Crouga
é provavelmente uma Divindade adorada pelos Lusitanos há cerca de dois
mil anos na área de Viseu e também na Galiza. O Seu nome parece provir
do termo proto-celta *krowkā-. Pode eventualmente ser equivalente ao
irlandês Crom Cruaich, Deus a Quem eram sacrificados os primogénitos de cada clã e Cujo nome parece significar algo como
«Cabeça Curva», e Cujo equivalente galês seria Pen Crug. Na inscrição
lusitana de Lamas de Moledo, parece ler-se que a Crouga Magareaicus é
sacrificado um ovídeo jovem, o que lembra o facto de a Crom Cruaich serem sacrificados os primogénitos de cada clã,
crianças nalguns casos. Ambos os teónimos (nomes de Deuses) podem estar
ligados ao vocábulo «Craic» que designa «Pedra» em Irlandês.
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Inscrição de Lamas de Moledo, na qual se pode ler «Crouga Magareaicus» |
Quanto ao Coco ou Coca, diz a Wikipedia o seguinte (apenas o texto a itálico é da Wikipedia):
A
coca é um ser mítico, uma espécie de fantasma, bruxa ou bicho-papão com
que se assustam meninos. Embora não tenha uma aparência definida, este
ser assustador tinha uma representação figurada, a sua cabeça era uma
espécie de abóbora ou cabaça da qual saía luz (ou fogo). A representação
da coca era feita com uma panela ou abóbora oca em que se faziam três
ou quatro buracos, imitando olhos, nariz e boca, e em que se colocava
uma luz dentro e deixava-se, durante a noite, num lugar bem escuro para
assustar crianças e pessoas que passavam.
A
coca é um ser feminino, o equivalente masculino é o coco embora ambos
acabem por ser dois aspectos do mesmo ser, e confundem-se um com o outro
na sua representação e no seu papel de assustar meninos; como nenhum
destes seres tem uma forma definida toma-se um pelo outro.
O
mito do Coco teve origem em Portugal e na Galiza. Segundo o dicionário
da Real Academia Espanhola[2] , “el coco” (também chamado de “el cuco”
na América Latina) teve origem no fantasma português: “(Del port. côco,
fantasma que lleva una calabaza vacía, a modo de cabeza). Fantasma con
que se mete miedo a los niños”. A palavra coco é usada em linguagem
coloquial para significar a cabeça humana em português e espanhol.[4]
Coco também significa crânio. A palavra "cocuruto" em português
significa a coroa da cabeça e o lugar mais alto. "Gogo" em basco
significa espírito. Na Galiza "crouca" significa cabeça, deriva do
proto-celta *krowkā-, e tem a variante "croca"; e quer coco ou coca
também significam cabeça. São cognatos o córnico "crogen" que significa
crânio, o bretão "krogen ar penn" que significa crânio, e o irlandês
"clocan" que também significa crânio.
Na
mitologia Calaico-Lusitana Crouga (do proto-celta *krowkā-) é o nome de
uma divindade ainda com contornos obscuros,[19] [20] a quem são feitas
oferendas, no entanto na inscrição de Ginzo de Limia é a Crouga que é
oferecida.
(...)
O Coco come crianças, tal como o irlandês Crom Cruaich:
O
nome do coco é usado frequentemente como aviso de um mal iminente nos
países de língua castelhana, tal como acontecia em Portugal, quando as
crianças desobedecem a seus pais, não querem dormir, não querem comer,
ou para as dissuadir de ir para lugares perigosos e de se afastarem de
casa. Não é o aspecto do coco mas o que ele faz que assusta a maioria
das crianças. O coco é um comedor de criança (um papa-meninos) e um
sequestrador. Ele imediatamente devora a criança e não deixa rastro dela
ou leva a criança para um lugar sem volta.
Mas
ele só faz isso às crianças desobedientes.[29] A coca fica a vigiar as
crianças mal comportadas do topo do telhado (fica à coca). O coco toma a
forma de qualquer sombra escura e fica também de guarda. Eles são
atraídos pela desobediência de uma criança. Ambos representam o oposto
do anjo da guarda e são frequentemente comparados ao diabo. Há ainda
quem veja o coco como a representação dos defuntos da comunidade local.
