O SENHOR DOS ANÉIS
Finalmente, vi o terceiro filme da trilogia «O Senhor dos Anéis». Lamentei a
irritação que me causaram as várias vicissitudes que não me permitiram vê-lo antes do dia 24, para aproveitar melhor a magia solsticial... mas enfim,nada é perfeito.
Trata-se de um grande filme - o melhor dos três, quanto a mim. Tem um final apoteótico, e nada surpreendente, ao contrário do que me tinham dito, ou do que tinha lido, já nem me lembro. E qual é o mal? Ser surpreendente nem sequer é condição essencial para que uma obra desta temática tenha valor.
Deixando de lado uma ou outra parte menos brilhante - um muito vago pendor para a lamechice, bem como uma ou outra cena em que um pequeno hobbit derrota sem dificuldade dois ou três grandes e ferozes ogres, coisa inverosímil, deixando também de lado o maniqueísmo grosseiro de os bons mais bonzinhos serem perfeitamente bons, e, os maus, absolutamente maus, deixando também de lado as influências cristãs que fazem do poder uma «tentação demoníaca», e da humildade, um valor cardinal, o que não admira, já que Tolkien era católico -
deixando de lado tudo isto,
deve dizer-se que a obra filmada vivifica a imaginação, dá um excelente colorido
à vida, e inspira um gosto pelas tradições espirituais e mitológicas de alguns dos nossos Maiores, ancestrais da Europa, a saber, Celtas, Germanos (e Finlandeses, embora estes tenham pouca ou nenhuma influência na maioria do continente europeu, a não ser, talvez, pela figura do Pai Natal...), pois que o autor da obra baseou-se nessas culturas para elaborar o seu feérico mundo, edificado na sua imaginação com um tal grau de rigor e pormenor que até incluiu a criação de idiomas próprios das raças fantásticas de quem Tolkien narrou as aventuras, facto que está evidentemente relacionado com o interesse deste pacato e lírico inglês pelas línguas e literaturas do norte europeu.
Juntamente com o primeiro filme de Harry Potter, transmitido pela TVI no dia 25, contribuiu para que este Natal tivesse a sua atmosfera encantada, como convém. Quanto a este último, o do puto mágico, parece-me pouco original, cheio de lugar-comuns: o herói é um petiz sensato, modesto e éticamente perfeito, tem uma amiga esperta e expedita, e um amigo desajeitado, a ala onde na qual estuda – Gryffendor – só tem meninos bonzinhos, enquanto a ala do seu adversário, um puto propositadamente irritante e penteadinho, a ala Slytherin, é só crianças más e violentas, e depois o mau da fita é um adulto bera como as cobras, sem pingo de bondade: enfim, o conflito maniqueísta, somado ao ambiente de colégio interno inglês tão retratado nas séries juvenis britânicas. De qualquer modo, acaba por ficar bem enquadrado, no Natal, ao lado da trilogia do anel tolkiana.
Ressalta desta trilogia, para além do valor literário e etno-cultural de vivificação da raizes, uma ética de heroísmo e de camaradagem combativa, de combate até ao fim e de lealdade, de vigor marcial aliado ao natural, tradicional, sentido do dever.
Claro que isto não agrada a certa intelectualidade contemporânea, mais interessada em explorar as angústias, os niilismos, a negação de «todos os valores» - leia-se, com muita atenção, nas entrelinhas: é a negação de todos os valores, sim... mas só dos valores tradicionais.... porque essa laia não admite qualquer dúvida em relação aos seus próprios valores, os da igualdade a todo o custo e da massificação do humano, com a sua correspondente diluição no colectivo. Tal tipo de «livre-pensadores», valoriza muito a «irreverência» e a «rebeldia», desde que, bem entendido, os tais «irreverentes» e «rebeldes» não se atrevam a pôr em causa os sacrossantos dogmas da igualdade e da fraternidade sem fronteiras, «verdades» obrigatórias.
Ainda a personagem mais moderna, por assim dizer, é a do hobbit degradado, Smeagoll ou Gollum, que vive dividido entre apossar-se do anel pela traição ou ajudar os hobbits a cumprirem o seu dever para que a tirania não triunfe. A criatura acaba por morrer, mostrando, talvez, que Tolkien não acreditava em gente de meias tintas. Um pessimismo nada cristão... Também na mitologia nórdica, o Deus Loki, sempre moralmente dúbio, acabará por se juntar aos inimigos dos Deuses no Ragnarok ou fim do mundo.
