terça-feira, dezembro 04, 2018

CONAN DA CIMÉRIA, CRISTALIZAÇÃO POP DO ROMANTISMO


Dezembro de 1932 - estreia-se, na literatura «pulp», o sombrio Conan da Ciméria, personagem pertencente ao género «Espada e Feitiçaria», criado pelo norte-americano Robert Ervin Howard. Conan é um típico produto do Romantismo literário: um homem do bárbaro e álgido norte a viver como mercenário, salteador, soldado, e, futuramente, rei, em contextos civilizacionais de cariz marcadamente meridional e também oriental, aqui caracterizados por uma sofisticação decadente, sensual e entorpecedora, dominada por líderes e feiticeiros ardilosos, abissalmente corruptos. No mundo imaginário criado por Howard, que teria existido antes do actual, a Ciméria, terra natal de Conan, é, ao fim ao cabo, o espaço céltico, ou, digamos, proto-céltico, antepassado mítico dos Celtas da Irlanda e da Escócia. Com efeito, «Conan» é bem um nome céltico irlandês, como é céltica irlandesa a maior parte dos Deuses que Conan invoca: Crom (Cruaich), Morrigan, Macha, Nemain, Manannan Mac Lir, etc.. Note-se que esta alegada ascendência ciméria dos Celtas não é uma invenção tirada do nada: os Cimérios da história real eram um Povo do norte do Mar Negro, sombrio, parentes étnicos dos Citas e dos Alanos - e, efectivamente, na mitologia irlandesa os ancestrais míticos dos Irlandeses, os Filhos de Mil, arribaram à Irlanda a partir da Hispânia mas têm a sua origem na Cítia...
No final dos anos sessenta chegou à banda desenhada; nos oitenta, ao cinema; actualmente tem menos popularidade do que teve quando nos anos oitenta se celebrizou nos dois filmes em que o bestial, algo abestelhado Arnold Schwarzenegger o interpretou; em contrapartida, o mais recente filme de Conan, datado de há poucos anos, ficou muito aquém do que se esperava, inclusivamente por ter posto um meio havaiano a interpretar o papel de um europeu setentrional... Conan é, essencialmente, isto mesmo: um setentrional europeu em contraste permanente com a civilização decadente do sul/oriente.