No
Minho a máscara que se faz com a casca de uma abóbora é chamada de
coco[32] . Na antiga Beira Alta era costume os rapazes levarem espetada
num pau, como símbolo das almas do outro mundo, uma abóbora esculpida em
forma de cara, com uma vela acesa dentro, lembrando uma caveira.
Segundo
Rafael Loureiro, a tradição de esculpir abóboras com rostos é uma
tradição milenar na Península Ibérica que remonta ao tempo dos
celtiberos[34] , um costume parecido ao que Diodoro Sículo atribuía aos
guerreiros Iberos na batalha de Selinunte em 469 a.C., que penduravam
nas lanças as cabeças dos inimigos.
"O
costume outonal e infantil de esvaziar abóboras e talhar na sua casca
olhos, nariz e boca buscando uma expressão tétrica, longe de ser uma
tradição importada por um recente mimetismo cultural americanizante, é
um rasgo cultural antiquíssimo na Península Ibérica" ~ Rafael Loureiro
Esta tradição estaria ainda relacionada com o culto celta das "cabeças cortadas" na península Ibérica.
Nas Décadas da Ásia (1563), João de Barros descreve como o nome do coco (fruto), teve origem nesta tradição:
“Esta
casca per onde aquelle pomo recebe o nutrimento vegetal, que he pelo
pé, tem uma maneira aguda, que quer semelhar o nariz posto entre dous
olhos redondos, per onde elle lança os grellos, quando quer nascer: por
razão da qual figura, sem ser figura , os nossos lhe chamaram coco, nome
imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo ás
crianças, o qual nome assi lhe ficou, que ninguem lhe sabe outro, [...]”
Rafael
Bluteau, no primeiro dicionário da língua portuguesa o Vocabulario
Portuguez e Latino (1712) define o coco e a coca como caveiras:
“O
Coco ou a Coca. Usamos destas palavras, para pôr medo aos meninos,
porque a segunda casca do Coco tem na sua superfície três buracos com
feição de caveira.“
Na
primeira metade do século XX a coca era parte integrante de festejos
como o do Dia de Finados ou o peditório ritual do Pão-por-Deus. O
Pão-por-Deus, já mencionado no século XV, é um peditório ritual feito
por crianças, embora antigamente participassem também os pobres, feito
com o fim de partilhar o pão ou guloseimas com as alminhas queridas, os
defuntos da comunidade, que eram aguardados ansiosamente e chegavam de
noite em forma de borboletas ou pequenos animais. Conforme a região,
este peditório assume diferentes nomes: santoro ou santorinho,[45] dia
dos bolinhos, fieis de Deus, já na Galiza o peditório tem o nome de
migalho (migallo).
"Nesta
mesma cidade de Coimbra, onde hoje nos encontramos, é costume andarem
grupos de crianças pelas ruas, nos dias 31 de Outubro e 1 e 2 de
Novembro, ao cair da noite, com uma abóbora oca e com buracos recortados
a fazer de olhos, nariz e boca, como se fosse uma caveira, e com um
coto de vela aceso por dentro, para lhe dar um ar mais macabro."
"Em
Coimbra o peditório menciona «Bolinhos, bolinhós», e o grupo traz uma
abóbora esvaziada com dois buracos a figurarem os olhos de um personagem
e uma vela acesa dentro[...]outro exemplo da utilização da abóbora ou
cabaço como figuração humana, nas máscaras dos embuçados das esfolhadas
de Santo Tirso de Prazins (Guimaräes), que depois, estes passeiam,
alçadas num pau e com uma vela dentro, e deixam espetados em qualquer
sitio mais ermo, para meterem medo a quem passa."
(...)
"Em
Landim (Famalicão) fingia-se, para amedrontar a gente das esfolhadas,
um rosto humano com um cabaço ôco onde se metia uma vela a arder. A
seguir espetava-se o cabaço num espeque, e deixava-se num ponto de
passagem."
Na
Galiza começava-se a talhar as cabaças com cara de caveiras perto do
dia de São Miguel (21 de Setembro), e continuava-se pelo outono dentro.
Toda a estação do outono era tempo de fazer caveiras com as cabaças.
As
cabeças teriam poderes protectores, protegiam as pessoas ou
comunidades. Teriam também poderes divinatórios ou proféticos e de cura.