O intelectual moderno, por seu turno, adora estas dilacerações de carácter, estes conflitos interiores, esta ausência de grandeza e de serenidade, este miserabilismo decadente... o intelectual moderno, não só se sente inteiramente identificado com panoramas psicológicos deste jaez, como, não raras vezes, se sente perfeitamente à vontade para mostrar o seu pretensamente erudito desprezo por quem quer que não se reveja em tal tipo de ser humano. «Quem não se contradiz é estúpido», foi o que já ouvi das mentecaptas bocas de alguns deles...
Não obstante tais atoardas existencialistas, o ser humano normal evita contradizer-se. Reflecte, horas a fio se necessário for, para gerir as diferentes tendências que albergue em si, fruto de diferentes influências, vindas de diferentes fontes.
E, para o fazer, precisa de usar o conceito de prioridade, de escolha: ora é precisamente disto que a intelectualada modernaça não gosta – da definição, da forma, do rigor, da verticalidade, da diferenciação, da ordem e do valor individual em oposição ao caos e à dissolução no colectivo. Lembro-me de Alain de Benoist a informar que, em termos de crítica de arte, considera-se, no seio das hostes intelectuais esquerdistas, que «a forma é fascista».
(Essa é uma das razões pelas quais, cá em Portugal, gostava essa «elite» de Guterres, mas não de Cavaco... porque Guterres é aquosa indefinição, é banha conciliadora e que apara grandes choques, ao passo que Cavaco é seco e ossudo, corta a direito e toma decisões. Francisco Louçã também é assim, seco e ossudo, e etc., e arrogante também, mas, como é de esquerda, é um arrogante de rosto humano...)
Os heróis de Tolkien sabem o que têm a fazer. Não dão a outra face ao inimigo, nem acham que se calhar o inimigo é que tem razão, e que os soldados do seu lado estão a bater demasiado nas tropas oponentes, e que isso viola os direitos humanos, e etc..
Os heróis de Tolkien não têm problemas de consciência quando, fazendo o que têm a fazer, liquidam oponentes em barda. Não preferem desertar, para não terem de enfrentar «o inferno de matar alguém (na guerra)», para usar uma expressão piegas de uma música pop-tuga.
E uma certa intelectualidade modernaça morde-se de raiva com tudo isto...
O filme tem mérito, como disse acima, no que respeita à valorização da ficção mágica. Acredite-se ou não na existência de elfos e anões, o que parece comum a todos os apreciadores do género é o gosto estético e emocional pela abertura de horizontes que o tal género permite ao espírito humano. Não há nada mais irritante do que as ventas ora trocistas ora enfadadas da cambada sem imaginação e com as patas bem afundadas no lodo (que é mais abaixo do que bem assentes na terra) a expressarem o seu mesquinho desprezo por «fantasias».
Quantas vezes não foram já vistos tais semblantes tão necessários à vida como uma dor nos intestinos, quase sempre acompanhados por palavreado de desdém em relação a quem gosta de coisas «para crianças».
Pois agora gramam com uma obra literária de primeira água, sobre essas coisas «para crianças», a ser passada ao cinema e a ganhar prémios em série. É o triunfo daquilo que incomoda essas caras de peido morno, e a vingança de todos os que, ao longo dos anos, tiveram de ouvir as suas opiniões de merda, que nunca foram pedidas.
Não gostaram da novidade que foi verem os cinemas «infestados» de fantasias mágicas e mirabolantes, mas têm só de se acalmar, porque ainda levam mais. Parece que o realizador da trilogia do anel se prepara para filmar outra obra de Tolkien, ou o Silmarillion ou o Hobbit, não me recordo.
Mas acima das obras de fantasia escritas no século passado, está o acervo das grandes epopeias mitológicas e condensadoras do espírito europeu, em diferentes versões, consoante a sua etnia: a Ilíada, a Odisseia, a Eneida, os Lusíadas, o Mabinogion, as Eddas... nunca por nunca um realizador, dispondo de muitos meios, se pôs a realizar um filme baseado em qualquer destas obras.
Houve centos de filmes sobre o Antigo Testamento, que é nada mais do que a saga de um povo estrangeiro à Europa, e sobre o nascimento, vida e morte de um judeu que morreu longe, na cruz, mas nem um com a narração de qualquer dos mitos centrais dos verdadeiros antepassados da Europa – eis o que é motivo de vergonha para o Ocidente.
irritação que me causaram as várias vicissitudes que não me permitiram vê-lo antes do dia 24, para aproveitar melhor a magia solsticial... mas enfim,nada é perfeito.
