domingo, junho 27, 2004

JULIANO

No dia 26 de Junho de 363 d.c., morreu Juliano, O Grande, chamado pelos cristãos de «Apóstata», porque, tendo sido educado na fé cristã, a esta renunciou em nome da lealdade aos Deuses antigos do mundo greco-romano.
Durante o seu crescimento, estudou, por um lado, a cultura greco-romana, e, por outro, a religião de Jesus, ao qual ele chamava «Galileu». Decidiu-se, desde cedo, pela herança pagã, mas escondeu essa preferência devido à repressão cristã que já então se fazia sentir. Assim que pôde assumir a sua escolha religiosa, fê-lo em grande estilo. Tornando-se imperador de Roma em 361, deu ordem para restaurar diversos templos pagãos, que entretanto tinham sido destruídos e saqueados por cristãos, e realizou imponentes cerimónias religiosas em honra dos Deuses. Proibiu os cristãos de ensinar filosofia dos autores pagãos, o que indignou muitos dos seguidores do crucificado.

E teve toda a razão em fazê-lo, digo eu.
Ele sabia bem que os cristãos não podiam de boa vontade ensinar a filosofia pagã. Facilmente seriam tentados a mutilá-la.
E foi o que fizeram, até hoje, praticamente, por isso é que, por exemplo, muitos alunos de Filosofia desconhecem que Platão era um feroz devoto dos Deuses.

Para além de ser um comandante de tropas muito bem sucedido, Juliano era um filósofo notável e um grande inspirador de fervor religioso. Sem prejuízo do culto que prestava à generalidade dos Deuses, Juliano tinha uma especial predilecção pelo Sol Invictus (Sol Invencível), por Zeus, por Apolo, por Mitra e por Cibele, a Grande Mãe dos Deuses.

Os cristãos atribuiram-lhe umas famosas últimas palavras: «Venceste, Galileu!». Cientificamente, nunca ficou provado que Juliano tivesse dito isto. O que os seus amigos mais próximos relataram, foi que o imperador pagão, pouco antes de morrer - devido a ter sido mortalmente ferido em combate, ou pelos Persas, ou por um dos soldados romanos cristãos, à traição - discursou sobre o modo como se devia encarar a morte, sem medo.

Juliano foi o grande paladino do Paganismo clássico contra o domínio totalitário do Cristianismo, credo de origem semita cujos arautos pregavam o abandono e mesmo a destruição de todas as outras religiões, em nome de um Deus universal, internacional, igualitário, que se tinha revelado apenas aos Judeus, até que um dos judeus, Jesus, resolveu tornar universal esse culto.

A isso, Juliano respondia, com a clareza de espírito de um pagão clássico antigo: mas porque é que devemos abandonar os nossos Deuses em nome de um Deus estrangeiro, que pretende ser o único Deus?

No fundo, é este o cerne de todo o combate nacionalista e identitário. Pois o que de mais natural pode haver do que cada povo ter os seus próprios Deuses?

E reafirmo: não há nada de mais legítimo, de mais sagrado, do que o princípio de cada povo ter os seus Deuses, a sua cultura, a sua língua.


Para mais informações, recomendo:

http://www.juliansociety.org

e, também, o livro «Juliano», de Gore Vidal.