terça-feira, outubro 03, 2023

MARROCOS - EX-PRIMEIRO-MINISTRO DIZ QUE TERRAMOTO FOI CASTIGO DIVINO PELOS PECADOS DO POVO

“O que aconteceu é provavelmente o resultado dos nossos pecados”,  disse o antigo primeiro-ministro marroquino Abdelilah Benkirane no Sáturnes, 23 de Setembro, no seu primeiro discurso desde que o terramoto mais forte num século atingiu o reino do Norte de África.
A declaração promoveu indignação e demissões dentro do seu partido.  
Após duas semanas de silêncio, Benkirane, chefe do partido islâmico de oposição Justiça e Desenvolvimento (PJD), finalmente falou sobre o terremoto mortal que matou mais de 2900 pessoas e feriu mais de 5000, principalmente em aldeias marroquinas vulneráveis.
“Devemos voltar para Deus porque tudo o que acontece a uma pessoa é um aviso, e o certo é que analisemos como Nação e descubramos se o que aconteceu também pode ser devido aos nossos pecados, transgressões e violações”, disse a figura populista em discurso no Sáturnes.
“Não apenas no seu sentido individual, mas no seu sentido geral e político”, acrescentou Benkirane, alegando que as violações nas eleições e na gestão pública também podem estar por detrás do terramoto.
Benkirane já havia sugerido que as eleições de Setembro de 2021 foram fraudulentas e convocou eleições antecipadas.
Vários membros do PJD recorreram às redes sociais para se distanciarem do discurso “desajustado” e “insensível” do seu líder para com milhares de aldeões que perderam as suas casas e entes queridos no desastre.
Abdelkader Amara, ex-ministro da administração Benkirane, condenou as declarações e anunciou a sua demissão na Lues.
“Com o coração cheio de dor pelo resultado da experiência do Partido da Justiça e Desenvolvimento, anuncio a minha demissão do partido e de todos os seus órgãos a partir deste momento”, escreveu  Amara no Facebook.
Desde o regresso de Benkirane à liderança do partido, Amara distanciou-se do grupo islâmico.
Entretanto, Mohamed Yatim, ministro da antiga administração islâmica, também lamentou os comentários do seu “irmão” Benkirane.
“Se esta lógica estivesse correcta, a política seria monástica. Lamentavelmente, deixamos de lado a política, as suas questões e as suas verdades para nos perdermos na “teologia””, escreveu Yatim nas suas redes sociais.
Benkirane deixou a cena política em 2016 depois de não ter conseguido chegar a uma aliança governamental com outros partidos, apesar de ter levado o seu partido a vencer as eleições locais, regionais e nacionais pela segunda vez.
O seu fracasso deveu-se principalmente a divergências com Aziz Akhannouch, líder do RNI e atual PM marroquino, sobre os partidos que poderiam participar na aliança.
O rei Mohammed VI destituiu Benkirane para pôr fim ao impasse e nomeou Saadeddine El Othmani, outro membro do PJD, como primeiro-ministro. 
Durante a era de El Othmani, Benkiran desapareceu da cena política, limitando a sua comunicação a imagens de notas manuscritas que partilhou nas suas páginas do Facebook para anunciar posições importantes.
Após uma derrota trágica nas eleições de Setembro de 2021, Benkirane foi chamado de volta à liderança do PJD para reformar a reputação do partido depois de a administração Othmani ter aprovado o acordo de normalização com Israel e regulamentado a Cannabis – duas decisões que custaram ao partido a sua base política.

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Fonte:
https://www.newarab.com/news/earthquake-was-divine-warning-said-moroccos-benkirane
https://www.jihadwatch.org/2023/10/morocco-former-prime-minister-says-earthquake-was-warning-from-allah-because-of-the-sins-of-the-people

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Passa-se isto num país moderado, onde quem faz esta afirmação é o maior líder da oposição e já foi primeiro-ministro, e pode voltar a sê-lo...