Os locais de exibição das cabeças cortadas, da Idade do Ferro,
situavam-se dentro e fora dos edifícios, notando-se uma preferência por
locais públicos, de trânsito e locais altos acima do nível de circulação
das pessoas (ruas, varandas ou entradas de edifícios, paredes e
pilares), sempre com uma preferencia pelos locais mais visíveis.
A
representação da coca, com uma abóbora iluminada, faz parte do
património imaterial galego-português . Na Galiza é tema na festa das
caliveras, ou samaín[63] , e assume vários nomes: calacús, caveiras de
melón, calabazotes, colondros etc.
Os
rituais em torno da Nossa Senhora da Cabeça, em Portugal, incluem a
oferta de ex-votos com a forma de cabeças de cera, rezar a Avé Maria com
uma estátua da Nossa Senhora em cima da cabeça, e rezar com a cabeça
dentro de um buraco aberto na parede da capela.
A
capela de Nossa Senhora das Cabeças localizada a 50 m NW das ruínas do
templo romano de Nossa Senhora das Cabeças (Orjais, Covilhã) evidencia
uma continuidade no uso de um espaço sagrado que passou de uma área de
culto pagão para a de um culto cristão e que continuou a ser um local
culto nos séculos seguintes até ao dia de hoje. De acordo com Pedro
Carvalho os achados pré-romanos e a localização invulgar das ruínas
romanas dentro das muralhas de um castro do século VIII a.c. sugerem a
possibilidade de o local ter sido inicialmente de um culto pré-romano.
Em Mileu, a capela de nossa Senhora das Cabeças tem cabeças humanas, uma
cabeça com gorro, e cabeças de lobo como motivos decorativos. Na aldeia
de Ponte, freguesia de Mouçós, num monte que dá para o Rio Corgo, há
uma capelinha chamada de Santo Cabeço que a lenda diz ter sido
construída pelos Mouros. Na parede voltada para o sul tem uma cavidade
redonda onde os Mouros metiam a cabeça para ouvir o mar. O povo local
tem também o costume de colocar a cabeça no buraco: uns para ouvirem o
sussurro semelhante ao das ondas, outros para aliviarem as dores de
cabeça.
Prudêncio e Martinho de Braga afirmavam que os habitantes da Hispânia veneravam pedras e árvores sagradas.
Para
além das tradicionais abóboras, fazem-se as lanternas com buracos a
figurarem um rosto com panelas velhas furadas, com melões, e com caixas
de sapato.
(...)
Coca
é o nome que se dava à capa ou traje com um capuz que cobria o rosto.
Era também o nome do vestido de noiva, tradicionalmente de cor preta,
com capuz, que ainda se usava no início do século XX. Camilo Castelo
Branco relembrava com saudade o poder sedutor da coca:
"Ai!
Eu ainda conheci mulheres formosas de mantilha. A graça com que elas a
apanhavam e refegavam na cintura! Como as nalgas se relevavam redondas
debaixo do lapim! E o bamboar dos cabelos anelados sob o docel negro e
arqueado da côca...";
(...)
Nas
Viagens do Barão de Rozmital, de 1465 a 1467, encontram-se algumas
referências ás tradições fúnebres da época: "...os parentes do morto
acompanham o funeral vestidos de roupas brancas próprias dos enterros
com capuzes à maneira dos monges, com o qual vestuário se vestem de um
modo admirável. Aquelles porém, que são assalariados para carpirem o
defuncto vão vestidos com roupa preta, e fazem um pranto como o
d'aquelles que entre nós pulam de contentes ou estão alegres por terem
bebido."
Em
Portimão nas celebrações da Semana Santa, durante a “procissão dos
Passos", organizada pela Misericórdia, o arauto, um homem vestido de
negro com uma capa e um capuz, que tinha três buracos correspondentes
aos olhos e boca, a cobrir a sua cara, que liderava a procissão e
anunciava a morte de Cristo, era chamado quer de coca, farnicoco,
(farricunco, farricoco do Latim far, farris e coco) ou morte. Dava-se o
nome de coca quer à capa quer ao homem que a vestia.
(...)
“Vai-te coca vai-te coca
Para cima do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.”
(...)
Recomenda-se vivamente a leitura do artigo completo,https://pt.wikipedia.org/wiki/Coca_(folclore),
visto tratar-se de um tesouro ímpar do folclore português,
indevidamente desconhecido e particularmente importante para os pagãos
nacionais, por motivos óbvios.