Trata-se de um grande filme - o melhor dos três, quanto a mim. Tem um final apoteótico, e nada surpreendente, ao contrário do que me tinham dito, ou do que tinha lido, já nem me lembro. E qual é o mal? Ser surpreendente nem sequer é condição essencial para que uma obra desta temática tenha valor.
Deixando de lado uma ou outra parte menos brilhante - um muito vago pendor para a lamechice, bem como uma ou outra cena em que um pequeno hobbit derrota sem dificuldade dois ou três grandes e ferozes ogres, coisa inverosímil, deixando também de lado o maniqueísmo grosseiro de os bons mais bonzinhos serem perfeitamente bons, e, os maus, absolutamente maus, deixando também de lado as influências cristãs que fazem do poder uma «tentação demoníaca», e da humildade, um valor cardinal, o que não admira, já que Tolkien era católico -
deixando de lado tudo isto,
deve dizer-se que a obra filmada vivifica a imaginação, dá um excelente colorido
à vida, e inspira um gosto pelas tradições espirituais e mitológicas de alguns dos nossos Maiores, ancestrais da Europa, a saber, Celtas, Germanos (e Finlandeses, embora estes tenham pouca ou nenhuma influência na maioria do continente europeu, a não ser, talvez, pela figura do Pai Natal...), pois que o autor da obra baseou-se nessas culturas para elaborar o seu feérico mundo, edificado na sua imaginação com um tal grau de rigor e pormenor que até incluiu a criação de idiomas próprios das raças fantásticas de quem Tolkien narrou as aventuras, facto que está evidentemente relacionado com o interesse deste pacato e lírico inglês pelas línguas e literaturas do norte europeu.
Juntamente com o primeiro filme de Harry Potter, transmitido pela TVI no dia 25, contribuiu para que este Natal tivesse a sua atmosfera encantada, como convém. Quanto a este último, o do puto mágico, parece-me pouco original, cheio de lugar-comuns: o herói é um petiz sensato, modesto e éticamente perfeito, tem uma amiga esperta e expedita, e um amigo desajeitado, a ala onde na qual estuda – Gryffendor – só tem meninos bonzinhos, enquanto a ala do seu adversário, um puto propositadamente irritante e penteadinho, a ala Slytherin, é só crianças más e violentas, e depois o mau da fita é um adulto bera como as cobras, sem pingo de bondade: enfim, o conflito maniqueísta, somado ao ambiente de colégio interno inglês tão retratado nas séries juvenis britânicas. De qualquer modo, acaba por ficar bem enquadrado, no Natal, ao lado da trilogia do anel tolkiana.
Ressalta desta trilogia, para além do valor literário e etno-cultural de vivificação da raizes, uma ética de heroísmo e de camaradagem combativa, de combate até ao fim e de lealdade, de vigor marcial aliado ao natural, tradicional, sentido do dever.
Claro que isto não agrada a certa intelectualidade contemporânea, mais interessada em explorar as angústias, os niilismos, a negação de «todos os valores» - leia-se, com muita atenção, nas entrelinhas: é a negação de todos os valores, sim... mas só dos valores tradicionais.... porque essa laia não admite qualquer dúvida em relação aos seus próprios valores, os da igualdade a todo o custo e da massificação do humano, com a sua correspondente diluição no colectivo. Tal tipo de «livre-pensadores», valoriza muito a «irreverência» e a «rebeldia», desde que, bem entendido, os tais «irreverentes» e «rebeldes» não se atrevam a pôr em causa os sacrossantos dogmas da igualdade e da fraternidade sem fronteiras, «verdades» obrigatórias.
Ainda a personagem mais moderna, por assim dizer, é a do hobbit degradado, Smeagoll ou Gollum, que vive dividido entre apossar-se do anel pela traição ou ajudar os hobbits a cumprirem o seu dever para que a tirania não triunfe. A criatura acaba por morrer, mostrando, talvez, que Tolkien não acreditava em gente de meias tintas. Um pessimismo nada cristão... Também na mitologia nórdica, o Deus Loki, sempre moralmente dúbio, acabará por se juntar aos inimigos dos Deuses no Ragnarok ou fim do mundo.
