terça-feira, maio 09, 2017

PAN CRITICA OS CAÇADORES

Este domingo decorreu em Santarém o 25.º Encontro Nacional de Caçadores, onde marcou presença o baronato da indústria da caça.
O sector da caça já não existe, este deu lugar a um poderoso e influente Sector do Negócio da Caça que conta com muitas pessoas ligadas aos principais partidos políticos.
Cada vez há menos caçadores, cada vez há mais chacinadores. Aqueles que outrora baseavam a sua prática nos valores venatórios e éticos tradicionais, são cada vez em menor número. A caça, nos dias que correm, mais não passa de uma indústria de reservas e coutadas, que envolve muito dinheiro, daí as reacções violentas do sector, protagonizadas por alguns que se julgam senadores e consideram que o sector é intocável. Mas não é.
Muitos dos que se afirmam caçadores dizem-se também defensores do mundo rural e das tradições ancestrais. A prática “sustentável e saudável” de muitos consiste em levantarem-se nas madrugadas de domingo, percorrerem centenas de quilómetros até uma qualquer zona privada, meter chumbo em tudo o que mexe, incluindo tantas vezes animais que foram criados em cativeiro e, no final, tirar umas fotos junto da chacina e comer um almoço típico do interior rural: um arroz de marisco, por exemplo, como se pode ler nas descrições de sites e blogs de monteiros, matilheiros e outros "amantes dos animais". A tudo isto designam de sadio convívio, defesa da biodiversidade cinegética e dos valores do mundo rural.
Mas alguém acredita que quem paga para abater animais (muitos de aviário) o faz para preservar a biodiversidade ou o mundo rural?!? Assumam que gostam de se divertir desta forma. Assumam que os animais não têm valor intrínseco. Assumam que os animais só têm valor se foram de uma espécie cinegética, e claro, apenas na medida em que servem para serem caçados. Não que por dizerem a verdade ficarão os cidadãos mais sensível à questão, mas seriam mais honestos e respeitados.
Quando confrontados com as críticas que os portugueses fazem ao Sector da Indústria da Caça (repito, já não existe sector da caça), nunca debatem ideias, tão só e apenas lançam ataques pessoais ou proferem ladainhas repetidas à exaustão que todos já conhecem: que o PAN não percebe nada de agricultura, que o PAN não percebe nada de natureza, que o PAN não percebe nada de caça e que o PAN quer destruir o mundo rural. Sim, já todos conhecemos essa conversa, mas... e ideias? E assumir por uma vez, uma vezinha apenas, um qualquer aspecto que esteja errado no Sector da Indústria da Caça?
Isso nunca acontece, apenas e sempre a mesma e contínua negação acrítica de que há caça excessiva, que é preciso uma moratória às espécies exauridas, dos muitos iscos com veneno que são colocados na natureza, de que a caça à paulada ou com matilhas é de um tempo medieval que já passou, de que são muitos os casos de cães de matilha maltratados, abandonados ou abatidos pelos que dizem caçadores, de que não há um rigoroso controlo sanitário da carne de caça. Apenas e sempre a mesma resposta: negação acérrima e violência verbal. Este é o problema do Sector da Indústria da Caça, bem como de todos os sectores que envolvem a exploração de animais, que não condenam quem prevarica, que, com o seu silêncio, são coniventes com as piores práticas. Todos os dias perdem credibilidade por isso. Sim, é este baronato o principal inimigo dos caçadores.
Neste Encontro que ocorreu ontem, numa sala onde era patente a falta de renovação de ar, uma novidade: o Sr. Ministro da Agricultura, apoiante do Sector do Negócio da Caça, declarou-se também ele “contra a caça selvagem, sem ética e sem regras”.
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Fonte: http://ptjornal.com/deputado-do-pan-tece-duras-criticas-aos-cacadores-nas-redes-sociais-165273