era uma das mais pirosas), agora a da Finlândia... não se cansava de dar a entender que tal resultado só se podia dever à votação «dos mais jovens»...
Curiosamente, nunca se lembrou Clímaco de dizer o mesmo a respeito das votações nos concorrentes «rappers»... será que o rap, maciçamente promovido pelos mé(r)dia, já ganhou estatuto de música «normal», de «adultos com espírito jovem», apesar da sua imunda origem, a saber, sons de criminosos negros do submundo norte-americano, que só sabem falar dos seus «problemas sócio-raciais», e do «racismo dos brancos!», enquanto incitam, não raras vezes, ao assassinato de polícias brancos?
Aqui fica a letra da Alvedansen:
1.Vers
Bare jeg kan fange ditt blikk
Vise klør i kysset du fikk
Tirre deg så du blir til ild
Kom hit jeg vet du vil
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
2.Vers
Bare jeg vet alt som du er
Gir deg gnist, jeg ser du er nær
Svev med meg
La alt bli til ild
Kom hit jeg vet du vil
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
Bro
Ingen vet
Vinden leker
Månen ser bort
Og vi er alt
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
Tradução (a partir da tradução inglesa):
Posso acender o fogo nos teus olhos
Posso ouvir o meu beijo a fazer-te suspirar
Posso pôr o teu sangue em chamas
Vem, joga o meu jogo secreto.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
Só eu conheço todo o teu desejo
Só eu posso fazer-te voar mais alto
Só eu posso pôr-te em chamas
Vem, joga o meu jogo secreto.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
Vento e Lua
Dormem ambos
Ninguém pode ver
A nossa dança da meia-noite.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
Nos últimos quinze anos, a importância do Festival da Eurovisão tem decrescido bastante, o que é pena, porquanto constitui uma oportunidade rara para fortalecer os laços culturais e até fraternais entre os Europeus. Não me lembro de que alguma vez houvesse chatice ou sequer rivalidade hostil (que se soubesse, pelo menos) entre os países concorrentes, o que faz com que este concurso seja mais útil do que por exemplo os campeonatos de futebol (europeus ou mundiais).
Quanto ao aspecto cultural em concreto, tenho para mim que a música é um veículo privilegiado da alma dum Povo. Assim, quanto mais os Europeus se habituassem a ouvir e a apreciar música étnica europeia, mais fortalecida seria a sua identidade.
Pois o que é a civilização senão o invólucro da identidade e ao mesmo tempo uma natural emanação da mesma?
A cultura está para a identidade como a armadura, ou a indumentária, estão para o indivíduo. Em condições ideais, emana da natural vontade do sujeito; em situações anormais, é-lhe imposta.
Mas, do mesmo modo que o indivíduo normal e sadio acaba por conseguir ver-se livre do traje de que não gosta, também um Povo, enquanto estiver vivo, consegue, a pouco e pouco, livrar-se do que historicamente se lhe tiver agarrado ao corpo civilizacional.
Geralmente, a maior parte das músicas concorrentes caracteriza-se por um estilo pop mais ou menos internacional, mas característico, por vezes com laivos de folclore (sobretudo as que vêm do sudeste europeu), mas demasiadas vezes cantado em Inglês, para infelicidade da rica diversidade europeia.
Todavia, vale sempre a pena assistir ao festival, pois que os oásis de etnicidade compensam bem a pobreza cosmopolitista maioritária. E, de resto, mesmo o pop reinante não é dos piores - serve para se ver em casa, ao jantar, ou no intervalo dalguma leitura proveitosa, sem ter de pagar um chavo, bem entendido.
Ironicamente, os únicos dois países que, pela sua posição geográfica e etnicidade, não deveriam participar - Israel e Turquia - costumavam ser aqueles que mais vezes levavam sonoridades étnicas interpretadas na sua língua nacional.
Este ano, todavia, Israel averbou merecida derrota, obtendo uma das suas pontuações mais baixas de sempre, ao apresentar um colectivo multirracial a interpretar um gospel... também merecida foi a derrota do Reino Unido, cujo representante deu voz e triste figura à sua musiqueta rap.
Desgraçadamente, os representantes dos países de leste parecem apreciar demasiadas vezes a salganhada a envolver o rap ou outro estilo negróide. Deve ser essa a face mais «progressista» e americanizada de sociedades saídas há pouco da miséria e do obscurantismo comunista e anti-ocidental. O desespero da pobreza tapadinha levou à colonização via MTV (o deprimente caso da canção moldova é disso um exemplo especialmente degradante).
Até a Lituânia e a Letónia, que têm tão vivas e ricas tradições musicais folclóricas, como bem o demonstra o grupo SkyForger...
A Alemanha, por seu turno, destacou-se pela bizarria de eleger como sua representante uma cançoneta «country» interpretada por teutónicos trajados à caubói.
Não obstante, a colheita «folk» deste ano não foi das piores. Salientou-se em particular a Noruega, com a excelente «Alvedansen» (Dança dos Elfos), música ligeira com clara influência folclórica, até no tema da letra, cantada por quasi-etéreas nórdicas, trajadas de branco, em feérico alvor, como «fadas» da remota e lendária Última Thule (ou Hiperbórea, para os Gregos). Merecia, sem dúvida, o primeiro lugar.
Também muitíssimo boa foi a representação da Croácia, igualmente folclórica e cantada no idioma nacional.
