TURQUIA - DOIS PESOS DUAS MEDIDAS RELATIVAMENTE AO APOIO AOS CURDOS

Mais uma vez, a Turquia é a estranha na aliança da OTAN. O líder islâmico do país, o presidente Recep Tayyip Erdoğan, está a tentar transformar o que parece ser o movimento mais estratégico da história da OTAN num comércio de tapetes no Grande Bazar de Istambul.
Erdoğan disse a 13 de Maio que o seu país "não é favorável" à entrada da Finlândia e da Suécia na OTAN, indicando que a Turquia poderia usar a sua participação na aliança militar ocidental para vetar medidas para admitir os dois países.
Erdoğan explicou a sua oposição citando o suposto apoio da Suécia e de outros países escandinavos a militantes curdos e outros que a Turquia considera terroristas. Esta denúncia não pode ser levada a sério. Erdoğan tem o hábito de chamar terrorista a qualquer pessoa que seja política e religiosamente diferente da sua própria visão de mundo. Nos últimos anos, a lista de terroristas escolhida a dedo por Erdoğan incluía cidadãos que investiram em dólares americanos, agências de classificação de crédito estrangeiras, partidos da oposição, municípios administrados por partidos da oposição, o principal líder da oposição Kemal Kılıçdaroğlu, turcos que votam contra a sua vontade, políticos curdos e jornalistas. Em Fevereiro de 2021, ele acusou manifestantes estudantis de serem terroristas quando a polícia turca os prendeu por protestar contra a nomeação de um novo reitor numa das principais universidades do país.
Dentro de um ano após as eleições locais de Março de 2019, autarcas foram substituídos por curadores em mais da metade dos cerca de 65 municípios conquistados pelo partido pró-curdo HDP, com alguns dos autarcas a serem presos sob a acusação de ter ligações terroristas. O governo de Erdoğan nomeou governadores e outras autoridades locais como curadores nestes distritos.
Hoje, pesquisas de opinião confiáveis ​​colocam a classificação do bloco de oposição bem acima da de Erdoğan. De acordo com a ORC Research, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdoğan ganharia 28% dos votos nacionais se houvesse eleições hoje, em comparação com uma votação combinada de 42,5% para os dois principais partidos da oposição. No mundo de Erdoğan, isto significa que dois terços dos Turcos (cerca de 56 milhões) são terroristas.
Excepto por um período de seis meses de "desmoronamento" quando a Turquia derrubou um caça russo Su-24 ao longo da sua fronteira com a Síria em Novembro de 2015, Erdoğan tem sido o "homem da OTAN" do presidente russo Vladimir Putin nos últimos vinte anos.
Agora que Erdoğan está a chantagear a OTAN porque os futuros membros em potencial Suécia e Finlândia estão a "apoiar terroristas curdos", vamos ver o que os seus amigos em Moscovo estão a fazer a esse respeito.
A organização militante curda que luta contra a Turquia desde 1984 é o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK na sua sigla curda. O PKK está na lista de organizações terroristas emitida pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos. A Turquia também está a lutar contra o YPG, acrónimo curdo para Unidades de Protecção do Povo, filho do PKK no norte da Síria. E a Rússia? A Rússia não reconhece nem o PKK nem o YPG como entidade terrorista. E tudo bem com Erdoğan.
De acordo com Michael A. Reynolds: "O nexo russo-curdo tem sido uma característica recorrente da geopolítica do Médio Oriente por mais de duzentos anos, desde que Catarina, a Grande, encomendou a publicação de uma gramática curda em 1787. O interesse de Catarina pelos Curdos não era puramente académico. As tribos curdas, oficiais czaristas reconhecidos, foram actores importantes ao longo das fronteiras do sul da Rússia. De 1804 em diante, os Curdos desempenharam papéis importantes nas guerras da Rússia com a Pérsia Qajar e a Turquia otomana. Com o passar do século, o exército russo fez uso crescente de unidades curdas para combater os Persas e Turcos."
Todo este esforço ecoa na actual Rússia de Putin. Em 2016, Erdoğan acusou a Rússia de fornecer armamento anti-aéreo e foguetes a militantes do PKK. Em 2020, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia condenou oficialmente a Rússia por convidar e manter conversas com uma delegação do YPG – um tratamento de tapete vermelho para os “terroristas” de Erdoğan. Mais recentemente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, reuniu-se com outra delegação do YPG em Moscovo em Novembro. Mais tratamento de tapete vermelho para os "terroristas" da Turquia.
Nenhum dos exemplos de apaziguamento russo dos "terroristas curdos" da Turquia é secreto. A Rússia tem abertamente feito tudo o que pode pelos seus amigos Curdos, com Erdoğan completamente em silêncio. Agora, o mesmo Erdoğan está a chantagear a OTAN ao vetar a adesão de dois países da Europa Ocidental, alegando que estes países, ameaçados pela Rússia, estão a apoiar terroristas curdos.
A aliança militar ocidental deve ser forte o suficiente para dizer a Erdoğan o que ele precisa de ouvir.
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Burak Bekdil, um dos principais jornalistas da Turquia, foi recentemente demitido do jornal mais conhecido do país após 29 anos, por escrever no Gatestone o que está a acontecer na Turquia. Ele é membro do Fórum do Médio Oriente.

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Fonte: https://www.gatestoneinstitute.org/18541/erdogan-nato-blackmail

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Nestas, e noutras, a Turquia de Erdogan continua a ser visceral e rigorosamente incompatível com toda e qualquer união de Europeus, incluindo, como agora se vê, a OTAN.