O intelectual moderno, por seu turno, adora estas dilacerações de carácter, estes conflitos interiores, esta ausência de grandeza e de serenidade, este miserabilismo decadente... o intelectual moderno, não só se sente inteiramente identificado com panoramas psicológicos deste jaez, como, não raras vezes, se sente perfeitamente à vontade para mostrar o seu pretensamente erudito desprezo por quem quer que não se reveja em tal tipo de ser humano. «Quem não se contradiz é estúpido», foi o que já ouvi das mentecaptas bocas de alguns deles...
Não obstante tais atoardas existencialistas, o ser humano normal evita contradizer-se. Reflecte, horas a fio se necessário for, para gerir as diferentes tendências que albergue em si, fruto de diferentes influências, vindas de diferentes fontes.
E, para o fazer, precisa de usar o conceito de prioridade, de escolha: ora é precisamente disto que a intelectualada modernaça não gosta – da definição, da forma, do rigor, da verticalidade, da diferenciação, da ordem e do valor individual em oposição ao caos e à dissolução no colectivo. Lembro-me de Alain de Benoist a informar que, em termos de crítica de arte, considera-se, no seio das hostes intelectuais esquerdistas, que «a forma é fascista».
(Essa é uma das razões pelas quais, cá em Portugal, gostava essa «elite» de Guterres, mas não de Cavaco... porque Guterres é aquosa indefinição, é banha conciliadora e que apara grandes choques, ao passo que Cavaco é seco e ossudo, corta a direito e toma decisões. Francisco Louçã também é assim, seco e ossudo, e etc., e arrogante também, mas, como é de esquerda, é um arrogante de rosto humano...)
Os heróis de Tolkien sabem o que têm a fazer. Não dão a outra face ao inimigo, nem acham que se calhar o inimigo é que tem razão, e que os soldados do seu lado estão a bater demasiado nas tropas oponentes, e que isso viola os direitos humanos, e etc..
Os heróis de Tolkien não têm problemas de consciência quando, fazendo o que têm a fazer, liquidam oponentes em barda. Não preferem desertar, para não terem de enfrentar «o inferno de matar alguém (na guerra)», para usar uma expressão piegas de uma música pop-tuga.
E uma certa intelectualidade modernaça morde-se de raiva com tudo isto...
O filme tem mérito, como disse acima, no que respeita à valorização da ficção mágica. Acredite-se ou não na existência de elfos e anões, o que parece comum a todos os apreciadores do género é o gosto estético e emocional pela abertura de horizontes que o tal género permite ao espírito humano. Não há nada mais irritante do que as ventas ora trocistas ora enfadadas da cambada sem imaginação e com as patas bem afundadas no lodo (que é mais abaixo do que bem assentes na terra) a expressarem o seu mesquinho desprezo por «fantasias».
Quantas vezes não foram já vistos tais semblantes tão necessários à vida como uma dor nos intestinos, quase sempre acompanhados por palavreado de desdém em relação a quem gosta de coisas «para crianças».
Pois agora gramam com uma obra literária de primeira água, sobre essas coisas «para crianças», a ser passada ao cinema e a ganhar prémios em série. É o triunfo daquilo que incomoda essas caras de peido morno, e a vingança de todos os que, ao longo dos anos, tiveram de ouvir as suas opiniões de merda, que nunca foram pedidas.
Não gostaram da novidade que foi verem os cinemas «infestados» de fantasias mágicas e mirabolantes, mas têm só de se acalmar, porque ainda levam mais. Parece que o realizador da trilogia do anel se prepara para filmar outra obra de Tolkien, ou o Silmarillion ou o Hobbit, não me recordo.
Mas acima das obras de fantasia escritas no século passado, está o acervo das grandes epopeias mitológicas e condensadoras do espírito europeu, em diferentes versões, consoante a sua etnia: a Ilíada, a Odisseia, a Eneida, os Lusíadas, o Mabinogion, as Eddas... nunca por nunca um realizador, dispondo de muitos meios, se pôs a realizar um filme baseado em qualquer destas obras.
Houve centos de filmes sobre o Antigo Testamento, que é nada mais do que a saga de um povo estrangeiro à Europa, e sobre o nascimento, vida e morte de um judeu que morreu longe, na cruz, mas nem um com a narração de qualquer dos mitos centrais dos verdadeiros antepassados da Europa – eis o que é motivo de vergonha para o Ocidente.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home