A meio da votação, ficou-se a saber que a canção da Sérvia-Montenegro tinha sido impedida de participar por motivos políticos, dado que um dos lados do país (ou Sérvia ou Montenegro) não aceitava ser representado pela música do outro lado...
No final, ganhou a Finlândia com um hardrock quase metálico, marcado por uma melodia festivaleira bastante agradável e uns brados à Udo Dirkschneider bem colocados. Os artistas, banda de nome Lordi, com fama de serem satânicos (o que originou o protesto da igreja luterana lá da terra - mas o vocalista diz que até faz parte duma igreja), apareceram em palco com vestimentas de ogres bélicos, brandindo o arcaico e mítico machado duplo (bipene ou labris), num estilo épico-lendário, na linha de ficção fantasiosa conhecida como «espada & feitiçaria»(Senhor dos Anéis, Conan, Kull, etc.). A margem com que os hard-roqueiros finlandeses ganharam deu-me especial gozo pelo modo como indignou o locutor Eládio Clímaco, que não deixava de manifestar o seu mau gosto soft-kitsch, a dizer que não compreendia, e que não podia ser, mas como é que podia ser uma coisa daquelas, ainda se fosse a da Rússia a ganhar (que por acaso era uma das mais pirosas), agora a da Finlândia... não se cansava de dar a entender que tal resultado só se podia dever à votação «dos mais jovens»...
Curiosamente, nunca se lembrou Clímaco de dizer o mesmo a respeito das votações nos concorrentes «rappers»... será que o rap, maciçamente promovido pelos mé(r)dia, já ganhou estatuto de música «normal», de «adultos com espírito jovem», apesar da sua imunda origem, a saber, sons de criminosos negros do submundo norte-americano, que só sabem falar dos seus «problemas sócio-raciais», e do «racismo dos brancos!», enquanto incitam, não raras vezes, ao assassinato de polícias brancos?
Aqui fica a letra da Alvedansen:
1.Vers
Bare jeg kan fange ditt blikk
Vise klør i kysset du fikk
Tirre deg så du blir til ild
Kom hit jeg vet du vil
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
2.Vers
Bare jeg vet alt som du er
Gir deg gnist, jeg ser du er nær
Svev med meg
La alt bli til ild
Kom hit jeg vet du vil
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
Bro
Ingen vet
Vinden leker
Månen ser bort
Og vi er alt
Ref.
AA….
Bli med meg i sommernatten
AA…
Ingenting er skjult i natt
Tradução (a partir da tradução inglesa):
Posso acender o fogo nos teus olhos
Posso ouvir o meu beijo a fazer-te suspirar
Posso pôr o teu sangue em chamas
Vem, joga o meu jogo secreto.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
Só eu conheço todo o teu desejo
Só eu posso fazer-te voar mais alto
Só eu posso pôr-te em chamas
Vem, joga o meu jogo secreto.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
Vento e Lua
Dormem ambos
Ninguém pode ver
A nossa dança da meia-noite.
Ha -----
Toda a noite de Verão tem segredos
Ha -----
Dir-te-ei os meus esta noite.
9 Comments:
O Clímaco estava revoltado porque o gajo da Rússia tinha todo o ar de rabeta. É a solidariedade a funcionar.
"Ironicamente, os únicos dois países que, pela sua posição geográfica e etnicidade, não deveriam participar - Israel e Turquia - costumavam ser aqueles que mais vezes levavam sonoridades étnicas interpretadas na sua língua nacional."
É verdade.
Em Israel este ano, lá botou faladura algum "soixante-huitard" para pespegar com aquilo, que nem faznada o género dos gajos.
Não é costume.
Pró ano voltam a atinar.
"... ficou-se a saber que a canção da Sérvia-Montenegro tinha sido impedida de participar por motivos políticos,..."
Já sabemos porquê. Nasceu mais uma nação na Europa. :)
"cançoneta «country» interpretada por teutónicos trajados à caubói."
Foi de chorar a rir mas, que diabo, o Country é um estilo musical de origem europeia. É a evolução das músicas tradicionais (especialemte ritmos ingleses e irlandeses) levados para a América do Norte pelos colonos.
Se calhar não foi assim tão bizarro.
Pelo menos é música de raízes europeias e bem melhor que rap ou hip-hop.
"....uns brados à Udo Dirkschneider bem colocados...."
eheehehehhe
Foi de chorar a rir mas, que diabo, o Country é um estilo musical de origem europeia. É a evolução das músicas tradicionais (especialemte ritmos ingleses e irlandeses) levados para a América do Norte pelos colonos.
Sim, é. E nem achei a música má de todo, mesmo que o country não seja das minhas preferências. Por isso, chamei-lhe «bizarro» e não «foleiro»...;) Eu acho graça ao que é bizarro - e achei esquisitíssimo ver um grupo de alemães, povo estereotipadamente conhecido pela sua rigidez, a cantar uma americana naquele sotaque fluído e «cool» dos ianques.
Mas que é bem melhor que rap, hip-hop ou qualquer outro estilo negróide (jazz incluído), isso está fora de dúvida.
Quanto ao Udo Dirkschneider, abençoada seja a sua influência musical...;)
Really amazing! Useful information. All the best.
»
Your are Excellent. And so is your site! Keep up the good work. Bookmarked.
»
Greets to the webmaster of this wonderful site! Keep up the good work. Thanks.
»
Your are Nice. And so is your site! Maybe you need some more pictures. Will return in the near future.
»
I find some information here.
Enviar um comentário
<< Home