domingo, janeiro 24, 2021

«ANALISTAS» ÀS VOLTAS COM A ASCENSÃO DA ULTRA-DIREITA...

É sempre engraçado ouvir os analistas do sistema e os que em geral têm voz na comunicação social «mainstream» a tentarem explicar o sucesso da Ultra-Direita: ou foi culpa do BE, ou do Rui Rio, ou não sei de quê, ou do clima, ou, afinal, do primeiro-ministro...

Não.

A Ultra-Direita é um fenómeno universal em todo o Ocidente, de uma maneira ou doutra; escusam os opinadores mediáticos do costume de arranjar pretextos para não reconhecerem o óbvio: a Democracia constitui aliada natural da Ultra-Direita, porque a mensagem deste sector político é pôr a sua própria gente - Povo, Nação, Raça - em primeiro lugar, e não há nada no seio de qualquer grupo humano que seja mais apelativo do que dizer «Nós estamos em primeiro lugar».

O único motivo pelo qual só agora um partido desta índole alcança os resultados que alcança, não é «inexplicável» nem é «azar» nem resultado de alguma trica política imaginada pelos observadores que vivem nos seus confortáveis nichos bem-pensantes das classes sociais elevadas e ignoram as reais necessidades do povo - é, tão somente, uma questão de meios, de dinheiro, de visibilidade mediática.

Só isso, exclusivamente isso, nada mais que isso.

O PNR, agora Ergue-te, já existe há vinte anos - desde Abril de 2000 - mas, não tendo meios financeiros para se divulgar, e sendo activamente boicotado por «jornalistas», permaneceu quase desconhecido; Ventura, pelo contrário, estava num dos maiores partidos do país, deu nas vistas pelo que disse sobre os Ciganos e era sobejamente conhecido por na televisão defender o maior clube nacional - só este último vector de divulgação já lhe deu mais visibilidade do que o PNR/Ergue-te conseguiu alcançar em vinte anos de trabalhosa mas quase ignorada existência. Depois, foi o que se sabe: nas legislativas passadas, o Chega teve um orçamento de 150000 euros; o orçamento do PNR até foi parecido, mas com menos dois zeros, ou seja, 1500 euros. Não é o mesmo campeonato, por assim dizer, além de que, no capitalismo, quanto mais se tem, mais se recebe, e então acabam por chover os apoios ao Chega.

A ascensão do Chega é portanto uma vitória amarga do PNR/Ergue-te: vitória amarga mas vitória moral. O uso do termo «vitória moral» está fora de moda desde que, há uns anos, as selecções nacionais de futebol o aplicaram à saciedade depois de alcançarem resultados decepcionantes, ficou então «toda a gente» farta das vitórias morais, mas a expressão pode e deve aplicar-se aqui - porque o Chega está simplesmente a ter agora o sucesso que o PNR teria tido há anos se ao menos tivesse dinheiro, e só não teve dinheiro porque o sistema tem leis de financiamento partidário que convêm aos poderes instituídos: só tem sucesso quem tem dinheiro, e só tem dinheiro quem os possuidores do dinheiro querem que tenha dinheiro. Por isso é que os partidos vão a eleições com tão grandes discrepâncias de financiamento, porque só os que obedecem a quem tem dinheiro é que podem singrar.

1 Comments:

Anonymous Sinais do Tempo said...

https://www.dn.pt/politica/sabemos-que-sao-fascistas-agora-que-votaram-ventura-13276703.html

27 de janeiro de 2021 às 22:57:00 WET  

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