Teodósio I foi um dos imperadores cristãos que mais perseguiu o Paganismo. Tendo começado por aparentar alguma tolerância para com os pagãos, de 379 a 381, rapidamente - a partir de 381, precisamente - aumentou sobre eles a repressão. Autorizou ou pelo menos permitiu a destruição do Serapeum - templo de Serápis em Alexandria - no ano de 391, um dos actos de vandalismo religioso mais famosos e marcantes da Antiguidade, inclusivamente porque levou à destruição da maior biblioteca do mundo conhecido, aí localizada. Quando em 392 tomou posse da parte ocidental do Império Romano, a sua tendência para a intolerância veio a manifestar-se com clareza maior ainda do que anteriormente, deparando-se o imperador com áreas ainda maioritariamente pagãs como a Ibéria, a Gália e o norte de Itália.
A 8 de Novembro de 392 promulgou a seguinte legislação contra o culto pagão, detalhando a proibição, conforme a seguir se lê:
«Que ninguém, de qualquer género, ordem, classe ou posição social ou função honorária, seja de nascimento nobre ou condição humilde, em nenhum lugar por mais longe que seja, em nenhuma cidade, construa simulacros de esculturas sem sensações ou ofereça (qualquer) vítima inocente (aos Deuses) ou queime secretamente um sacrifício aos Lares, aos Génios, aos Penates, acenda fogueiras, ofereça incensos, afixe coroas (a esses ídolos). Pois, se se souber que alguém sacrificou uma vítima em sacrifício ou consultou as suas entranhas, é acusado do crime de Lesa Majestade e sofre a sentença correspondente, mesmo que não tenha procurado nada contra o princípio da salvação (Deus) ou contra (a sua) salvação. É suficiente, de facto, para acusação criminal que o desejar opor-se à mesma lei, adoptar acções ilícitas, manifestar coisas ocultas, tentar fazer coisas proibidas, procurar uma salvação diferente (da cristã), prometer uma esperança diferente.
Se alguém então venerou obras mortais e simulacros do mundo com incenso e exemplo ridículo, também adora Aqueles a quem representa, ou coroou árvores com faixas, ou altares erguidos com caroços escavados em imagens vãs, mais humildemente é possível uma multa: tentou ferir a religião plena (cristã), é culpado de religião violada. É multado em bens domésticos ou em posse, tendo-se tornado um servo da superstição pagã. Todos os locais onde foram oferecidos sacrifícios de incenso, se comprovados, estão associados ao nosso imposto. Se, então, em templos e locais de culto público ou em prédios rurais, alguém tenta sacrificar aos Génios, se o proprietário não está ciente disso, 25 libras de ouro fino pretendem infligir (ao sacrificador), então é bom ser indulgente com ele (o mestre) e vale a pena reter.
Desde então, queremos preservar a integridade dos juízes ou defensores e funcionários das várias cidades, os que foram descobertos (negligentes) são imediatamente denunciados, os que são acusados são punidos. Se, de facto, acredita-se que sejam favores ocultos ou negligência, eles estarão sob julgamento. Aqueles que então se absolverem (acusados de idolatria) com ficção, serão multados em 30 libras de ouro, também sujeitos às obrigações decorrentes de seu comportamento prejudicial semelhante.»
Tradução possível, algo abandalhada e a partir do Italiano, do Códice Teodosiano XVI.10.12
Em Latim pode ser lido aqui: http://ancientrome.ru/ius/library/codex/theod/liber16.htm#10
Tudo isto faz parte de um passado que está cada vez mais longe mas contribui para explicar porque é que o mundo ocidental actual é como é: primeiro, porque mostra como se fez a cristianização da Europa - não foi, como pretende hoje a versão politicamente correcta da historiografia cristã, porque as pessoas se tenham fartado das religiões pagãs mas sim porque o poder político-militar proibiu, rigorosa, regular e consecutivamente, o culto aos Deuses Nacionais, algo que não aconteceu em todas as outras áreas do mundo porque faltou à Cristandade a capacidade bélica para alcançar tal anelo, daí que a Índia, a China e o Japão tenham escapado à conversão cristã.
O episódio histórico serve também para perceber como é a raiz do totalitarismo em si no contexto europeu - apesar do advento ou retorno da Liberdade, característica típica do Ocidente desde tempos imemoriais, muito anteriores à Cristandade, persiste todavia um fundo de moralismo dogmático proibitório de cunho universalista que na sua forma cristã soçobra de dia para dia mas que se fortifica no seio da elite reinante em forma de universalismo laico militante.
Ontem, como hoje, é no seio das massas populares menos alcançadas pela propaganda da elite reinante que perdura, e se fortalece, uma corrente de apego e salvaguarda da identidade étnica - outrora com as reacções pagãs locais, hoje com o crescimento do Nacionalismo europeu.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home